PRESIDENCIAIS PRINCÍPIOS
Dando largas a uma ambição tão infrene como mal avaliada, o Presidente da República, de uma assentada, deu cabo da sua fama de “homem de princípios” e de uma boa parte do seu eleitorado.
Católico, inimigo, ao que se julgava, dos novos conceitos de “família”, pisou a sua própria dignidade e a daqueles que nele acreditavam enquanto defensor e garante de tais princípios.
Aqui há uns anos, S.M. o Rei dos Belgas, posto perante semelhante caso, abdicou por um dia, a fim de se não corresponsabilizar numa decisão que ofendia gravemente a sua postura moral.
A única atitude de semelhante altura que o Professor Cavaco Silva podia tomar seria a de vetar a lei do “casamento” dos chamados homossexuais. Era sabido que a maioria de esquerda no Parlamento a faria passar. Mas o Presidente podia continuar a olhar para o espelho e a gostar do que via, assim como aqueles que comungam de convicções semelhantes, religiosas ou meramente civis, veriam nele alguém de recta coluna vertebral.
Ainda por cima, para agradar a gregos e a troianos, o Presidente veio reafirmar as suas opiniões sobre o assunto, para depois se borrifar neles… por causa da crise!
O que terá a crise a ver com tais “casamentos” é coisa que não passa para o lado de fora do presidencial bestunto. Ou então, é coisa que o presidencial bestunto sabe tão bem como nós, mas que, almejando uns votos mais, meteu na gaveta.
É feio. Muito feio.
Cavaco Silva, com isto, não vai buscar nem mais um voto à esquerda e perde uma data deles à direita e ao centro. É de pensar que, no presidencial raciocínio, deve ter vingado a ideia de que essa gente, se não votar nele, não tem em quem votar.
Como o futuro o dirá, engana-se. E é bem feito!
19.5.10
António Borges de Carvalho