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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

NICOLAU TINHA UMA FLAUTA

 
Depois do advento do senhor Pinto de Sousa foi-se gerando no espírito de cada um a sensação, ou a certeza, de que poucas notícias podem já causar espanto. Todos os dias, os jornais se fazem eco das coisas mais inacreditáveis. O que é verdade hoje é mentira amanhã, o que se julgaria impossível, afinal acontece.
 
Apesar disso,  continua a haver coisas que nos põem de boca aberta.
O suplemento de economia do “Expresso”, magistralmente dirigido pelo inacreditável senhor Nicolau Santos, apresentou ontem, como manchete, os milhões que os portugueses enviam para paraísos fiscais. Até aqui, tudo bem. Os paraísos fiscais existem, goste-se ou não são legais, a liberdade de circulação de capitais, felizmente, também o é.
 
Sensacional, no entanto, é o facto, a acreditar no “Expresso”, de o governo do senhor Pinto de Sousa também andar a pôr uns trocos nos paraísos fiscais. Gente que passa a vida a criticar os “criminosos fiscais” que põem o deles a salvo, acaba por ser apanhada com a boca na botija. Interrogada sobre o assunto, segundo o “Expresso”, tal gente diz coisa nenhuma, o que, como é óbvio, confirma a notícia.
 
A coisa encerra outros motivos de preocupação, desta vez não por causa do caroço “fugitivo”, mas pela forma como a é apresentada.
Vejamos.
Rezam as manchetes que “mais de um terço” dos alegados 23,7 mil milhões de dólares em fuga foi “investido por particulares” portugueses. O jornal põe a negro particulares, evidentemente por considerar que, se fosse por entidades públicas, bancos ou quejandos, não teria importância nenhuma. Um favorzinho subliminar ao senhor Pinto de Sousa.
Depois, o suplemento afirma que a verba investida é dez vezes superior à que era em 1997. Não se sabe por que carga de água o distinto jornal foi buscar o ano de 1997 para encontrar um termo de comparação. Mais uma vez, um favorzinho encapotado. É que a escolha de tal ano só pode servir para disfarçar que o exponencial aumento de exportações se deu durante o consulado do senhor Pinto de Sousa, e é uma evidente e directa consequência da política socialista que arruína o país.
A notícia tem outros contornos altamente suspeitos. O “Expresso” faz a conversão dos vinte e três mil e setecento milhões de dólares para euros, e chega à brilhante conclusão de que tal soma equivale a 14 mil milhões, ou seja, põe o euro a valer 1,7 dólares, a “câmbios actuais”. Não se sabe se se trata, realmente, de câmbios actuais, ou se  quem lhe deu tal taxa de câmbio foi alguma bruxa que o senhor Nicolau Santos consultou sobre o futuro do dólar .
A coisa prossegue. Para o senhor Nicolau Santos, os 6,3 mil milhões de euros que os “particulares” puseram off shore equivalem a 10 mil milhões de dólares, o que faz o câmbio descer, de um parágrafo para outro, de 1,7 para 1,58 dólares por euro, ou seja, numa coluna de jornal, o dólar valoriza-se 7,59 por cento!
Demos de barato o facto de o senhor Nicolau Santos achar que 6,3 é “mais de um terço”, quando é quase metade de 14, uma vez que qualquer máquina de calcular, ao dividir 14 por 6,3, encontra 2,33…
Continuando a esta pequena análise, tropeçamos outra vez em favores. Diz o “Expresso” que o caroço em causa seria “praticamente suficiente para pagar o projecto de alta velocidade”. O que serve para enviar aos portugueses a mensagem de que, se o senhor Pinto de Sousa está à rasca para financiar o projecto, a culpa é dos “particulares” que puseram o taco nas ilhas… Notável, não é?
Mas a notícia vai muito mais longe. O senhor Nicolau Santos informa o povo que o FMI diz que há, nas ilhas Caimão - “destino preferido dos portugueses” - 16,4 mil milhões de dólares depositados, ou seja, segundo o senhor Nicolau Santos, 10 mil milhões de euros. Como por encanto, o câmbio passa para 1,64 dólares por euro. Por outro lado, esta informação do FMI equivale a dizer, se a compararmos com os números do “Expresso”, que só os portugueses têm mais dinheiro off shore que a totalidade dos depósitos existentes nas ilhas Caimão!!! Grandes portugueses! Nobre povo!
Somados os diversos investimentos que o “Expresso” diz que os portugueses têm nos paraísos fiscais listados (9, dos 80 existentes), encontramos a verba de 24.035 milhões de dólares, o que pode ser, em euros, o que o senhor Nicolau Santos quiser, uma vez que os câmbios que utiliza são “flutuantes”. Não se compreende, porém, é como é que a soma dos investimentos, feita pelo “Expresso”, dá, com apurada precisão, 23.700 milhões. Uma irrisória diferença de 335 milhões de dólares… E ainda: se os 23,7 mil milhões se referem a 9 paraísos fiscais, dará o “Expresso” de barato os outros 71?
Para chegar aos tais 23,7 mil milhões (que deveriam ser 24.035, segundo a máquina de calcular…) serve-se o “Expresso” das contas nas seguintes off shores: Caimão (16.000 milhões), Jersey (5.100 milhões), Ilhas Virgens Britânicas (1.356 milhões), Antilhas Holandesas (540 milhões), Guernsey (287 milhões), (Gibraltar 290 milhões), Bahamas (210 milhões), Bermudas (162 milhões), e Chipre (90 milhões). Exclui, como já disse, as outras. Mas, ó maravilha, não conta o “Expresso” com a zona franca da Madeira, “através da qual saem 27% das aplicações da banca no exterior” (?).
Os números do “Expresso” fazem inveja à taxa de insucesso escolar em matemática. Melhor dizendo, em mera aritmética.
 
Não vale a pena prosseguir. A não ser para tentar tirar conclusões políticas desta inenarrável pessegada. Para o Irritado, tudo isto não passa de (mais) um “recado”, coisa em que o “Expresso” em geral e o senhor Nicolau Santos em particular são peritos. Assim: as finanças devem estar a preparar-se para uma investida em força sobre os dinheiros em off shores. Daí que seja preciso incutir na opinião pública um ódio visceral, profundo, à coisa. Nem que para isso seja preciso ocupar primeiras páginas, repetir manchetes, manipular números e informações, atirar inexactidões à cara das pessoas, como se isto tudo não passasse de um bando de idiotas. Se calhar, não passa mesmo.
 
António Borges de Carvalho

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