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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

MOSTRAR SERVIÇO

 

Este governo tem muito que fazer. Vai fazendo... mas parece que continua a haver quem não tenha muito trabalho e, assim como os tipos de Bruxelas passam a vida a regular o que não devem, se dedique a inventar novas matérias para chatear o cidadão.

É assim que tem vindo a ser anunciado que o governo, leia-se os burocratas desocupados que já deviam ter ido para o olho da rua, se prepara para lançar mais uma campanha de ostracismo militante contra os fumadores. Não bastam as limitações que há aí por todo o lado, as ameaças nos pacotes, a propaganda, os autocolantes imaginados ad hominem, quer dizer, que não proibem de fumar, proibem as pessoas que fumam, mais a parafrenália de martingalas que a UE lança dia sim dia sim.

Prepara-se agora a eliminação das zonas de fumadores nos restaurantes, aeroportos, quem sabe se nas ruas. A desculpa é que os fumadoeres custam ao Estado 500 milhões por ano em cuidados de saúde. Ninguém sabe como se fez, ou faz, esta conta, já que ninguém sabe quantos cancros ou coisas do género são consequência do fumo ou se têm origem genética ou outra qualquer. Mas aceite-se, por pura comodidade, a conta mirabolante dos burocratas. Há outra conta, essa mais exacta e fiável, que esta gente não faz: os fumadores, pelo simples facto de fumar, entregam ao Estado, anualmente, cerca de... 1.000 milhões de euros em impostos, o dobro do que, alegadamente, custam! Por outras palavras, os fumadores não só pagam os cuidados de saúde que recebem do Estado, como ainda contribuem para os cuidados prestados aos que não fumam com nada menos de 500 lindos milhões.

Morrem mais cedo, diz-se. O problema é deles. Se morrem mais cedo, cobram menos de reforma ao Estado. Mais um contributo dos fumadores para o equilíbrio das contas...

Do Estado e da sociedade, o problema é o desperdício de 500 milhões na saúde e de um número indeterminado de milhões na Segurança Social.

Bom seria que o governo não perdesse tempo com estas patacoadas persecutórias e ordinárias. Ou seja, que não desse ouvidos a relatórios de funcionários inúteis que, como todos os inúteis, outra coisa não pensam senão em criar dificuldades às pessoas, para mostrar serviço.


31.12.12


António Borges de Carvalho

 

Post scriptum*: Amanhã é ano novo. Como diz o outro, meus amigos, aguentem-se. Lembrem-se da sabedoria popular: “depois da tempestade, a bonança”, “não há mal que sempre dure”, “chuva em Novembro, Natal em Dezembro”, mais vale ser rico e ter saúde que ser pobre e doente”, “depois de mim virá quem de mim bom fará” (esta não se aplica ao Pinto de Sousa), “o futuro a Deus pertence” et alia do mesmo género. Não vale a pena coçar as feridas nem pôr as culpas aos do costume, como o polícia do “Casablanca”. Um déjá vu que só faz o 13 dar má sorte.

Saudinha, já que dinheiro, meus amigos, não há em 2013 nem haverá tão cedo.


E pronto. Bom ano para todos!


IRRITADO


*Não escrevo PS (t'arrenego!), podia dar lugar a confusões!

COISAS DA HISTÓRIA

 

Talvez o mais importante trunfo político da I República, na sua guerra suja contra a Monarquia Constitucional, tenha sido o Império. Com a derrota diplomática sofrida na Conferência de Berlim, a perda do enorme território entre Angola e Moçambique e o ultimato inglês, a moral da Nação, até então elevada com os feitos dos exploradores africanos, sofreu um rude golpe, e a Monarquia com ele. O Império fazia há séculos parte da chamada auto-estima dos portugueses. Por isso, os republicanos atiraram para as costas do regime a fraqueza que os acontecimentos demonstravam, exploraram ad nauseam a alegada falta de patriotismo do Rei, capitalizaram a vergonha da Nação. Daí, “A Portuguesa”, a exaltação dos valores históricos, a defesa acrisolada do Império, razão de ser da Pátria que a Monarquia não tinha sabido defender, a subserviência em relação aos ingleses, a “traição à Pátria”, tudo politicamente explorado e potenciado pelos republicanos. Não seria fácil, por esse país fora, “vender” a populações com valores estáveis, agarradas a um viver habitual sedimentado, ideias que, boas ou más, pouco ou nada lhes diziam. Pelo contrário, os riscos que o Império corria calavam fundo no orgulho de cada um. O Império, a sua permanência e defesa, a sua “eternidade”, foram parte integrante do ideal republicano e da sua propaganda.

A II República pôs de lado tanto o sistema da primeira como o da Monarquia Constitucional, mas, no que ao Império se refere, deu continuidade e reforçou os ideais do regime anterior. Convertidas em colónias por Salazar, via “Acto Colonial”, as províncias ultramarinas depressa voltaram à sua designação anterior.

Os tempos mudaram. Os herdeiros da I República vieram – fruto dos “ventos da História” – a abjurar dos ideais dos seus maiores e a adoptar como ideal o novo movimento dito de libertação dos territórios, de novo coloniais. O que para uns tinha sido honra e glória, passou, na opinião dos seus “filhos”, a vergonha e opróbrio.

O Estado Novo, por seu lado, não percebeu as mudanças que sabiamente devia “controlar” e, apesar de para tal ter tido tempo e oportunidades várias, apesar do esforço nacional das guerras ultramarinas (hoje “coloniais”), insistiu nos ideais da I República e enquistou na fórmula dela, sem cuidar que, como tal, tal fórmula se tinha tornado insustentável e indefensável. Pagou-o uma geração inteira, pagou-o o sacrifício de milhões de homens. Pagaram-no os portugueses que se viram privados de tudo e que se exilaram num país europeu que não era já a sua terra de origem. Pagaram-no os africanos, com milhões de inocentes, vítmas de ideologias malditas e de lutas de poderes tribais,  de senhores da guerra, de interesses externos, de exércitos estrangeiros que nada tinham a ver com as suas vidas. Mais de quarenta anos de guerra, os primeiros treze relativamente “suaves”- até 74, os seguintes da mais sanguinária violência.

Dir-se-á que isto são histórias passadas, histórias que às novas gerações já nada dizem. Talvez seja assim. Facto é, porém, que estas histórias, ou esta História, são sistematicamente postas em causa pelo novo politicamente correcto, que consiste em escarafunchar a História à procura de tudo o que possa arruinar o orgulho de ser português. O que era contado, quiçá com entusiásticos exageros pelas duas primeiras repúblicas, é lançado na terceira para os arquivos da desonra, com exageros ainda maiores. Parece que houve um massacre em Moçambique. Admitamos que sim. Tal história, completamente expurgada do contexto em que se terá dado, é contada e recontada vezes sem conta, como se fosse coisa paradigmática e exemplo acabado do que foram as campanhas ultramarinas. Uma História isenta diria que o acontecido foi uma excepção numa guerra muito mais marcada por exemplos de convivência e de humanidade que por massacres. Parece que houve cabeças cortadas a mortos. Admitamos que sim. A história é contada, recontada e tornada a contar, como se fosse verdade que os portugueses andassem a cortar cabeças a mortos por tudo o que era sítio. Com eventuais verdades, faz-se da História uma colossal mentira. Agora, apareceu nos jornais um ”estudo” de uma senhora, a provar que tudo o que a Monarquia Constitucional e as duas primeiras repúblicas diziam acerca do Império, não passava de mentira, de propaganda, de areia nos olhos do povo, uma anedota sem qualquer relação com a realidade.

O IRRITADO, quando pensa nos “historiadores”, nos “jornalistas de investigação”, etc. – salvem-se raríssimas excepções - e na coorte de socialistas e apaniguados que tratam destas matérias, sente-se na União Soviética, terra em que a História era contada segundo as conveniências do partido. Só que, hoje e em Portugal, nada justifica a aldrabice monumental com que a História é contada às pessoas em parangonas de jornal. Para quê? O que quer esta gente destruir? Que gozo lhe dá “aprofundar” a História com intenção masoquista ou ideológica? Com que direito se generaliza o que não é generalizável?

Lembro-me de, em São Tomé, ter passado os olhos por um livro de “história”, oferecido pelos cubanos ao sistema de ensino local, em que se dizia, mais ou menos assim, que a humanidade tinha conhecido uma idade de trevas, e que só tinha visto a verdadeira luz no dia em que Lenine desembarcou do comboio em São Petersburgo.

É isso o que querem?     

 

29.12.12

 

António Borges de Carvalho

VIVA O SILVA!

 

O Pai Natal de inúmeros craques da nossa praça foi o inigualável senhor Baptista da Silva. Da ilustre massa associativa do Grémio Literário ao núcleo de intelectuais do Lisbon-não-sei-quê, etc., avultando no vasto grupo a cómica figura do lacinho maricas da SIC/Expresso e seus ilustres convidados, a mais alta gente ouviu respeitosamente as esclarecidas palavras do excelso Professor Doutor Baptista da Silva, emérito Consultor Internacional com assento na ONU, onde ninguém toma decisões sem o ouvir, professor de insignes universidades americanas, economista de renome internacional, para além de outras invulgares qualidades que muito honraram os que o convidaram para nos iluminar com a sua vasta cultura, douta palavra, sábia informação e consequentes esclarecidas opiniões.

A nossa “massa crítica”, os nossos jornalistas, os nossos clubes de sábios, os nossos opinion makers, tinham feito a descoberta do ano: um ás, um vulto, um estratega, um português da diáspora que em terras longínquas honra a nossa Pátria, desembarcado na Portela para, com a sua fluente oratória e o seu profundo conhecimento dos problemas do mundo e do país, se dispor – julgo que a troco de umas massas – a contribuir para a cultura e os conhecimentos das nossas mais nobres classes, das quais faz parte, evidentemente, o gajo do lacinho.

Ora o homem, afinal, era um tipo como outro qualquer. Mas, que diabo, tinha opiniões, opiniões rebarbativas, fundamentadas, interessantes. Não ser nada do que dizia ser não tem importância nenhuma. Isto porque se fosse tudo o que dizia ser, diria as mesmas coisas. Se diria as mesmas coisas, que interessa que tivesse ou não tivesse o proclamado background?

Ou seja, o que interessa à nossa classe informatória/intelectual não é a substância das coisas mas a forma em que as envolvem. Uma mala Vuiton cheia de merda é uma preciosa mala Vuiton, que faz as delícias de angolanos, chineses e tipos do lacinho. Uma mala de cartão cheia de barras de ouro é uma porcaria que nem vale a pena abrir. É o caso. O tal Baptista da Silva, nos dois minutos em que o IRRITADO o ouviu, só disse asneiras e parlapatices. Mas foi ouvido com deferência e respeito. Porquê? Por causa da mala Vuiton em que o achavam metido!

E tudo minha gente continuaria a ouvi-lo com deferência e respeito, não fora alguém – não os que lhe compravam as bocas – ter-lhe destapado a careca.

Condecore-se o homem! É que, em meia dúzia de penadas, descobriu a careca dos nacional-bempensantes que, aos batalhões de tipos do lacinho, por aí vicejam.

Além disso, sobretudo por isso, divertiu-nos imenso neste pouco esperançoso Natal.

Viva o Baptista da Silva!

 

28.12.12

 

António Borges de Carvalho

ESTAMOS À ESPERA DE QUÊ?

 

Toda a gente já percebeu que a nacionalização do BPN, como a generalidade das nacionalizações, foi uma patada na poça. Tão mau ou pior do que isso, e consequência disso, foi o que seguiu: injecções multimilionárias de capitais públicos, tropeços em buracos atrás de buracos, um país arruinado a fazer face às monstruosas loucuras de uma série de escroques, oportunistas e incapazes, desnacionalização da carne ficando o Estado com os ossos – se calhar não havia outra solução – enfim, desgraças nacionais umas atrás das outras.

Apareceu agora, sabe-se lá porquê só agora, uma interminável lista de fulanos que sacaram centenas de milhões do BPN, ou para meter em empresas fantasma, ou para mandar a bom porto – leia-se paraísos fiscais – ou não se sabe para quê, nem interessa saber. O que se sabe é que nenhum deles, ou quase, dava garantias que se vissem ou fazia tenções de pagar mesmo que algum dia pudesse  fazê-lo.

É cristalino que o governo de então devia ter verificado a insolvência do banco e posto em acção os mecanismos que permitem restituir pelo menos uma parte do que os depositantes lá tinham. O resto era com os credores, com as polícias, com os tribunais. A estas horas não havia BPN, e pronto. O pior tinha já passado. Os credores que se batessem pela massa falida.

Foi o oposto, e o resultado final da nacionalização é o que se sabe: o Estado constitui-se em credor de uma chusma de insolventes e cavalheiros de indústria que jamais pagarão seja o que for, e em devedor da fortuna imensa que o banco devia e que, sendo Estado, vai ter que pagar.

A salvação (que “salvação”!?) acabou por ser a inevitável mudança de accionista em condições que fariam inveja aos cavalos do apocalipse.

 O que sucedeu afinal?

Os principais culpados dos desvarios e dos crimes, o senhor Constâncio e os seus “técnicos” foram, ou estão, devidamente colocados. O chefe no BCE, não se percebe como nem porquê, os restantes nos seus doirados lugarinhos. Não consta que tenha havido malguma purga no Banco de Portugal, por manifesta incompetência ou por anuência ao que se passava. O que se passava parece que era mais do conhecimento da vox populi que dos responsáveis pela supervisão. Como pôde o BdP, por exemplo, deixar que se constituísse um fundo com milhões emprestados pelo BPN, tendo como garantia um terreno de valor puramente imaginário (caso D.D.Lima)? O BdP tem a competência e obrigação praticamente exclusivas de supervisionar criação e funcionamento de todo e qualquer fundo. Como passou este? Insondável mistério. Não colhe, neste como em muitos outros casos, culpar os governos, fossem de que cor fossem. Colhe sim, perguntar o que aconteceu aos “supervisores” que, cegos surdos e mudos, assistiram a tudo na plateia. Colhe também perguntar aos responsáveis pela nacionalização se tinham alguma noção do que estavam a fazer. Ou não tinham, ou o injustificado medo do contágio foi mais forte do que eles, o que quer dizer que não faziam ideia alguma sobre o estado do sistema. Um passeia em Paris, outro dá aulas. Nem um nem outro pediu sequer desculpa pela argolada.

Resta a parte que não diz respeito ao governo, ou aos governos, que é a que diz respeito à Justiça. Que sucedeu? É certo que o principal dirigente do BPN foi preso, e ainda o está, em prisão domiciliária. Diz-se que o seu estado de saude é periclitante. Desejemos-lhe as melhoras, a título pessoal e na qualidade de principal depoente, por certo num número gigantesco de processos, coisa que é comum entre nós, para baralhar e complicar em vez de esclarecer e simplificar. E os demais? Os outros responsáveis do banco? E os que pediram e obtiveram empréstimos mirabolantes na certeza de que não os iriam pagar, que as garantias dadas eram fancaria, ou sem dar garantia nenhuma? Que diabo, nenhum tem património que sirva para minorar a situação? São réus nalgum processo? Foram-lhes aplicadas medidas de coacção? Cogelaram-lhes as contas, cá e lá fora? Andam a monte? Já pagaram alguma coisa? Fracto é que os anos passam, quantos?, dois, três, quatro? E nada acontece que não seja a contabilização dos fossos sem fundo nas nossas contas?

Os nossos magistrados, que passam a vida aos berros em defesa da sua independência – na sua boca a independência é muito mais que a constitucional – andam a fazer o quê? Que noção têm de que a justiça ou é célere ou não é Justiça?

E nós? Estaremos à espera de um julgamento eterno, tipo Casa Pia, ou pior? Estaremos à espera que os implicados tenham tempo para pôr os “corpos de delito” a salvo? Estaremos à espera de pagar em impostos o que umas dúzias de fulanos fizeram desparecer?

Que fazem por nós os nossos magistrados?

 

26.12.12

 

António Borges de Carvalho    

BOAS NOTÍCIAS

                      

Está o IRRITADO cheio de esperança e orgulho por ver, aqui, no jornal, a cores, três dos mais altos dirigentes e pensadores portugueses, daqueles que, ao longo de tantos anos, têm vindo a opinar sobre os caminhos e os destinos da Pátria: o inestimável – porque não se estima - José Carlos Vasconcelos, o ilustre – porque não dá luz – Mário Soares, o insigne – porque ficante – Boaventura Sousa Santos. Os três muito contentes na apresentação de uma obra do terceiro.

Obra não, “recolha de textos de opinião”.

Não contente por vir, ao longo de anos, apresentando na nossa submissa imprensa o resultado dos seus estudos e investigações socio-políticas, quer dizer, de politiquices esquerdóides com “justificações” sociológicas, o SS brinda-nos agora com um livro de recordações destinado a fazer as delícias dos 24 indígenas que andavam a passear pelas das estantes da “Almedina” e que foram apanhados pela menina da editora e levados a comprá-lo.

Nada melhor que Vasconcelos e Soares (só os dois, somados, já deram à Nação uns 170 anos de doutrinadura - com o BSS, a coisa sobe para mais de 240) para dar público aval à formidável estatura intelectual do autor e às excelsas qualidades da obra ora (re)vinda a lume.

Vasconcelos ficou célebre pela criação dessa bojarda política que foi o partido do General Eanes, inominável tentativa de sagração do presidencialismo militar, inacreditável grupo de ambiciosos que, à primeira, enganou o eleitorado, e que o mesmo eleitorado se encarregou de mandar às urtigas na segunda oportunidade, seguindo-se o indecoroso e hilariante espectáculo das comadres eano-vasconcelistas à porrada pelas esquinas, até, em boa hora, à dissolução final do aborto. Chegaram ao ponto de ter um jornal, modestamente chamado “Jornal”, destinado a defender o eanismo, o terceiromundismo, o socialismo e outras patacoadas da cartilha do MFA “moderado”. Depois, Vasconcelos voltou à “cultura”, de onde, aliás, era oriundo. Até à falência final. De Soares, não vale a pena dizer nada. Toda a gente o conhece. Até quem gostava dele anda aparvalhado com o primitivismo das asneiras com que, pelo menos semanalmente, vai brindando a canalha.

Uma equipa bem escolhida, bem à altura do autor que vieram gabar.

Dado o exposto, o IRRITADO recomenda vivamente a aquisição da obra escrita e propagandeada por tão  alta gente.

*

Já agora, outro conselho: para colmatar qualquer lacuna cultural que vos aflija, meus amigos, não se esqueçam que, no dia 29, a edição do DN vai ser dirigida por outro grande da República - e do PC: Manuel Carvalho da Silva. A não perder!

 

23.12.12

 

António Borges de Carvalho

FANTÁSTIC0!


Anteontem, a venda da TAP era, para inúmeros indígenas:

- Inconstitucional

- Um negócio “opaco”

- A alienação de uma “empresa estratégica”

- O abandono dos emigrantes e dos PALOPs

- Fruto de compadrios com cheiro a corrupção

- Uma prova de que o governo sacrifica o património público aos seus interesses

- Mais uma manobra suja do Relvas

- Etc. etc. etc.


Ontem, a partir da tarde, os mesmos aborígenes condenavam, com a maior das veemências que o governo tenha decidido não fazer o negócio. Porquê, hem? E a transparência? E o Relvas? Então o Relvas não estava feito com o Ovitch? Então se o Ovitch não dava garantias como é que negociaram com ele? E porque é que o Ovitch prometeu a garantia para transantontem? E porque é que só havia um concorrente? E porque é que o concorrente foi recebido pelo Relvas? Em suma, como diz, todo contente, o “Público”, trata-se de mais uma importante derrota do governo. E lá está o Pacheco a bombardear com a falta de transparência, com o segredo da negociação, com a inaceitabilidade da explicação fornecida, e por aí fora. E o PC, mais o BE, mais o Carlos, que adoravam que a privatização se tivesse feito para pôr os sindicatos aos berros no meio da rua e ficaram sem este tema? Coitados!


Afinal, para estes bandos de delinquentes mentais, tanto faz. Se o governo privatiza, o governo é péssimo. Se não privatiza, ainda é pior.

E assim vai o país que estes tarados querem “guiar”, formando opinião. O que vale é que a maioria das pessoas percebe muito melhor o que se passa que esta macacagem.


Dúvida do IRRITADO: qual é o mal maior, vender sem as devidas garantias, ou não vender?


A ver vamos o que diz o futuro, na certeza que aquela gente achará sempre mal, seja o que for que o futuro nos diga.


Não é fantástico?

 

21.12.12

 

António Borges de Carvalho

A VERDADEIRA OPOSIÇÃO


Em todas as democracias, como diria o amigo-banana, há governo e oposição. Normalmente, estão do lado do governo os partidos que lhe dão apoio parlamentar, e na oposição os que não lho dão. Às vezes há guerras, ou guerrinhas políticas, nos partidos do poder, o mesmo se passando com os outros.

Postas estas verdades de xaxa, vejamos o que se passa entre nós.

Dos partidos do governo, um anda permanentemente a ver se tira o cavalinho da chuva. Uma mariquice pegada. O outro tem um vice-presidente que faz estudos, quiçá a preparar o seu futuro político, apresentando ao povo, não ao partido, o que acha que tem que ser feito. Isto, como é evidente, sem contar com a chusma de intelectuais teoricamente afectos ou até filiados, que se entretêm a agitar o descontentamento. Os dois partidos estão no governo mas.

Os partidos da oposição dividem-se em dois grupos: o PS e os 2,05 partidos comunistas. Estes, como oposição, não contam, no sentido em que têm tropa às ordens para fazer barulho, mas é sempre a mesma tropa, não atrasa nem adianta. Na hora de votar, valem o que valem, quer dizer, pouco valem. A esmagadora maioria das pessoas sabe bem que tudo aquilo não passa de sopa requentada, velha  relha. Quanto ao PS, a história é outra. Está entalado por dois lados. Primeiro, porque sabe ter sido o principal autor interno da borrasca financeira em que estamos metidos. Segundo, porque, se estivesse no poder, o que tinha que fazer era exactamente o mesmo que este faz. Ainda por cima, o que este faz é o que o PS combinou com terceiros. Por isso, não é bem oposição, tem que se limitar a esbracejar no meio da onda que arranjou.


A verdadeira oposição, a mais destrutiva, a mais demagógica, a mais poderosa, está nos chamados media, que parecem formatados pelo camarada Louça. A generalidade dos jornalistas e quase totalidade dos comentadores convidados e dos “intelectuais” de serviço faz a festa da oposição sem a mais leve sombra de sentido de serviço público ou de rigor informativo. Os poucos opinadores moderados e sérios que vão aparecendo, quer nos jornais quer nas televisões, coitados, cheiram a raminho de salsa, dão um arzinho, e pronto. São a excepção que confirma a regra.

Não me venham cá falar no domínio do “capital” sobre a “informação”. Nesta matéria, como nas outras, o que o “capital” quer é ganhar dinheiro. Para tal, dispõe de uma chusma de serventuários que sabem que o que dá é o bota-abaixo, com razão ou sem ela. Se assim não fosse, ainda havia quem publicasse os dislates e disparates do Mário Soares?

O bom senso, cá no sítio, não vende nem tem quem o aprecie.

 

18.2.12

 

António Borges  de Carvalho

TAP

 

Para o IRRITADO a existência de empresas do Estado é uma contradição nos termos. Há uma regra do senso comum e tradicional, aliás vertida em lei, que reza que “ninguém é bom juíz em causa própria”. Fácil de perceber, não é? É por esta tão simples razão que o Estado jamais devia ser proprietário daquilo a que há quem chame “meios de produção”. O Estado, como qualquer outra entidade, não está em posião de se fiscalizar a si próprio, nem tem altura moral para “regular”  e vigiar outrem, já que ele mesmo é parte do outrem. Um juíz não pode julgar os irmãos, os filhos ou os pais, por exemplo. Ou seja, ao meter-se na vida económica como agente interessado, o Estado demite-se da sua legitimidade para fiscalizar os demais. Simples.

Mais que não seja por esta razão, acha o IRRITADO que todas as privatizações são, por natureza, bem vindas.

É evidente que há bens que, por ser monopóios naturais ou marcadamente do interesse geral, podem, ou devem, ser objecto de cuidados especiais e sua nua propriedade não deve ser objecto de privatização. Nestes casos, porém, ou a sua gestão deve ser, por regra, concessionada, reversível a prazo, ou cair-se-á nos mesmos vícios, comuns a todas as empresas públicas.

Feita esta declaração de interesses (está na moda!) não materiais, deve privatizar-se a TAP? Evidentemente!


Na segunda feira vi a primeira parte do “Prós & Contras”. A primeira gozosa impressão que a coisa me deixou foi a comunhão de ideias do Louça com um tipo que, se não era da extremíssima direita, era pelo, menos ultra-nacionalista. Engraçado. Como o IRRITADO tem muitas vezes referido, os extremos têm ideias que, com diversos fundamentos e objectivos, vão dar mais ou menos no mesmo. Substancialmente, são o mesmo.

O Louça é contra porque é contra. Não precisava sequer de argumentar. É contra porque tem o raciocínio viciado em coisas como a “apropriação colectiva dos meios de produção” e a “economia planificada”, ainda que vá evitando estes chavões e procurando dar alguma lógica intelectual ao que diz.

O outro era contra porque a venda da TAP equivale, nas sua palavras, ao abandono de cinco milhões de portugueses e de luso-descendentes(?)que, vivendo fora do país, não querem outra coisa senão comprar bilhetes à TAP. Daqui se pode concluir que a TAP, uma vez privatizada, passará a não aceitar portugueses nos seus aviões. Ou que o comprador tem por objectivo pôr de lado as rotas de África e do Brasil. A inteligência deste pensamento ultrapassa o merecimento de qualquer comentário. O homem é uma besta e,como os comunistas, acha que a soberania nacional se mede pelo número de empresas de que o Estado é proprietário.

Depois, lá vieram as questões de pormenor, o preço, o encaixe financeiro, os trabalhadores, o projecto, etc. E, evidentemente, a falta de “transparência”. Ou seja, as negociações da venda deviam ser feitas na praça pública, todos os encontros, reuniões, almoços, operadores financeiros, respectivas actas e não actas, deviam vir nos jornais, etc.. Como se tal fosse possível, como se tal pudesse funcionar! O projecto é mais ou menos sabido, e ninguém parece poder pô-lo em causa. Mas, e garantias, meus senhores, que garantias dá o comprador de ser fiel ao projecto, hem?


Não sendo as negociações conhecidas passo a passo, muita coisa se sabe. Aqui há dias, o jprnal da oposição chamado “Público” dedicava a manchete e quatro páginas ao assunto. As três primeiras eram dedicadas à teoria da conspiração, num absoluto delírio de “investigação” jornalística, um mar de suspeições e de barro atirado à parede. De concreto, nada. Por ironia do destino, na quarta página, uma peça de outra jornalista descrevia com vasto pormenor, o estado das negociações, os avanços e os recuos, com larga cópia de informação propriamente dita. Nem se percebe lá muito bem como, no mesmo jornal, aparecem duas coisas tão diferentes. Ou muito me engano ou não tarda que a segunda jornalista vá para o desemprego. Que diabo, o IRRITADO também tem direito às suas suspeições!


E pronto. Livrem-nos da TAP e dos seus buracos, subsídios, indemnizações, excepções e descontos políticos! Venha o polaco, ou lá o que é. Saquem-lhe o que conseguirem,e ponham-no a pagar as dívidas. O resto é conversa de “pensadores” interessados em fazer-se ouvir e dos que lhes dão tempo de antena e páginas nos jornais.

 

19.12.12

 

António Borgesde Carvalho    

ESTADO SOCIAL

 

Há direitos e direitos. Numa acepção clássica, temos os direitos inerentes à pessoa humana, gratuitos, que nascem com ela: o direito à vida, à liberdade de pensamento e de expressão, o direito de voto... direitos de que se goza independentemente da circunstância de cada um. Modernamente, foi criado outro tipo de direitos, os chamados direitos sociais, que têm natureza diversa, longíssimo do conceito de direito propriamente dito: é que custam dinheiro! Nesta matéria, a nossa Constituição deve ser a mais pródiga do mundo. Todos temos direito a habitação (e não é a uma habitação qualquer), à saude tendencialmente gratuita, ao ensino universal e gratuito, a inúmeras prestações sociais, e por aí fora... só que, para ter direito a tais “direitos”, temos que os pagar! Pagamos o andarzinho onde vivemos, via renda ou empréstimo, pagamos livros escolares, pagamos a segurança social e a saúde via descontos no montante a que o nosso trabalho nos dá direito. Obrigatoriamente. Tudo sem que tenhamos o direito de ter uma palavra a dizer, o direito à escolha, o direito a qualquer espécie de opção sobre a nossa vida e o nosso futuro. Tudo sem qualquer correspondência entre aquilo que pagamos e aquilo que recebemos. Tudo nacionalizado, tudo utilizado pelo Estado a seu bel prazer para os fins que entende, e não gerido como devia, isto é, aplicando o nosso dinheiro e o dinheiro que a sua gestão rendesse aos fins para que o “depositámos”, compulsivamente, nas mãos do Estado. É isto o que se chama Estado social, numa concepção socialista e, desgraçadamente, constitucional.

O resultado, de um ponto  vista civilizacional, foi a criação de uma sociedade de irresponsáveis -  todos o somos -, confiantes num mastodonte com quem o diálogo é impossível: o Estado “social”.

É claro que, quando tal Estado chega ao estado em que está, desaparecem os direitos, ou seja, aquilo a que tínhamos o direito de pensar que tínhamos direito. Não temos. Se nos competisse gerir pelo menos a maior parte da nossa “segurança social”, se calhar éramos mais responsáveis e mais previdentes. Confiaríamos em quem nos oferecesse confiança, não em quem nos obriga a pagar, coarctando-nos a liberdade e proibindo-nos as opções.

O Estado poderia entrar em cena para colmatar problemas nossos, provenientes de problemas daqueles a quem tínhamos confiado a nossa saúde, a nossa reforma, etc.. Os responsáveis seriam os interessados, não a burocracia estatal, não a “gerência” estatal de tudo e mais alguma coisa.

O Estado assumiu tudo. E, falido que está, não retribui, nem pode retribuir, agora, aquilo a que se comprometeu, nem está em posição de ajudar aqueles que obrigou a pagar. Por isso que a solução do problema, se houver solução, não possa deixar de passar por uma espécie de revolução cultural, a revolução da responsabilidade individual e da profunda reforma do Estado. Numa palavra, uma revolução que ponha cada um no seu lugar. Um trabalho para décadas, impossível de realizar enquanto o “social” for confundido com socialismo.

Li há dias que nada há de mais inconstitucional do que o Estado. Se temos que comprar ou alugar casa, é porque o Estado, à revelia dos “direitos” que o socialismo inseriu na Contituição, não nos deu uma casa digna, como é sua obrigação. E por aí fora, no que respeita aos restantes “direitos” sociais. Se o Estado não os garante, nem jamais pode garantir,não está a cumprir a Constituição. O que bem revela a natureza demagógica, ultra-ideológica e fatal da nossa Constituição.

Se o Estado é, com geral aceitação, o primeiro dos ofensores da Constituição, por que carga de água anda para aí tanto miranda a esgrimir com ela para os seus paralisantes e pouco inteligentes fins políticos?

Dir-se-á que a posição do IRRITADO é maximalista e irrealista. Talvez seja. Mas, se não tivermos este tipo de ideias e objectivos como guia da nossa concepção do Estado, da sociedade e da natureza da Natureza Humana, não deixaremos a quem nos vier a substituir nada que, substancialmente, valha a pena ou tenha futuro.  

 

15.12.12

 

António Borges de Carvalho

O JACOBINO, O MEDROSO E O INVEJOSO


Jamais passaria pela cabeça do IRRITADO que as opiniões expendidas pela dona Isabel Jonet pudessem dar o falazar que deram. Quando parecia que a generalizada crise de idiotia intelectual já tinha passado, a coisa volta à tona de onde menos se esperava: a semanal reunião “doutrinária” de político-intelectuais, dita “Quadratura do Círculo”, destacado programa onde peroram dois figadais inimigos do governo, acolitados por um tímido adepto de um dos partidos da coligação, sempre de pé atrás mas com alguns momentos de clarividência.

A que propósito, num programa de discussão política, se passa uma hora a zurzir a pobre senhora?

É culpada, segundo o jacobino, de ter uma filosofia de tipo confessional, enquanto, como cidadã, deveria ficar-se pela “solidariedade”, uma virtude do Estado. O tenebroso passadismo, ínsito nas afirmações da senhora, o recurso à ideia de caridade, são sinais anti-sistema, como que facadas na superiorioridade do politicamente correcto. É claro, concede, que a obra da senhora tem mérito, mas teria muito mais se fosse baseada noutro sentimento que não o amor ao próximo, coisa de crentes e não de cidadãos. Ainda que, é claro (que chatice!), não se lhe possa negar o direito à opinião ou à fé.

O adepto de um dos partidos da coligação, esse, a propósito da defesa da ré, não deixou de  enaltecer, em termos de valores, a alta primazia moral dos valores sociais, num “círculo de justiça”, enquanto os valores da senhora se encontram num círculo mais estreito, o da sua (dela) inspiração pessoal. Não se percebe porque entrou o ilustre jurista neste tipo de considerações, ainda por cima declarando-se católico apostólico romano. Mas, enfim, há que contemporizar com a “correcção”, não é?

O terceiro homem, porém, outra desculpa não tem que não seja a da perturbação mental. Tanto tempo passado, ainda não foi capaz de digerir a derrota da sua guru de eleição, dona Manuela. A frustração, a inveja, o ciúme e outros sentimentos de paralela nobreza fazem-no perder a cabeça, ou uns restos de seriedade. Então não é que, para ele, o Banco Alimentar, porque inspirado nos sentimentos, ideias e crenças da dona Isabel, não passa de um sinal da filosofia anti social do governo, do poço neoliberal em que estamos metidos, de uma manifestação de desprezo pelos cidadãos e de mais uma série das mais horrendas e culpas, entre as quais, imagine-se, o pecado de orgulho(!)?

Com um tremendo esforço, será talvez possível aceitar a permanente verrina do Pacheco contra quem o alijou do poder partidário e o apeou do colorido trono de filósofo oficial da liderança do PSD. Mas que até da dona Isabel Jonet se sirva para as suas diatribes, isso está para além do imaginável, é um sinal claro da descida aos infernos da inteligência por parte de um homem que, mais que não fosse por uma questão de self respect, bem podia estar calado, ou arranjar melhores bombos para a sua miseranda festa.

 

14.12.12

 

António Borges de Carvalho

NOBEL DA PAZ

 

Do Impéro Romano a Carlos Magno, de Carlos V a Napoleão, de Estaline a Hitler – a enumeração não é exaustiva - houve vários modelos de “União Europeia”. Todas elas fruto de guerras, chacinas, ocupações militares e sofrimento dos povos. Todas com a mesma “desculpa”: uma Pax Romana com o fromato que os tempos, as ideias e os cabos de guerra lhe deram. Sempre se fez a guerra com o objectivo final da paz, mas uma paz cujo alicerce foi sempre o domínio político e militar de uns sobre outros.

No século XX, também no seguimento de guerras, as piores de todas, duas “uniões europeias” nasceram. Uma, a Leste, à força das armas: a do pacto de Varsóvia. Outra, a Ocidente, fruto de nobres ideais: a União Europeia onde hoje vivemos.

Aquela, acabou por exaustão, ineficácia e cansaço de uma dominação tirânica.

Esta, fruto de um caldo de cultura em que se misturavam o horror à guerra, os interesses económicos e as ideias políticas, pareceu consolidar-se durante décadas.

Criou um gigante económico, mas um anão político. Por ser um anão político, está hoje em causa o gigante económico, e em risco de desaparecer. Como por aí à exaustão se repete, criou-se uma moeda comum, mas não se acautelaram os meios para o seu normal funcionamento. Criou-se um parlamento, que nada tem a ver com o conceito de poder legislativo, uma estrutura de utilidade discutível, mas que custa uma formidável fortuna. Estabeceu-se uma burocracia, à sua maneira todo-poderosa, mas que só trata de “regulamentos”, sem poder nem legitimidade política para muito mais.

A razão dos males europeus é simples e evidente. A solução é complicada, ou quase impossível. É que, não se tendo criado um verdadeiro universo eleitoral europeu, não se legitimou um poder que se quereria forte e equilibrador. Descurou-se a produção industrial, transformou-se o sector primário numa anedota dependente de subsídios, criou-se labirintos burocráticos caros e pouco “produtivos”. Quis-se fundar uma política externa, mas criou-se coisa nenhuma. Abandonou-se a ideia de poder militar, indispensável à segurança e à paz. Lá estavam os EUA para gastar dinheiro com essas coisas e proteger a União. Ainda estão? Não parece.

Em suma, a democracia formal, ou liberal, fundamento de todo o Direito e de todos os direitos, foi menosprezada. Os esteios da união económica dissolvem-se rapidamente.

Daqui, a crise. Ao primeiro abanão, renasceram os egoísmos nacionais, desapareceu a solidariedade, tudo a recordar os temíveis anos 20 a 45 do século passado.

Não sei se o que escrevo é realista, catastrofista, ou as duas coisas. Sei que, nas condições actuais, ou há um vigoroso salto político, ou o esboroar do ideal europeu é inevitável. Sei também que tal salto é quase irremediavelmente improvável.

 

Vem isto a propósito do Nobel da Paz que a União Europeia ganhou. Ganhou-o com justiça, se pensarmos que a Paz reina na Europa pelo mais longo período da sua história. Mas, por outro lado, o Nobel cheira ao crepúsculo de uma era: um prémio do tipo “brigada do reumático”, a tentar salvar e louvar o que já não tem remédio.


Pessimismo? Prouvera que sim.

 

13.12.12

 

António Borges de Carvalho

MIRANDISMOS


Nunca me veio à cabeça imaginar por que carga de água é que a estimável criatura que dá pelo nome de Jorge Miranda há-de ser considerada “pai da Constituição”. Um mistério entre os muitos que pululam a nossa vida política. Facto, porém, é que esta “verdade”, milhares de vezes repetida, passa a verdade mesmo. Lá dizia o Lenine, como é do conhecimento geral e, pelos vistos, como é aceite pelos nossos mui sábios media.

Se eu fosse ao homem pintava a cara de preto. Se eu fosse à Constituição, tinha vergonha do meu pai.

São conhecidas as melodramáticas circunstâncias em que a Constituição foi feita. Coitada, vítima do PREC, da vigilância militar, coisa que, mesmo democrática, como hoje se imagina ao olhar – horribile visu! – ou ouvir os gurus do tempo, como um tal Vasco Lourenço, nunca passou de socialista. Tudo bem. Democracia, OK. Desde que seja socialista. A chamada revolução tinha deixado de ser comunista, mas passara a ser “só” socialista. A Constituição saíu deste caldo de cultura, prolixa, paradoxal e injusta, um programa ideológico em vez de uma lei fundamental. E o Miranda que não nega a paternidade nem vem dizer que não, que não façam dele tai de tal coisa. Defensor, talvez. Paladino. Cavaleiro ao serviço da dama. Mas, que diabo, tanto tempo passado, não seria de esperar, aceitando como verdadeiras a inteligência e o saber do homem, que lhe desse na pinha algum senso crítico? Não. O homem defende a filha, tão mal tratada, diz ele, pela crise e pelos que querem sair dela. O homem é firme. O que a filhinha diz é para ser respeitado no mais estrito dos sentidos. Nada de interpretações, nada de resolver seja que problema for, se tal beliscar, por pouco que seja, a fímbria das vestes da criatura! Se assim não for, ó desgraça, a malandragem que por aí anda é capaz de me retirar o título de “pai”! Título que ouço por aí, que não merecerei mas me agrada tanto!

Miranda, do ponto de vista constitucional, é o que se pode chamar um reaccionário empedernido, um intelectual mentalmente tetraplégico.


Mas... a “verdade” é o que aparece. No jornal de ontem, em grandes parangonas, as exigências do Miranda, que o PR tem que mandar o orçamento para o Tribunal Constitucional - a fim, é claro, de ficarmos sem orçamento - que isto não pode ser (o Miranda deve ter alguma mina de ouro para tapar o buraco, mas não diz nada a ninguém), que há dúvidas formais e materiais, leia-se ideológicas, que, que, que.

Bom, isto era a parangona. A seguir, no texto da “notícia”, vínhamos a saber, certamente por amor à “verdade” jornalística, que o Miranda era um dos opinantes numa sessão qualquer, onde até havia pelo menos um, com “galões” paralelos, que dizia exactamente o contrário da mirandal opinião. Mas, para esse, nada de parangonas. Duas linhecas lá para o fim da “notícia”, como se de um figurante se tratasse, num filme em que a estrela era o Miranda.

É isto a “informação” que temos. Quem não tem tempo para mais fica-se pelas parangonas. Não é isso o que interessa?

 

12.12.12

 

António Borges de Carvalho

RACISMOS

 

Anda, e com toda a razão, o mundo inteiro impressionado com a fotografia de um homem a dois segudos de ser trucidado pelo comboio do metropolitano não sei de onde, na América.

Segundo a imprensa, nacional e internacional e de todas as cores tamanhos e feitios, aconteceu que o infeliz estava na plataforma da estação à espera de transporte, como mais uma data de gente. Tudo normal. Eis senão quando, outro homem, zás!, dá-lhe um encontrão e espeta com ele na vala da linha. A fotografia mostra os esforços desesperados do agredido para saltar cá para fora. Não conseguiu. E lá vem o “cavalo de ferro” dar-lhe cabo dos costados. Ali morreu, estraçalhado, como um cão na auto-estrada. Com a agravante de saber que ia ser estraçalhado e que nada podia fazer. Imagine-se a aflição que sentiu nos segundos que antecederam ter deixado de sentir fosse o que fosse.

Indo um pouco mais longe, diga-se que o assassino era preto e o assassinado asiático.

Agora, imagine-se o que aconteceria se o assassino fosse branco e o assassinado preto. O que se escreveria na imprensa internacional, sobretudo na americana. Mais uma manifestação de  tenebroso racismo! Uma prova provada de que, nos Estados Unidos, a persegição aos pretos continua ao nível dos tempos da escravatura! Uma demonstração dos ódios primários e criminosos que “governam” a sociedade americana. Um sinal claro das consequências do neoliberalismo, do egoísmo levado ao extremo pelos exageros do individualismo capitalista! Durante semanas, ouviríamos psicólogos, sociólogos, politólogos, psiquiatras, enfermeiros, locutores, vizinhos, primos da empregada doméstica, escalpelizando o fenómeno, por unanimidade considerado exemplo marcante de uma sociedade dividida e traumatizada. Os boaventuras sousas santos, por esse mundo fora, aproveitariam para propagandear os seus estudos, as suas brilhantes asserões, conclusões e opiniões.

Mas, raio de azar, o assassino era preto e o assassinado asiático. A coisa passou rapidamente a fait divers, e já pouco se fala nisso. A não ser, é claro, que o assassino é bi-polar, que teve “uma branca”, que o encontrão foi casual digam as testemunhas o contrário ou não, etc. por aí fora. Ainda acaba por ter atenuantes, dado o facto de ser preto.  Ou por ir parar, absolvido, a uma cómoda instituição.

Não me canso de pensar que são da mesma raça os que se podem cruzar. Na humanidade, como na caninidade, há uma só raca, com algumas variantes. Cruzamo-nos, se nos apetecer. As distinções não são de raça, são de caracteres secundários. Não se negue que há, ou haverá sempre, diferenças culturais e civilizacionais que dificultam a convivência, às vezes com indesejáveis consequências. O que não quer dizer que se trate os assuntos com critérios de moda, de perseguição, ou de acicate de maus sentimentos. Que é o que acontece.    

 

10.12.12

 

António Borges de Carvalho

PRIVILÉGIOS


Nas suas pequenas andanças dominicais, foi o IRRITADO levado até ao Parque das Nações. Fez umas compritas no AKI, e meteu-se à estrada para regresso às Avenidas Novas.

Ao chegar à Avenida de Roma, um polícia fê-lo dar meia volta. Que chatice! Na avenida passavam, ora um ora outro, uns tipos de calções, a correr. Rastaparta o azar. Logo hoje que tive a peregrina ideia de ir comprar duas fichas fêmeas é que estes palermas resolveram andar para aí às corridinhas sob a protecção prestimosa e autoritária da PSP! Obedeço, dou a meia volta da ordem e meto-me por aquelas ruas um tanto intricadas do bairro. Dou comigo na impossibilidade de inverter a marcha na Avenida dos EUA e decido ir até ao Areeiro, para apanhar a João XXI. Qual quê! A tropa fandanga subia a Almirante Reis e virava à esquerda. Outro polícia a enxotar os carros. E lá vou eu para os lados das Olaias dar a volta para apanhar o túnel do Soares até ao Campo Pequeno. Vitória!

Umas continhas, quiçá erradas. Perdi três quartos de hora e, pelo menos, um litro de gasolina. Calculando em dez mil o número de cidadãos a quem terá acontecido mais ou menos o mesmo, teremos uns dez mil litros. Pelo menos 15.000 euros para o galheiro. Isto sem contar com os nervos em franja, as chatices, o tempo perdido, sabe-se lá se o Domingo estragado, os encontros perdidos, as zangas por causa dos atrasos.

Tudo isto porquê? Porque há uns milhares de cidadãos que, com todo o direito, gostam de andar umas horas a esfalfar-se, sentindo-se uns desportistas, viris, cheios de fitness. Gabo-lhes a pachorra e não os condeno. Pois se até o Sampaio e o Pinto de Sousa eram clientes da modalidade, porque não hão-de os bombeiros, os pedreiros, até os doutores e os engenheiros fazer o mesmo?

Muito bem, divirtam-se. Se tiverem algum colapso, lá estarão o INEM e o SNS para tratar do assunto.

O problema está em saber se estas maralhas têm o direito de impedir os outros de fazer a sua vidinha normal. Corram, esfalfem-se, tenham síncopes, o problema é deles. Mas o que é que os outros têm com isso? Não podiam fazer a coisa numa pista de corridas, não podiam passar o dia a correr à volta do jardim do Campo Grande? Não podiam fazer a farra numa auto-estrada, dessas que não têm carros, guardando a outra faixa para os dois sentidos do lá vem um? Porque não usam a ciclovia do Guincho a Cascais, mais o paredão de Cascais à Azarujinha, ida e volta, as vezes que quiserem? E de madrugada para não prejudicar as pessoas normais?

Eu sei que há coisas destas em locais talvez mais nobres que Lisboa, Londres, Paris, Nova Iorque, etc., e que em todas é a mesma fita. Mas não é por ser moda que está certo. Uma vez, em Paris, assisti a uma manifestação do género. Felizmente, nesse dia levantei-me tarde e só presenciei o patético rescaldo: centenas de desgraçados, semi-nus, com umas coisas de plástico a cobri-los, fornecidas pela organização, por pudor ou para não enregelar no meio da rua. Coisa deprimente e absurda.

Fica a reclamação. Corram mas não chateiem.

 

10.12.12

 

António Borges de Carvalho

COERÊNCIA


De vez em quando, somos visitados pelas “bocas” de um tal Anacoreta Correia (será filho do Anacoreta bom, ou do Anacoreta mau?), feroz inimigo interno do Portas. O homem passa a vida a deitar a cabecinha de fora, em críticas e mais críticas, diatribes públicas e mais diatribes públicas. É caso para perguntar porque não faz outro partido, como há anos, com assinalável flop, fez o Manuel Monteiro. Mas isso é lá com ele.

A acreditar no que escrito anda, o homem resolve pela primeira vez o preocupante problema da quadratura do círculo, pelo que merece o nosso mais profundo respeito científico.

Segundo a primeira página do “Sol” de hoje, o nosso rapaz, preocupadíssimo com o aborto, a adopção gay, a eutanásia e coisas do género, é nem mais nem menos que “influente maçon”! Ou seja, um democrata cristão da ala mais conservadora do CDS, é membro influente da organização dos “mata frades”, dos maiores inimigos da Igreja Católica, dos adeptos de tudo aquilo a que ele, militantemente, se opõe! É ou não a quadratura do círculo no seu melhor?

Merecerá o benefício da dúvida. Ou o jornal mentiu ou, quem sabe, haverá alguma nova maçonaria que use cruzes e água benta em vez de compassos e olhos zarolhos.

 

7.12.12

 

António Borges de Carvalho

NÃO SE PERDEBE


Ao que se lê por aí, parece que a coligação propôs aos 3,01 partidos da oposição (0,01 é o do partido melancia) realizar um debate, primeiro público, depois parlamentar, este com os ministros de cada pasta, tudo seguido por três debates no plenário, tendo como objectivo discutir e votar propostas concretas sobre como “mudar o modelo” de Estado.

Estulto seria pensar que os partidos comunistas (2,01) aceitassem tal proposta, já que não aceitam nenhuma. Sairia do “modelo” que têm em vigor.

Já em relação ao PS, auto proclamado partido democrático, partido de diálogo, partido tolerante, partido construtivo, etc. e tal, a recusa parece estranha, isto porque não faz parte do soi disant “modelo” da organização. Da formulação da proposta, concluiu a agremiação que se trata de discutir cortes e mais nada. Também podia ter concluído que se tratava de se debruçar sobre o formidável problema da época da lampreia, questão que também se pode, com toda a lógica, extrair da proposta da maioria.

Nada disto espanta, dada a forma prestimosa como o PS, ou se queixa de não ser ouvido, ou recusa ouvir quando a maioria se propõe falar com ele. Isto, na opinião do oco e dos seus apoiantes, deve derivar da impecável postura dialogante e verdadeiramente democrática que anima as hostes. Percebe-se.

O que não se percebe é a posição assumida pela Excelentíssima Senhora Dona Doutora Presidente do Parlamento, que se opôs à iniciativa com o argumento da necessidade de consenso de todas as bancadas para andar com a coisa para a frente. Sabendo, à partida, que jamais tal consenso seria possível, foi uma forma sibilina de dar cabo do assunto, quiçá valendo-se de algum penduricalho regimental.

Assim vai o diálogo, o debate de ideias, a democracia em Portugal.

Não se diga que o IRRITADO é um entusiasta de iniciativas do tipo da da maioria. Não é. O IRRITADO prefere o exercício da autoridade e do poder, desde que legítimos, à discussão permanente e à tergiversação na tomada de decisões. Coisa que, infelizmente, é, por motivos internos e externos, pecha deste governo.

O quer não quer dizer que a posição da senhora presidente tenha algum merecimento. Afinal, o que anda ela a fazer por lá? A promover o diálogo e o debate das ideias, ou a limitá-lo e impedi-lo?

 

7.12.12

 

António Borges de Carvalho

FERIADOS DIPLOMÁTICOS

 

Diz-se que Portas delegou nos chefes de missão diplomática a decisão sobre o feriado do 25 de Abril. Ficará ao critério de cada um respeitá-lo ou não. Vai ser bonito o coro de protestos, de raivas, de acusações. O homem vai passar a fascista, salazarista, quem sabe se nazi ou adepto do Real Madrid.

A questão levanta diversas perplexidades.

Se o feriado é nacional, se as embaixadas são território nacional, parece evidente que não compete aos embaixadores determinar que se respeite ou deixe de respeitar. Respeita-se e pronto. Por outro lado, é sabido que as missões diplomáticas respeitam os feriados dos países onde se encontram, o que dá ao pessoal a deliciosa oportunidade de ter feriados a dobrar. Assim, compreender-se-ia que os feriados meramente nacionais não fossem respeitados, ficando-se pelos dos outros. Há razões para tal: fará sentido que as embaixadas estejam abertas quando tudo está fechado, ou que estejam fechadas quando tudo mexe? Neste caso, porém, a regra aplicar-se-ia a todos os feriados, não especificamente ao do 25 de Abril.

Postas as coisas como parece que Portas as pôs, trata-se de inútil, estúpida e provocatória decisão.

Esclareça-se que, na opinião do IRRITADO, a democracia e a liberdade deveriam comemorar-se a 25 de Novembro, data verdadeira da sua “fundação”. De Abril de um ano a Novembro de dois anos depois, até faz vómitos lembrar o que se passou.

Como é evidente, esta preferência do IRRITADO é coisa que não tem pés para andar. Mas que fique expressa, por uma questão de princípio.

 

7.12.12

 

António Borges de Carvalho

BÁSICO?


Já ninguém sabe se o PM queria, ou insinuava, que o secundário devia ser objecto de taxas moderadoras ou coisa que o valha, ou se estava a dizer outra coisa qualquer. A confusão instalou-se. O Crato diz que não, que não era isso que o chefe queria dizer. Há quem diga o contrário. Venha o diabo e entenda.

Uma pequena reflexão.

Quando, sob a batuta do PC, do “socialismo democrático” e da “social-democracia”, foi aprovado o prolixo e programático documento a que se dá o nome de Constituição, o ensino “básico” era de 4 anos. Pergunta: a Constituição, quando diz “básico”, quer dizer obrigatório? Ou o “básico” continua, ou continuava, a querer dizer ensinar a ler, a escrever, a contar e mais umas coisinhas? Quem o saberá?

Aceitemos a confusão de conceitos. O problema é que o ensino obrigatório passou a ser de 6, depois de 9, agora parece que vai passar a 12 anos. A Constituição continua a obrigar o obrigatório a ser gratuito? Ou passou a chamar-se básico ao obrigatório? Já agora, porque não mais uns anitos? Tudo minha gente obrigatoória ou basicamente licenciado? Porque não doutorado? Porque não passarmos todos a catedráticos, e sempre de borla?

O IRRITADO não vai contra. Ficávamos todos a ensinar-nos uns aos outros. Um fartote. Morríamos de fome, mas cheios de sapiência.


Muito a sério, meus senhores, o que a Constituição diz (“ensino básico gratuito”) não se aplica ao ensino actual. Porque não se pode aplicar. Porque o ensino obrigatório não tem nada a ver com o ensino básico de que a Constituição falava. Se o PM disse que era possível que viesse a haver participação dos estudantes nos custos do secundário, afirmou algo de indesejável, mas não disse nada de inconstitucional.

Verdade verdadinha é que o ensino básico, obrigatório, primário, secundário ou o que lhe queiram chamar, tem pouco de gratuito. É que, só em livros (manuais!), as famílias gastam muitas vezes o que não têm. Fora o resto.


Durante décadas, exércitos de “pedagogos”, acantonados no ministério da educação, dedicaram-se a parir coisas novas, programas, currículos,sistemas, tudo a implicar que os livros deste ano para o ano que vem já não prestassem, tudo a encher de dinheiro as editoras que, e muito bem, espreitam as oportunidades que os tais pensadores lhes vão oferecendo. As escolas não têm o direito à pedagogia, feudo exclusivo de “quem sabe”. E quem sabe, lá na 5 de utubro, sabe hoje uma coisa e amanhã o seu contrário, que o que é preciso não é ensinar, é publicar estudos, nvestigações e... manuais. O que, além de tudo mais, justifica a “utilidade” de inúmeros funcionários.

Haverá algum português que saiba quantas “reformas do ensino” já se fizeram durante a III República?

O IRRITADO acha, ao que tem lido sobre o assunto, que, acabando com a mama dos manuais e dos intelectuais e dos pedagogos, por cada estudante se pode, em média, libertar uns cem euros por ano. Se, desses cem euros, cinquenta passassem a propina, perdia-se alguma coisa? No fundo, se o PM disse o que para aí se diz que disse, talvez nem andasse longe da razão. Tinha era que dizer como.

 

4.12.12

 

António Borges de Carvalho      

PALESTINA, GOVERNO, PC E CULTURA E… SOARES


Tem o IRRITADO andado em vilegiatura moral por razões que a razão desconhece, nem vêm a propósito, nem ninguém tem nada com isso.


Posto isto, peguemos no assunto do dia, nada menos que mais uma douta intervenção do camarada Mário Soares no jornal do amigo Oliveira pelo menos por enquanto. Se os tipos do MPLA tomam conta da coisa, lá vai o Soares às urtigas  de braço dado com o Oliveira. Terá que ir pedir batatinhas à doutora do jornal privado chamado Público. Enquanto o pau vai e vem gozam as costas e vai-se debitando umas bocas, que lá nos confins do bestunto o nosso homem deve achar que ainda há quem lhe ligue. E é que há mesmo, este país é assim.

Mal recuperada estava a Nação das emoções causadas pela carta que, sob a soaresca batuta, uma ínclita brigada do reumático mandou já não se sabe a quem, debitando cassetes que veem todos os dias nos jornais escrevinhadas por legiões de atacantes, eis senão quando nova intervenção surge a iluminar-nos o caminho. O escrito da brigada do reumático, coisa barata e ridícula, ou patética como muito bem disse o Pulido, já tinha três ou quatro dias de vida, o que é muito para tal patetice. Havia que insistir.

Para embrulhar o pacote, o autor de “O tempo e a memória” tratou de dar à diatribe o inocente título “A Palestina na ONU”. Em compensação, os arautos do amigo Oliveira espetaram em manchete de primeira página, com fotografia e tudo, a frase fundamental do escrito: “O povo não existe para o primeiro-ministro”. Tem piada que, no tempo do senhor Pinto de Sousa, o jornal escrevia Primeiro-Ministro. Pormenores.

E lá vem a Palestina. O homem tece umas considerações mais ou menos anódinas, não diz nada de novo. Se quisermos tirar alguma coisa do arrazoado, lá está nas entrelinhas a condenação do Netaniau e do lobby judaico dos EUA. Como é de timbre e fica bem.

Chega a cassete. O tolerante, o simpático Soares, perde mais uma vez a tineta, esperneando a intolerabilidade e a antipatia que é isto de haver um governo onde o PS não mete o bedelho. Malhas que o eleitorado tece, mas Soares não reconhece. Para ele, ninguém, mas absolutamente ninguém em Portugal apoia este governo. E descreve-nos a todos, dos médicos aos sacerdotes, dos militares de todas as patentes aos cientistas e aos rurais, numa interminável lista que a toda a gente inclui. Todos. Todos contra o governo. A este respeito “não há qualquer dúvida”. Não se sabe onde o ilustre articulista mete os 35% de pessoas que, segundo as sondagens, votam na coligação. Devem ser espanhóis, cartagineses ou visigodos.

A propósito do orçamento, entra em cena a sacrossanta Constituição. Ninguém gosta do orçamento. Esta magnífica descoberta tinha já sido feita pelo Primeiro-Ministro, que também não gosta e já o disse. Chega então, por uma questão de credibilidade, a trupe dos constitucionalistas de serviço, quer dizer, do PS ou apaniguados.

A Grécia, que está no estado em que está, também merece loas do senhor. Diz ele que não somos como a Grécia, mas “antes fôssemos”. O sono da razão engendra monstros, não é?

O artigo do ex-Presidente, ex-Primeiro-Ministro, ex-etc., já tinha dito o fundamental: morte a este governo! Depois, reembrulha a coisa com um capítulo sobre o congresso do PC, onde diz coisa nenhuma, para além de lamentar que não seja possível, com este PC, um verdadeiro governo de esquerda. Exactamente o mesmo que diz o camarada Jerónimo acerca do PS.

Finalmente, o raminho de salsa cultural. O fim do programa “Câmara Clara”. Um “crime”, acabar com o “melhor programa cultural da RTP”. “Uma indignidade”.

Correndo o risco de ser linchado na praça pública, o IRRITADO atreve-se a dizer que o tal programa, há uns sete anos no ar, talvez fosse intelectualmente uma maravilha, mas era também o programa cultural mais chato, monocórdico, entediante e pretensioso de que há memória. Que saudades do “Assim Acontece” ou das arengas históricas do doutor Hermano Saraiva!

Venham mais programas culturais, mas dos que não afastam as pessoas da cultura ou não a transformem em covil de “altas mentes”. Todas do PS, como é evidente!

 

4.12.12

 

António Borges de Carvalho       

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