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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

HORRORES

1. Os políticos, e certos altos funcionários, são obrigados a declarar bens e rendimentos, seus movimentos e situações, ao Tribunal Constitucional. Os dados arquivados são públicos, estando à disposição dos cidadãos para consulta.
 
Reza a moral vigente que os atingidos por esta medida não devem ser objecto de privilégios especiais em virtude dos cargos que ocupam ou para que foram eleitos.
Sempre fui contra isto. Acho que o simples facto de se ser eleito, ou escolhido para certas posições é, de si, um legitimíssimo privilégio. Acho que, para o bom desempenho das respectivas funções, necessário é que a tais pessoas seja dada uma série de privilégios, quer dizer, de vantagens de que o comum dos cidadãos não disfruta. Com toda a justiça.
 
Recusar privilégios é uma coisa, que não aceito mas posso fazer um esforço por compreender. Atribuí-los pela negativa, que é o que a Lei faz, outra coisa é, e completamente diferente. Se o que se pretende é afastar pessoas da vida política e das responsabilidades públicas em geral, não há melhor solução do que fazê-las inferiores às demais, tornando-as a priori suspeitos das mais refinadas tropelias e pondo a sua vida pessoal à mercê de todo o bicho-careta.
Admitiria, não concordando, a obrigatoriedade das declarações, se elas ficassem à guarda do Tribunal. Poderiam ser usadas, para fins judiciais ou judiciários, e só para isso, quando suspeitas houvesse de malfeitorias praticadas por algum dos declarantes. Opinião pessoal, politicamente incorrecta e contra a moral vigente. Esqueça-se.
 
Demos, pois, de barato, que está certa a obrigatoriedade e a natureza pública das declarações, nada impedindo o cidadão comum que se interesse pela vida dos outros de consultar os processos relativos a cada um dos atingidos, mesmo que para tal não tenha outro motivo que o de mórbida curiosidade.
 
Quando um jornal, como o Diário de Notícias (eventuamente vítima da sua nova, e interina, direcção), escarrapacha, em brutais manchetes, nas primeiras páginas do caderno principal e do de economia, os negócos privados e pessoais do Governador e demais Administradores do Banco de Portugal, estamos perante o quê? Curiosidade mórbida? Repugnante comercialismo? Entorse aos mais elementares princípios de vida em sociedade? Inveja? Intenção de provocar inveja? Brutal falta de respeito pelas pessoas? “Frete”  feito a alguém?
A resposta é: de tudo um pouco, com certeza. A mais horrível miséria moral que imaginar se possa, vertida em letra de forma e dada a conhecer a toda a gente.
 
Mais horrível ainda é que tudo se passa na mais estrita legalidade. As declarações são públicas, podem utlizar-se como se quiser, como se fossem certidão de conservatória, escritura, registo, cartaz.
Não colhe o argumento de que “quem não deve não teme”. O facto de “não dever” é pressuposto que a todos se aplica, até prova em contrário. “Não dever” não implica, antes pelo contrário, que seja tornado público, muito menos comunicado a todos, o que cada um faz ou deixa de fazer ao que é seu.
A Lei é imoral, injusta, repugnante. A moral vigente é imoral, injusta, repugnante. Pior ainda é o Diário de Notícias quando faz o que fez.
 
 2. O “Expresso” de 17 de Fevereiro parangonava “PGR investiga Patrick Monteiro de Barros”.
Em 24 de Fevereiro, o director do suplemento de economia do mesmo jornal, um senhor que usa exibir-se de papillon, alegando “reacções” que considera inadequadas à coisa, vem fazer o panegírico da investigação jornalística em geral, e da que conduziu à citada manchete em particular.
 
O senhor Barros é suspeito de crime, única razão que justifica uma investigação da PGR. É o que a manchete diz. O demais escrito pode ser esclarecedor, mas é palha.
É claro que, da “explicação” produzida pelo senhor do papillon em 24.02, facilmente se pode concluir que o senhor Barros usou um relatório de um corrector para informar uma operação de bolsa. O que é, rigorosamente, o que todos os investidores fazem. Se tal relatório foi, ou não, motivado por informações ilegais, é coisa que se poderá investigar. Ou seja, o senhor Barros só será “culpado”, ou “suspeito”, se tiver sido ele a “encomendar” o relatório. Portanto, o primeiro “suspeito”, se o houver, é o corrector. O senhor Barros virá, se vier, a seguir.
O que o “Expresso” de 17.02 faz é lançar aos quatro ventos a suspeita sobre o senhor Barros. Por mero sensacionalismo, ou por razões que podem ter a ver com lutas intestinas e recados de investidores rivais? Não é voz corrente que o “Expresso” é, desde sempre, o melhor jornal de recados da nossa praça?
 
O efeito almejado, e conseguido, é lançar lama sobre o senhor Barros, lama de que se não livrará, uma vez que a manchete lá está, e de lá se não pode tirar.
Com que intenção? Bom, quanto a isso, o melhor é perguntar ao exibicioniosta do papillon.
 
António Borges de Carvalho

O TEXUGO TERRORISTA II

Há dias - não sei se se lembram - sob o título "O Texugo Terrorista", aqui deixei o que penso do senhor Al Gore e das suas ameaças e negócios.
Quanto às ameaças, o dr. Cutileiro vem informar-nos, no "Expresso" de 24.02, que o aumento de seis metros que, no parecer do fulano, se verificará no nível do mar nos anos mais próximos, se situará, segundo os cientistas do Painel Inter-Governamental para as Mudanças Climáticas, entre os 38 e os 59 centímetros no final do séulo XXI.
Eu não dizia?
Quanto aos negócios, o mesmo jornal, num alarde de coerência, lança um concurso qualquer cujo prémio será um bilhete para a próxima conferência do reputado artista, no valor de € 1.200,00 - duzentos e quarenta contitos!!! - verba que esportulará cada um dos bem pensantes que for, sedento de horrores, ouvi-lo ejacular medos e ameaças.
Eu não dizia?
 
Um conselho de amigo: por quatro ou cinco euros vê-se o Rocky Balboa, que é muito mais interessante, muito mais verdadeiro e não ameaça ninguém.
 
António Borges de Carvalho 

CALINADAS

No programa que a distinta RTP 1, generosamente, dedica à língua portuguesa, não raro é ouvir-se pontapés na gramática, alguns de descasca pessegueiro.
Não resisto a referir um, que me parece particularmente interessante.
O senhor Infante, pedante, impante de gramática sapiência, informou-nos sobre a existência de um provérbio que, na sua ilustre boca, reza assim:
As nádegas não prestam, o que prestam são as pernas. Gosto requintado, como vêm.
Assim. Nem mais nem menos: o que prestam são as pernas (!!!???!!!).
O homem o disse e o repetiu. A menina, lá por trás, o disse e o repetiu. É esta a qualidade linguística dos fulanos que são pagos (com o nosso dinheiro) para nos ensinar a falar e a escrever.
O "Concurso de Língua Portuguesa" do "Expresso" não anda muito longe disto. Não perde pela demora, mas fica para outro post.
 
António Borges de Carvalho

DO SUCESSO DO AUTORITARISMO

Rezam as crónicas que o Partido Socialista continua em alta, apesar dos socréfios desmandos.
 
Passados dois anos de voracidade fiscal e de ineficácia económica, a situação pode resumir-se mais ou menos como segue:
- Os impostos - quase todos - aumentaram, e não pouco;
- As prestações sociais baixaram;
- A cobertura nacional dos serviços de saúde encolheu;
- O investimento desce ininterruptamente;
- O consumo interno está nos seus piores dias;
- A construção em baixa está;
- A despeza do Estado aumentou;
- O défice das contas públicas subiu de 2,9% do PIB em 2004 (confirmado pelo Eurostat) para 4,6% (previsão do governo) em 2006;
- Os bancos pagam ao estrangeiro, em juros, 10% do PIB;
- O desemprego atingiu o seu valor mais elevado desde... 1986;
- A dívida do Estado subiu 6% de 2005 para 2006, situando-se perto dos 72% do PIB (€108.000.000.000);
- O "avanço tecnológico", objectivo de bandeira de Pinto de Sousa (Sócrates) e, mais tarde, de SEPIIIRPPDAACS, é dos mais baixos da Europa em geral, e o mais baixo da "velha" Europa;
- As exportações são, virtualmente, o único indicador positivo, mas têm por base o enriquecimento de terceiros, não o nosso.
 
Shortly: tudo o que do Governo depende se cifra em desgraça.
 
Acresce que, em campanha eleitoral, o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) tinha garantido, entre outras maravilhas:
- Que os impostos não subiriam;
- Que a protecção social melhoraria;
- Que o SNS proguediria;
- Que o investimento na economia aumentaria;
- Que o consumo interno, como motor e consequência do progresso económico, aumentaria;
- Que a construção... bem, a este respeito não sei se houve promessas (a OTA e o TGV não constavam, foram inventadas à posteriori para consumo dos papalvos);
- Que a despeza do Estado seria cortada;
- Que o défice das contas públicas diminuiria;
- Que o endividanento externo desceria;
- Que seriam criados cento e cinquenta mil postos de trabalho;
- Que o avanço tecnológico seria uma realidade.
 
Shortly: O Primeiro ministro aldrabou o eleitorado, consciente e propositadamente, para ganhar as eleições.
 
No entanto, apesar do brutal insucesso da sua política, apesar das mais que evidentes aldrabices, o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) e o PS continuam em alta.
 
Vale a pena pensar dois minutos a este respeito.
 
Nos últimos tempos, temos sido surpreendidos com os resultados dessoutra inenarrável aldrabice que é o concurso "O Melhor Português de Sempre".
À cabeça, dois políticos que se caracterizavam pelo autoritarismo.
De comum com Salazar e Cunhal, mas também com Cavaco (actual PIIIRP) e Sá Carneiro, Pinto de Sousa (Sócrates) tem a postura autoritária que agrada à Grei. Os portugueses, à esquerda e à direita, "amam" os que neles mandam, ou se propõem mandar, sem dar satisfações. Suponho ser esta a razão que leva às sondagens favoráveis ao PS e ao seu chefe. A mesma que põe Salazar e Cunhal no topo do estúpido concurso.
É evidente que há diferenças abissais entre os políticos acima elencados. Antes de mais, há os que são autoritários porque têm autoridade, como Sá Carneiro, e os que têm autoridade porque usam autoritariamente o poder de que dispõem, como Cunhal ou Pinto de Sousa (Sócrates). Há os que exercem autoridade porque gozam legitimidade política, como Pinto de Sousa (Sócrates) - não quer dizer que tenham legitimidade moral para a exercer como a exercem ou para enganar as pessoas - e há os que a exercem sem preocupações de legitimidade, como Salazar.
Todos, porém, de uma forma ou de outra, gozam da admiração dos portugueses. Pinto de Sousa está em alta nas sondagens porque não dá satisfações, porque mantem os seus ministros como o pastor mantem as ovelhas, ou seja, em boa ordem e ao empurrão. A malta prefere quem mande, mesmo que mande mal.
O problema não será dos portugueses tout court, uma vez que uma informal mas generalizada "conspiração informativa" os mantem desinformados. Pinto de Sousa (Sócrates) caíu no goto da "informação" mas não lhe fez tosse. A "informação" não o denuncia, não o critica, não o persegue, faça ele o que fizer. A "informação" percebeu que o fulano tinha condições para ficar, por isso intui que o melhor é calar.
Assim, em parte porque é sua tendência, em parte porque é para tal empurrada, um larga maioria de portugueses acaba por adoptar a posição do "quanto mais me bates mais gosto de ti". Masoquismo fadista, ausência de sentido crítico, fatalismo congénito? Sei lá.
 
A política socréfia, ao contrário do que por aí se propagandeia, é claramente uma política socialista, no caso socialista de esquerda. Política em que as prioridades são elencadas segundo os interesses de uma entidade colossal com a qual o diálogo é difícil, ou impossível - o Estado, e não segundo os interesses de cada um dos que deveriam ser objecto da política - os cidadãos. Política cujo objectivo não é libertar, mas submeter. Política em que os sacrifícios de todos não são feitos em favor do futuro de cada um, mas se subordinam à estabilidade e ao "sucesso" da superestrutura estatal, única sede em que a esquerda se sente bem.
 
E, no entanto, o "povo" que não é de esquerda, liderado por chefes políticos sem garra, sem ideias e sem autoridade, e "informado" por uma subservientíssima "comunicação social", é levado, e aceita, a asserção de que Pinto de Sousa (Sócrates) está a governar "à direita". Nada mais falso, nada mais enganador.
Pinto de Sousa (Sócrates) comanda o governo mais esquerdóide que Portugal conheceu desde o 25 de Novembro de 1975. Os chefes (chefinhos) da direita deixam correr a falácia que consiste em acreditar que os esquerdóides socraticóides estão a tomar as medidas que eles gostariam de tomar. Sem uma palavra, sem um grito de indignação, sem uma clara denúncia. Ora bolas.
 
Tempos virão depois destes tempos, dizem os que, como eu, não querem desesperar, mas que não têm outra coisa a que se agarrar senão à esperança de que o tempo trate do assunto.
 
António Borges de Carvalho

ELOGIO DO ANONIMATO

Tenho sido acusado por alguns dos meus leitores de dizer mal de tudo, de ser um verrinoso e impenitente crítico de coisas que, vejam lá, toda a gente elogia.
A fim de contrariar estas bem intencionadas observações, apresento-me hoje numa postura encomiástica. Que diabo, se calhar os meus amigos têm razão: do que há bem a dizer, que se diga, ou seja, que eu o diga.
 
Tenho à minha frente um número do “Jornal de Negócios” que, na secção “Opinião dos Leitores”, insere extractos de dois escritos, um assinado por Zenónico, outro por o presidente. Os textos reproduzidos, que refectem a bestialidade e a ignorância, tanto do Zenónico como do o presidente, não são dignos de referência.
Mas é-o a magnífica postura do jornal em causa, que publica as opiniões em que, eventualmente, a sua ideologia se refecte, tendo o extremoso cuidado de o fazer a coberto de merecido anonimato.
Assistimos, na generalidade da imprensa, a esta prática, tão merecedora de admiração e respeito. Ele é os Blogs com nomes electrónicos que não correspondem a nada, por conseguinte anónimos, ele é os Zenónicos e os o presidente, a dar-nos, por todos os lados, esta reconfortante sensação de liberdade que consiste em poder dizer o que nos vier à cabeça sem que tenhamos que assumir qualquer responsabilidade, sem que seja quem for nos possa chamar a atenção, criticar, condenar ou elogiar por isso. Trata-se, sem sombra de dúvida, do desenvolvimento do nosso livre arbítrio, coisa que nos enriquece e nos faz sentir mais jóvens, mais actuantes, mais interventores, mais integrados na democracia participativa, mais influentes, mais realizados, mais socréfios.
Para orgulho e felicidade de todos nós, lemos por aí que, por mor de uma denúncia anónima, o procurador A ou o polícia B deram início a uma investigação profunda sobre a vida do senhor C. Lemos por aí que o computador do senhor D foi assaltado pela polícia porque um denunciante anónimo disse que havia horríveis crimes no disco duro.
Há que saudar, com a maior alegria, esta evolução das formas de actuação dos poderes públicos, cientes de que estamos agora muito mais bem defendidos contra abusos vários susceptíveis de perturbar o nosso sossego.
 
Ah! Como é reconfortante esta sensação de poder! Se não gostarmos de um tipo qualquer, um chato que nos incomoda, que nos perturba, bastar-nos-á mandar a quem de direito uma cartinha anónima para que o canalha se veja investigado, assaltado pela polícia, metido nos varais! É tão bom, não é? Se o tipo não for tão irritante assim, sempre haverá uma hipótese mais moderada: chateá-los através de um blog, onde assinamos Zenónico, ou coisa do género, ou de mandar um email para o Jornal de Negócios, ou equivalente, a comunicar ao mundo as nossas zenónicas opiniões.
 
É, ou não, de elogiar o novíssimo sistema? Acho que sim. Aqui fica, para que conste, o testemunho da minha mais profunda consideração.
E não venham acusar-me outra vez de dizer mal de tudo e mais alguma coisa.
 
António Borges de Carvalho

ROYALICES

Na segunda-feira de Carnaval estava este vosso criado repastelado num quarto com vista para o mar, em Biarritz (“cólidade” de vida, pois então!), quando surge, na TF1, a dona Segolène a responder às perguntas de um painel de citoyens.
Tive a pachorra de ouvir aquilo quase até ao fim.
 
A senhora é finória, não se atrapalha, e lá vai respondendo, ou seja, virando e revirando, diante da rapaziada, uma bem estudada cassette. Nada de especialmente novo no que disse. O povo blá blá blá, o terceiro mundo que é preciso ajudar de outra maneira (qual?), os rapazinhos que queimam carros são uns gajos porreiríssimos que é preciso “integrar”, o ministro do interior é um burro, a République a que é preciso dar uma vida nova, pó pó pó, a semana das 35 horas logo se vê, está tudo no meu programa tá tá tá, e por aí fora. Sá a vi à rasquinha quando lhe perguntaram qual era o tacho que daria ao seu compagnon, senhor Hollande, se fosse eleita. A tais alhos respondeu com bogalhos. Fazia lembrar o senhor Pinto de Sousa (Sócrates).
 
Na minha qualidade de estrangeiro, só me entusiasmei quando a senhora se pôs a falar da grandeur de la France, com o tom gaulista do costume: la graaaaandeur de la Fraaaaance. A senhora foi lapidar: a) Dar à Fraaaaaance a grandeza “global” que “lhe cabe”, b) Pôr a Fraaaaaance a mandar na União Europeia, como lhe compete, c) Tratar os Estados à distância, sem contemplações, nem acordos, nem subserviências, nem lideranças.
 
Não faço comentários. Deixo estas modestas impressões à consideração de quem as ler. Presumo que, a este respeito, o senhor Sarko dirá mais ou menos o mesmo.
 
António Borges de Carvalho

GRANDE MULHER!

A CML está debaixo de fogo. Nunca deixou de o estar desde o dia em que o dr. Santana Lopes a conquistou. A esquerda, agora com a preciosa colaboração da dona Maria José (que encanto!), sempre foi, por um lado, adepta da terra queimada e, por outro, nunca aceitou que outrem a ultrapassasse, já que se acha dona do sistema.
Agora, porém, fia mais fino, dada a fraqueza dos atacados e a falta de escrúpulos dos atacantes. O prof. Carmona não tem lá grande jeito para a política, abandonou uma data de gente boa pelo caminho, rodeou-se de nabos e de inexperientes, acabando por ter, para além do senhor Marques Mendes, poucos que o defendam dentro do próprio PSD. A alcateia, por seu lado, ganhou um chefe capaz de tudo, inspirado nessa extraordinária amálgama de virtuosas criaturas que começa no senhor Louçã e acaba no inefável Ribeiro Telles com dois èles.
A ver vamos o resultado final da perseguição.
 
O que me traz é um dos episódios da guerra. Uns senhores, administradores da EPUL, receberam umas massas a título de prémio de produtividade, ou coisa que o valha. Acossados, acusados, enxovalhados, apressaram-se a devolver o taco, implicitamente confessando que não tinham legitimidade para o ter recebido.
Todos? Não. Todos menos a dona Eduarda Napoleão, qual aldeia gaulesa a resistir ao invasor.
Não devo nada à dita senhora. Pelo contrário, precisei uma vez de falar com ela, como vereadora da Câmara. Esperei dois meses para ser recebido. Os cinco minutos que, imperialmente, me concedeu, resultaram em nada. Népias. Jamais recebi resposta. O que queria demonstrar-lhe que não devia acontecer já aconteceu.
Sou, por isso, de uma intocável isenção quando elogio a posição que tomou. A senhora acha, provavelmente com razão, que o prémio recebido era merecido, e não o devolve nem dá satisfações à alcateia. Grande mulher!  
 
António Borges de Carvalho

FUUROLOGIA II

Com a pompa e a circunstância que presença do Exmº Senhor Pinto de Sousa (Sócrates) confere a tudo o que goza de tal e tão augusta presença, foi lançado, numa ilha atlântica, o Novo Cartão do Cidadão. Sursum corda!
Uma menina e um velhote, em representação de todos nós, foram contemplados com mais esta inequívoca demonstração do que é o Portugal  socréfio, moderno, tecnológico, avançado, precursor, prafrentex, simplex, olarex.
O dito cartão contém, para já, os dados do BI, do NIF, da SS e do US. Dentro em pouco, incluirá, outrossim, o Cartão de eleitor.
Sob a mesma epígrafe, publiquei, em Janeiro, as minhas observações sobre o facto de, no computador da CML, se encontrarem, sem minha autorização, uma série de dados sobre a minha pessoa, provenientes do computador das Finanças.
Longe estava de pensar que aquilo era só uma espécie de aperitivo para o genial Cartão do Cidadão. A coisa, porém, fazia o seu caminho muito mais depressa do que eu pensava.
Dentro em pouco, o nosso cartãozinho terá o que o Exmº Senhor Pinto de Sousa (Sócrates) entender: a carta de condução, as multas de estacionamento, o sinalzinho das costas, as compras com o Multibanco, a continha de depósitos à ordem, a renda da casa, o número de sócio do Benfica, as compras e vendas de acções, as passagens na Via Verde, e tudo o mais que ao Pinto de Sousa (Sócrates), aos procuradores da República, aos agentes da judite, aos fiscais de impostos, aos fabricantes de cartas anónimas, e quejandos, possa vir a interessar. À la limite, se é que há limites para estas arrancadas, a feliz menina dos Açores poderá ver incluídas no inefável cartãozinho as medidas da anca e do peitinho, simplexisando uma candidatura a miss Portugal, o velhote lá terá as medidas do caixão, poupando imenso tempo à Servilusa, e assim por diante. As distintas autoridades poderão saber a data e a hora a que V.Exª comprou a última caixinha de Viagra ou de pílula do dia seguinte, tudo com uma simplexidade ultramoderna, rápida e sem desmentido possível.
O Big Brother é uma pobre criancinha ao pé disto tudo, uma ilusão libertária de um escritor de outros tempos. A protecção de dados pessoais será, a breve prazo, um obsoleto resquício de práticas medievais.
Enfim, aí temos o socialismo na sua mais requintada expressão.
E há, segundo vejo por aí, uma data de gente a gostar da coisa! Valha-me São Pancrácio, santinho que não conheço mas com quem simpatizo imenso.
 
António Borges de Carvalho

NO RESCALDO DO REFERENDO

Eleitores – 8.832.628
Votantes – 3.851.613
Brancos – 48.185
Nulos – 26297
Sim – 2.238.053
Não – 1.539.078
 
Números são números. 25,34% dos eleitores portugueses determinaram que o aborto passa a ser livre, se executado pelo Estado ou por quem o Estado autorizar, até às dez semanas de gestação, a pedido da mulher, não tendo o pai da criança, mesmo que a senhora seja casada, qualquer sombra de voto na matéria.
Trata-se de mais ou menos o mesmo número de eleitores que pôs o dr. Sampaio em Belém. Ninguém negará a legitimidade da coisa. Está feito.
17,42% opuzeram-se à decisão. 57,24% ou não puzeram lá os pés, ou borrifaram no assunto por outras formas: ao todo, 5.055.434 de não-me-macem-com-essa-história, em 8.832.628.
Primeira observação: para quê o referendo? Que ganho de legitimidade se obteve? Se se resolvesse o assunto por via parlamentar, com certeza se obteria maIs, ou seja, mais portugueses estariam representados no Sim e no Não parlamentares do que no Sim e no Não referendários. Com a virtual virtude, passe a expressão, de, vinda outra maioria, os portugueses, através dos seus representantes, poderem resolver o assunto de outra maneira.
Donde se prova que o referendo é um instrumento perigoso e, na medida em que “amarra” os decisores futuros, objectivamente anti-democrático.
 
Feita a condenação do referendo em geral, o que reconheço ser discutível, vale a pena dizer umas palavrinhas sobre esta consulta em particular.
Não sei se foi o ambiente de engano, de mentira, de falsidade que o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) introduziu na nossa vida política o que motivou a “atmosfera” deste referendo. Talvez não. Talvez o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) não seja, excepcionalmente, o culpado.
A verdade, porém, é que todos fomos enganados. Os que votaram Sim e os que votaram Não. Os primeiros, por julgar que estavam a descriminalizar uma coisa que, afinal, criminalizavam.
Os segundos, porque funcionaram como idiotas úteis, isto é, votaram numa coisa em que ninguém estava interessado, a começar pelos próprios líderes do Não, que meteram os eleitores numa floresta de enganos.
 
Vejamos:
 
A partir daqui, o aborto é “despenalizado” até às dez semanas. Primeira verificação: o aborto não é “descriminalizado”, é desculpado até às dez semanas, continuando crime, penalizado a partir daí*. Não se sab sequer, o que vai acontecer aos abortos realizados mais tarde, e que a lei em vigor já despenalizava.
A “caridosa bonomia” dos tribunais em relação a quem aborta deixou de ter fundamento, uma vez que, ou a lógica é uma batata ou ganhou força a penalização a partir das dez semanas. Pelo que as meninas e senhoras que se distraírem e abortarem depois das dez semanas passam a ir para a cadeia, coisa que antes, à tort ou à raison, não acontecia. Quem votou Sim, ou o fez de pé atrás, o que será o caso da classe política empenhada no assunto, ou foi enganado.
Os partidários do Não foram metidos na mais extraordinária campanha que se possa imaginar. Os habituais “defensores da vida”, afinal, não o eram tanto quanto isso. Passaram toda a campanha a dizer “não mas”. A este respeito, tudo se sintetiza, e simboliza, nas posições malabaristas do Prof. Sousa, aliás magnífica e esmagadoramente retratado pelo Gato Fedorento no que é, na minha opinião, o mais fabuloso sketch de todos os tempos da televisão portuguesa – e do youtube. A incoerência não pagou. Os que, sinceramente, eram pelo Não, foram de tal maneira confundidos pelos líderes da campanha que, ou foram votar Sim (vale a pena votar Não quando os que deveriam ser os principais defensores de tal opção passaram meses a tergiversar sobre o assunto?), ou mantiveram a suficiente coerência até ao fim, contra os ventos e as marés que, do seu próprio lado, lhes baralhavam a consciência.
 
No fundo, é simples.
O Sim queria “perdoar”. Chamem-lhe “despenalizar”, se quiserem. Substancialmente, é indiferente. Continua a ser crime, mas sem pena.
O Não queria que não houvesse “despenalização”. Mas que ninguém viesse, por isso, a ser condenado. Onde está a diferença? Venha o mais truta e responda.
A única diferença é que o Sim, desculpabilizando, oferece higiene à coisa. O Não insiste na culpabilização, implicitamente mantendo des-higienazanda uma coisa que dizia perdoar.
Então, mais que não seja por questões de higiene, ainda bem que ganhou o Sim.
Os tipos do Sim invectivaram os do Não por defenderem o absurdo de um crime sem pena, que é exactamente o que eles próprios faziam.
Ou seja, todos andaram a enganar o povo.
 
Os tipos do Não, em vez de ser fiéis aos seus princípios (se há ser humano após a concepção, então o aborto é homicídio desde o primeiro dia), andaram a ceder às exigências do Sim, dizendo que era crime mas que não queriam saber disso para nada. Ora bolas. É evidente que estas confusões, lançadas no espírito das pessoas pelas maluquices do Prof. Sousa** e quejandos, acabaram por fazer ganhar o Sim, e por larga margem.
 
De um lado e de outro, o que houve foi uma monumental mistificação, uma despudorada ausência de escrúpulos, uma saca de aldrabices. Não admira que a genuinidade do referendo (de todos os referendos) tenha ficado em causa.
 
António Borges de Carvalho
 
 
* O texto proposto para a lei que se seguirá ao referendo corrobora esta afirmação: “Não é punível a interrupção voluntária da gravidez efectuada por médico ou sob sua direcção, em estabelecimento oficial ou oficialmente reconhecido, com o consentimento da mulher grávida (…), a pedido ma mulher, nas primeiras dez semanas de gravidez, para preservação de sua integridade moral, dignidade social ou maternidade consciente.” (a pobreza do português é do texto, não minha).
** O prof. Sousa é pública e notoriamente perito em jogos circences. Nunca ganhou nada com isso, mas insiste. E há quem continue a dar-lhe crédito, e tempo de antena!

A HOSPITALIDADE NACIONAL

Aqui há uns anos, era primeiro ministro o senhor Barroso e ministro dos negócios estrangeiros um tal Cruz, houve uma bronca monumental nas intâncias da diplomacia europeia porque, por causa de uma conferência qualquer que se ia realizar no Porto, o nosso governo resolveu dar visto de entrada ao sanguinário ditador da Bielorrússia, fulano que, dados os atropelos do seu regime, estava impedido de entrar em qualquer país da UE.
A coisa parece não ter servido de lição. O governo que hoje temos está a tratar de fazer passar as nossas fronteiras o ditador do Zimbabué, indivíduo que tem motivado, por acção que não por omissão, matanças, assaltos armados, legiões de expropriados e expulsos, que não respeita, antes persegue, os seus opositores políticos, que lançou o seu país, outrora próspero, na mais radical miséria, que dá mostras de brutal radical racismo, que já foi expulso do Comonwelth e que é persona non grata em todo o mundo civilizado.
O argumento é o de que vamos receber por cá, lá para o fim do ano, uma cimeira EU-África, e que a África, coitadinha, não ficaria bem representada se tal criminoso não viesse, com as honras de Estado que lhe são devidas. Além disso, opina o governo, poderia haver alguns países africanos, apoiantes do canalha, que não viessem sem ele. Não importa, sequer, ao dito governo, que haja países da UE (com o Reino Unido à frente) que possam deixar de cá vir se o fulano se apresentar ao serviço. O que importa, segundo parece, é esta “grandeza de alma” de a todos receber, como se todos merecessem ser recebidos e mesmo que isso desrespeite compromissos tomados, e assinados, em nome de todos nós.
Mais um serviço que vamos ficar a dever ao senhor Pinto de Sousa (Sócrates)?. A ver vamos.
 
António Borges de Carvalho
 

A INTELIGÊNCIA E OS TERRAMOTOS

O distintíssimo Serviço de Protecção Civil, no acrisolado cumprimento da sua nobre missão, veio informar o respeitável público sobre as providências a tomar em caso de terramoto. Aqui as reproduzo, no intuito de servir os meus leitores:
 
a) Abrigue-se no vão de uma porta interior;
b) Abrigue-se no canto da sala, caso não tenha vãos de porta à disposição;
c) Se não tiver vãos de porta nem cantos ali à mão, meta-se debaixo da mesa ou debaixo da cama;
d) Esteja atento à queda de vidros e outros materiais que costumam cair nos vãos de porta, nos cantos da sala e debaixo das mesas e das camas;
e) Se quiser dar o fora, não se precipite, nem vá pelas escadas, que são frágeis;
f) Muito menos deverá utilizar os elevadores, que têm o péssimo hábito de encravar nestas ocasiões;
g) Se estiver na rua afaste-se dos edifícios e dos postes de electricidade, dirija-se antes a um espaço amplo, onde aquelas facilities não usam despenhar-se;
h) Tenha o cuidado de não interferir com o tráfego;
i) Quando acabar o sismo, corte a luz e o gaz, para não provocar incêndios;
j) A seguir, ligue o rádio para ouvir as recomendações da Protecção Civil.
 
Tire as devidas conclusões:
 
k) A última coisa que deve fazer é ligar o rádio, depois de se ter metido no vão da porta, ou debaixo da mesa, ou debaixo da cama e, sobretudo, não esqueça, depois de ter desligado a luz, o que implica ter sempre à disposição um rádio a pilhas. Se não for possuidor de tal instrumento, está feito;
l) Se lhe der na cabeça sair de casa, não o faça, nem pelas escadas, nem pelo elevador. Atire-se da janela abaixo, que é mais rápido e que, se o prédio for alto, é remédio santo e virtualmente indolor;
m) Se morar em Alfama, ou na Lapa, por exemplo, e resolver sair de casa, após saltar pela janela deve dirigir-se ao Campo Grande, que é um espaço aberto e com poucos candeeiros;
n) No caso precedente, é favor não se precipitar, vá devagar, atento aos semáforos e às ordens da PSP;
n) Para prevenção dos incêndios, deve desligar a electricidade e o gaz, mas só depois da acabar o sismo, uma vez que tudo indica que o terramoto terá a amabilidade de não os provocar enquanto estiver em acção.
 
António Borges de Carvalho

O TEXUGO TERRORISTA

Rechonchudo, adiposo, a ressumar salsichas fritas por todos os poros, bacon, ovos mexidos, feijão encarnado e panquecas, cabelame empastelado de grease, com ar de suíno na engorda, cara de peido contido, o senhor Al Gore veio até nós com a sua mensagem terrorista, já convertida em filme e livro, e espalhada pelo mundo em mais de mil conferências.
A nata do politicamente correcto fez questão de estar presente. Até o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) o recebeu com pompa e circunstância. A imprensa incensou o fulano, não esquecendo sublinhar que se deslocava num Lexus de super luxo, mas com propulsão híbrida, pois então, que, em matéria de CO2, no que respeita ao senhor Gore, só os descuidos intestinais são inevitáveis.
O nacional-saloiismo regurgitou orgulho por tão ilustre visita, as meninges a arder de extasiada contemplação. Até os que ficaram à porta, (o dr. Júdice, por exemplo), gulosos como os meninos pobres do Dickens a olhar as lojas de brinquedos, se babavam na mira do santuário onde ecoava a apocalíptica mensagem,.
O fulano já disse, repetiu e re-repetiu, urbi et orbe, a sua ilustre cassette, pelo que não vale a pena voltar a opinar sobre a substância da mesma (cf. "Do Aquecimento Global", post de 23 de Janeiro).
 
Duas afirmações do adiposo camone são, no entanto, de reter:
a) "A crise climática é uma oportunidade", disse ele. Ai não que não é. Já lá vão mil conferências, dizem os panegiristas. A avaliar pelo custo da que foi "oferecida" aos zelotas cá do sítio (€ 200.000), o homem já "movimentou " duzentos milhões de euros, só em conferências. Se uns modestíssimos dez por cento forem creditados na sua conta, vinte milhões já lá cantam. Acrescentando os lucros do "documentário", fácil é concluir que os otários já devem ter entrado com outro tanto. Resta o livro. Consta que vai nos sete milhões de exemplares. A uma média de preço, por defeito, de quinze euros cada um, se o adiposo receber dez por cento de direitos de autor, mais dez milhõezitos é canja.
É evidente que o homem tem carradas de razão quando diz que o terrorismo ambiental é "uma oportunidade". Pudera!
 
b) Cá no síto, os donos da razão perguntaram ao homem porque é que o inenarrável George W. Bush, uma besta quadrada, não tinha querido ratificar o Protocolo de Quioto. Fugindo-lhe a boca para a verdade, o fulano respondeu que, à data da assinatura da coisa pelo Presidente Clinton, havia um único senador, dos sessenta e sete necessários, que estaria disposto a votar a ratificação. Não valia, sequer, a pena pôr o assunto ao Congresso. A assinatura do protocolo pelo presidente Clinton terá sido um gesto bonito, mas inconsequente.
É evidente que os donos da razão continuarão a invectivar o Bush por condenar à morte o planeta em que vivemos. Mas valeu a pena a visita do gorducho, mais que não seja para que, pelo menos os meus leitores, fiquem cientes da verdade.
 
António Borges de Carvalho

QUE PENA!

Como é fácil de calcular, não tenho o senhor Mário Soares em grande conta. O que não me impede de reconhecer que, em certos momentos, tomou atitudes e decisões que foram ao encontro dos nossos interesses colectivos e que obstaram a consequências muito negativas para Portugal.
Numa manifestação daquilo a que alguns chamarão grandeza de alma, e a que eu chamarei pragmatismo, ou bom senso, Soares opôs-se à caça às bruxas, isto é, soube contribuir para estancar tendências, manifestas em certos sectores, para a perseguição dos apoiantes do regime do Estado Novo. Achou, e bem, que, para que Portugal pudesse conhecer alguma paz interna, era preciso pôr uma pedra sobre certas matérias que o entusiasmo da mudança poderia levar longe demais.
Tiro-lhe o chapéu por isso. Há momentos em que a justiça em relação ao futuro se deve sobrepôr à que ao passado se refere.
 
Para borrar esta pintura, o senhor Soares, no patético estrebuchar da sua vida política, perdeu o sentido da medida das coisas. O senhor Soares é, nem mais nem menos que uma das "personalidades internacionais" que apoiam a "Comissão da Verdade", organização que, sob a alta inspiração do senhor Sapateiro e seus sequazes, vai investigar a repressão havida em Espanha depois da guerra civil. Não se trata, como, a contrario sensu, o nome poderia indicar, de uma investigação histórica isenta e desinteressada, mas da criação de uma entidade, politicamente inspirada, destinada a anatemizar atitudes e condenar pessoas por actos eventualmente praticados há sessenta anos, ou mais, ressuscitando ódios e malquerenças que uma Espanha democrática e tolerante há muito esqueceu. Trata-se de um erro de palmatória, próprio de pides e torquemadas, destinado a dividir os espanhóis em bons e maus, só que os bons de hoje serão os maus de ontem, e vice-versa.
 
É triste que a idade e o vício da notoriadade levem o senhor Soares a esquecer a tolerância e o bem senso que, em cartas matérias, caracterizaram positivamente a sua vida.
 
António Borges de Carvalho

QUEM SERÁ?

Segundo o "Expresso", José Manuel dos Santos, cronista do dito, ganhou o prémio da Sociedade de Língua Portuguesa "pela alta qualidade da escrita"... "sensibilidade", "humor", "riqueza humana e cultural invulgares"...
Estou de acordo. A tal sociedade, do alto da sua alta competência, por certo deve ter escolhido bem.
O problema é a minha ignorância. É que jamais ouvi falar do senhor José Manuel dos Santos, eu, que compro o "Expresso" todas as semanas. Descrente de mim próprio, lá fui vasculhar as páginas das duas últimas edições do citado plumitivo, à procura do homem. Vasculhei, vasculhei... e não encontrei nada. "Procurar horas a fio dentro de mim, e não encontrar ninguém", era um sonho de Rainer Maria Rilke. Sendo mais modesto, procuro no "Expresso". E não encontro nenhum José Manuel dos Santos.
Quem será, afinal, o senhor Santos? Se algum dos meus leitores souber, agradeço informe, a fim de que me não venha a convencer que o fulano é algum ectoplasma que aparece ao dr. Balsemão, em sonhos, cheio de humor, de sensibilidade, de riqueza humana, etc.
 
António Borges de Carvalho

UMA BESTA

Com incontida alegria, o Diário de Notícias titulava, em 8 de Fevereiro: Iraque – Rebeldes abatem quinto helicóptero americano.
A notícia em si não interessa lá muito: é o corta-e-cola do que diz uma agência qualquer.
Interessante é verificar que, para o jornalista, ou a jornalista do DN (um tal, ou uma tal, Cadi Fernandes), os terroristas, os integristas, os fundamentalistas, passaram a honrados “rebeldes”, só faltando dizer que são heróicos freedom fighters que se opõem a um governo que, apesar de democráticamente eleito, não passa de um fantoche às ordens dos americanos.
Mas não é tudo. A notícia é ilustrada por uma fotografia de uns prisioneiros do governo iraquiano, à qual corresponde esta comovente legenda: Dezenas de “suspeitos” foram detidos no âmbito do novo plano de segurança lançado na capital iraquiana. Assim. Os suspeitos estão entre aspas, o que quer dizer que, na opinião do redactor da “notícia”, os indivíduos não fizeram mal a ninguém, nem são suspeitos de coisíssima nenhuma: há é uns canalhas que, a soldo do imperialismo, prendem indescriminadamente cidadãos impolutos, sendo as bombas e os assassinatos justíssimas acções que ninguém pode, em boa justiça, ser suspeito de ter praticado.
Ora digam lá se o Cadi (ou a Cadi) não é uma besta!
 
António Borges de Carvalho

CHINESICES III

A primeira página do Diário de Notícias da passada sexta-feira era dominada por uma fotografia do senhor Pinto de Sousa (Sócrates), acompanhado por quatro indivíduos (gorilas, bufos, idiotas úteis?), a fazer jogging nas ruas de Xangai. Uma idioteira como outra qualquer, com a importância de uma idioteira como outra qualquer. Até aqui, tudo bem.
O pior é que Sua Excelência envergava uma camisola azul escura, a qual exibia, a branco, sobre o peito (não o o peito ilustre lusitano, mas o peito do senhor Pinto de Sousa - Sócrates), um enorme emblema da "ADIDAS". Sim, meus amigos, da "ADIDAS". Não da NIKE. Nem sequer da SONAE, ou do BES, ou da PT. Da "ADIDAS". Nem mais.
Das duas uma. Ou o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) é pago para fazer publicidade à "ADIDAS", o que parece impróprio do lugar que ocupa e o devia fazer cair do poleiro a título imediato e incondicional, ou não é pago por ninguém e, nesse caso... é parvo, o que, pela ordem natural das coisas, devia ter as mesmas consequências.
Escrevo isto no Sábado, dia seguinte ao da publicação da fotografia. Tenho aqui os dois semanários "de referência", e o habitual Diário de Notícias de hoje. Nenhum fala do assunto. Ontem, vi dois telejornais. Nada disseram. Nicles. O que demonstra que a chamada "comunicação social", à semelhança do senhor Pinto de Sousa (Sócrates), ou é paga para não falar do assunto, ou é tão parva quanto ele.
 
António Borges de Carvalho

SOMOS OS MAIORES!

Os portugueses estão habitudaos a levar na cabeça com estatísticas. Somos os menos produtivos, os menos instruídos, os mais pobres, estamos abaixo da Grécia, da Eslovénia, dentro em pouco já nem aos calcanhares da Chéquia chegamos, a Eslováquia já vai à frente, dentro de dois ou três anos seremos os mais ridiculamente atrazados de toda a UE.
Nem tudo, porém, são desgraças, a roer-nos a autoestima. Há coisas em que estamos entre os grandes, os maiores, os mais ricos! Veja-se o que se passa, e é um mero exemplo, com os preços da gasolina. Somos o terceiro da Europa, a contar de cima! No que se refere aos combustíveis em geral os nossos preços sobem mais que na Europa! A descida do preço do petróleo levou a descidas dos preços da gasolina em vinte e um países da UE. Só quatro, no mesmo período os aumentaram. Desses quatro, somos o segundo! No que à carga fiscal sobre a gasolina diz respeito, somos o sexto dos vinte e cinco! No gasóleo, infelizmente, somos mais modestos, ocupando só o décimo lugar.
E ainda há quem diga que não somos os maiores! Profetas da desgraça, velhos do Restelo, forças de bloqueio!
 
Por todo o mundo, nas mais distintas universidades, nos mais exigentes think tanks, não há já quem se não debruce, com veneradora admiração, sobre o case study mais successful deste princípio de século: a receita socrapífia para o relançamento social e o desenvolvimento económico. Como segue:
- Aumentar tantos impostos quanto impostos houver para aumentar, e tanto quanto aumentar se puder;
- Manter a despeza do Estado em níveis pelo menos não inferiores aos do costume;
- Inventar défices altos, para poder dizer que se desce os reais;
- Cortar nas reformas e nos medicamentos para os velhos;
- Fechar maternidades para não aumentar o número de cidadãos;
- Abrir clínicas de aborto com a mesma finalidade;
- Prometer obras faraónicas que entretenham o pagode e façam correr umas massas para certo pessoal.
 
Somos os maiores, ó gente!
 
António Borges de Carvalho

TOME NOTA

1. Mais uma extraordinária benesse que que V. Exª deve à política socrapífia: os certificados de aforro são a mais mal paga de todas as componentes da dívida pública.
Quer dizer: o estado socrapífio paga a qualquer credor, seja ele quem for, juros mais altos do que os que paga aos cidadãos do seu país. É o socialismo numa das suas mais comoventes realizações!
 
2. O apoio ao arrendamento jóvem levou um boléo de cinquenta por cento. Melhor que nada, dirão os socrapífios. Ou seja, vale mais partir uma perna que as duas.
 
António Borges de Carvalho

O GOVERNO VAI AOS SALDOS

O governo que temos acaba de publicar um longo decreto sobre o ingente problema dos saldos. Julgo que a iniciativa deve fazer parte do Simplopliploplex, ou das "reformas" prometidas, ou coisa que o valha. Confesso que fiquei banzo. Eu, ignorante e estúpido, que julgava que os saldos eram uma iniciativa dos comerciantes para escoar stocks! Nem pensar. Os saldos são uma actividade regulada, regulamentada, espartilhada no tempo, de tantos de tal a tantos de tal. O governo que temos cria, ou "clarifica" as extraordinárias diferenças conceptuais entre saldos, promoções e outras inicitivas dos comerciantes. Não, meus senhores, os saldos não são uma manifestação de liberdade das pessoas de vender e comprar em condições especias. Nem sequer se pode saldar o que se quiser, mas só determinado tipo de colecções, devidamente controladas pelo Estado. E ai de quem prevaricar! As coimas são às dezenas!
 
Há muitas maneiras de desacreditar a Democracia. Uma delas, e bem eficaz, é a diarreia regulamentadora de quem não sabe governar.
 
António Borges de Carvalho

BENESSES

Pinto de Sousa (Sócrates) foi recebido, no aeroporto de Pequim, por um subsecretário de estado do governo do partido comunista chinês. Dizem alguns mal intencionados que se tratava do nº 1427 da hierarquia dos olhos em bico. O nosso amado grande timoneiro foi, assim, logo à chegada, posto ao nível.
 
Dando de barato este pormenor, atenhamo-nos às boas notícias que da China chegam. Perante o olhar embevecido do senhor Pinto de Sousa (Sócrates), Sua Excelência um tal Pinho, ministro do que soe chamar-se governo, descansou os habitantes do Cataio: podeis vir, ó gentes! Podeis vir, que nós somos baratos, os mais baratos, os mais miseráveis, os mais merdosos de todos os europeus! Ficareis com os olhos ainda mais em bico quando virdes que a malta dá o rabinho por oito tostões! Vinde! Abrimos os braços às lojas que vendem os dejectos das vossas fábricas de inutilidades! Comemos, e comeremos ainda mais, em todos os restaurantes porcalhões que quiserem abrir! Fornecer-lhes-emos a mão de obra mais barata do continente! Vinde, ó amados investidores!
Que inteligente que eu sou, dizia o Pinho, à noite, na suite do hotel, a ver-se ao espelho, que máquina, que génio! E babava-se de orgulho, dançando a conga diante do maravilhado Pinto de Sousa (Sócrates).
 
Entretanto, por cá, sentia-se a preocupação do Pinto de Sousa (Sócrates) com os que não tiveram a dita de ir com ele à China.
O novíssimo e inteligentíssimo brinde que nos deixou para que nos pudéssemos entreter durante a sua ausência vem hoje no Diário de Notícias, em bem merecida manchete: “Pensionistas vão pagar mais por vários medicamentos”. E lá vem a lista: tudo produtos que os velhotes usam às toneladas para compensar os estragos da idade. O estado socréfio vai apurar mais um balúrdio. Para além da poupança imediata nos subsídios, os velhos passam a morrer mais cedo, ganhando-se uma pipa de massa com as reformas que deixa de se pagar (os mortos não têm direito a pensão, terá o homem pensado, num golpe de génio), quem sabe se para dar aos chineses quando descobrirem que as promessas do Pinho ficam aquém do desejado.
 
E vamos ter o instituto Confúcio! Boa! Confuciemo-nos uns aos outros!
E mais. O nosso grande timoneiro vai passar a extraditar chineses e vice-versa! E até já há vinte e cinco (vinte e cinco!) portugueses na China!
Sursum corda! Gaudeamus! Gratiae agamus tibi! Olaré.
 
António Borges de Carvalho
 
Apostilha
Por que raio é que não se deixam ficar lá pela China? Há lá muito mais velhinhos do que cá.
 

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