INTELIGÊNCIA E ORIGINALIDADE, OU DA TÉCNICA DO LUGAR COMUM
Lembram-se daquela história do lente que, depois de ouvir o examinando, disse: “A sua dissertação é feita de ideias boas e de ideias originais. O problema é que as boas não são originais e as originais não são boas…”?
Estava tudo dito e o chumbo garantido.
Vem isto a propósito da mensagem de Natal do insigne Seguro. O homem espremeu as meninges e debitou coisas tão originais como “há mais política para além do défice”. Tal política, diz, faz-se “criando riqueza em vez de ficarmos mais pobres”. Notável, tanto o brilho das ideias quanto o uso da língua portuguesa.
Pobre imitador dessa desgraça em figura humana que sobre nós se abateu e se chamou Sampaio, Seguro não se lembra da guerra que o seu antecessor no PS fez à política orçamental da dona Manuela, gritando aos sete ventos a cassete de “economia”, nem parece ter dado pelos resultados que tal douta cassete acabou por nos oferecer.
Outra maravilha, digna do Guiness, é esta afirmação: “há outro caminho para sairmos da crise”, coisa martelada à exaustão pelo camarada Jerónimo, pelo arcebispo Louça e por tantos outros notáveis especialistas nestas matérias. Tal como esta fogosa matilha, o Seguro não diz - não sabe ou guarda segredo - que caminho será esse, levando-nos a pensar tratar-se do caminho por onde andávamos durante os inolvidáveis tempos do senhor Pinto de Sousa.
Sejamos justos. O homem, afinal, aponta um caminho de uma originalidade e de uma qualidade intelectual a toda a prova. Caminho que se fará “apostando no crescimento económico, no emprego e mobilizando os portugueses”, bem como “apoiando as nossas empresas e estimulando a nossa capacidade empreendedora” porque “só o emprego e o crescimento garantem…”, bla bla.
Depois, vêm o inevitável “sentido de justiça e de solidariedade”, o “equilíbrio”, a “sensibilidade social”, e outra vez o “sentido de justiça”. Fantástico!
Ah! É verdade! Com a originalidade dos orangotangos, o camarada dirige-se “em especial aos mais desfavorecidos”, por certo gente, como o povo português em geral, cheia de “talento e com muita competência”.
Estaríamos mais fritos do que já estamos se o Seguro fosse a incarnação do talento e da muita competência dos portugueses.
26.12.11
António Borges de Carvalho