DA VERDADEIRA OPOSIÇÃO
Ele há várias oposições ao governo: as que contam e as que não contam, isto é, aquelas com que o governo se deve preocupar e aquelas com as quais não vale a pena perder tempo.
Nestas, como é evidente, agigantam-se o PC e o BE. Senhores de fácil paleio, apresentam, com ligeiros cambiantes, a mesma receita, coisa que até o mais estúpido percebe que só pode levar às maiores calamidades económicas e políticas. Talvez, em eleições, subissem um pouco, à custa de repetir críticas imediatas e primárias, na esperança que haja mais quem coma disso. Não há. Têm um discurso dito democrático, mas, quem quiser saber o que lhes vai na alma, leia as arengas do Jerónimo no novo programa: loas a Staline, vivas à URSS, e bolores do estilo. A ditadura está-lhe na massa do sangue. Disfarçada para papalvo ver, não deixa de lá estar por isso. Vir à tona será mais difícil, é preciso esperar pelas “condições objectivas”. O BE não anda longe disto. Vai disfarçando, mas o “substracto” é o mesmo, em versão disfarçada mas afim.
A seguir, temos as mesnadas sindicais da mesma origem. Desta vez, conseguiram pendurar-se no protesto legítimo, espontâneo e inorgânico que surgiu semanas atrás, para apregoar a requentada cartilha do marxismo-leninismo e tentar capitalizar às costas de terceiros.
Finalmente, temos o PS, a nave dos loucos. Uns, muitos, defendem receitas socrélfias, qua não há quem não condene. O actual chefe é, unanimemente, considerado oco. Coitado, está entalado entre um passado vergonhoso, que tem medo de criticar, e o memorando da troica, de que não gosta mas a que não pode fugir.
Nenhum destes sectores, e senhores, é susceptível de meter ao governo medo que se veja. Deixá-los espernear. Não marcam golos.
Vejamos agora o que são as oposições propriamente ditas, as que destroem, as que ferem, as que são um problema sério para o governo. As primeiras estão no próprio governo. É a falta de explicações, é o pudor de dizer qual a verdadeira situação que veio encontrar, é a teimosia do Relvas em ficar a todo o custo, sem cuidar da descredibilização que causa. É, sobretudo, a pouco séria e catastrófica atitude do senhor Portas e seus próximos. Incapaz de perceber que, se entrou no barco, tem obrigação de não soprar velas ao contrário, Portas tem, ou devia ter a obrigação de tratar das questões intramuros e não na praça pública. Não deve, ou não devia andar para aí a fazer cara de pau. Acima de tudo, tem, ou teria, a mais elementar e patriótica obrigação de não pôr os interesses do partido acima dos do governo.
Depois, temos a mais feroz ainda porque mais demolidora, oposição interna do PSD, coisa endémica que só Sá Carneiro, por autoridade pessoal, e Cavaco, por taxos, conseguiram dominar. Desta vez, corporizam-na fulanos como Pacheco Pereira, que ainda não ultrapassou a dor de corno que a queda da sua “patroa” Manuela lhe causou. Integra-a a própria Manuela, diz-se que por ordem de Cavaco, o que é não é certo. Dor de cotovelo é mais provável. Depois vêm autores menores, mas não menos perigosos: Capucho, por exemplo, senhor das mais tremendas frustrações, às quais reage com destrutiva brutalidade até que lhe deem uma câmara qualquer. Isto sem contar com o Marcelo, viciado nestas coisas e incapaz de ver para além dos seus interesses mediáticos e económicos. À horda, talvez com alguma surpresa, veio juntar-se há dias o Marques Mendes, quiçá ao cheiro de poder pessoal, dadas as suas boas relações com o PR.
Há mais, mas fiquemos por aqui. São estes os que, “patrioticamente”, demolirão o governo, se Passos não os defenestrar de algum modo. Lembrem-se de Santana Lopes (nome a nome, o melhor governo que tivemos na última década), que foi demolido pelos mesmos.
Em suma, o que falta à nossa política, hoje em dia, é bom senso, lealdade e honra.
7.10.12
António Borges de Carvalho