AVENTURAS SUÍNAS
Desta vez não foi o triunfo dos porcos. Derrotados por um pneu, por ali andaram, peripatéticos, entre dezenas de cadáveres dos seus irmãos, sem saber que a circulação pedonal é proibida nas auto estradas. O povo atónito à espera, horas sem fim à espera, os carros parados, um desespero.
Porquê rebentar um pneu, àquela hora, naquele sítio?
Sim, porquê? Ninguém saberá explicar. Ninguém? Não! Há uma explicação científica, dada por quem, do alto de nobre sapiência, usa dar ensinamentos às criancinhas de Portugal. Verdadeiros cientistas! Dezenas de autocarros carregados de porcos, perdão, de professores, vinham a Lisboa manifestar o seu descontentamento. Sob as ordens, como não podia deixar de ser, do grande educador, chefe incontestado, senhor de bigode e olhos vampirescos, membro indiscutível das altas esferas do nacional-bolchevismo, um condotieri, um organizador, enquadrador, guia espiritual, maravilha fatal da nossa idade.
Uma sua adjunta, possuída de justa histeria, brindou a Nação com a verdade científica do acontecido. Manobra do governo, pois então! Por a+b, a mulher iluminou-nos com a demonstração da verdadeira verdade, aliás de uma evidência cristalina, que só um estúpido não veria: Passos e Gaspar tinham mandado sacrificar uma récua para impedir a passagem aos nossos brilhantes educadores. Uma atitude claramente fascista , como ficou provado à saciedade. O chefe, também ele emérito cientista, viria, um pouco mais tarde confirmar a brilhantíssima tese da sua adjunta, assim suscitando vibrantes aplausos das docentes massas.
Facto é que não fora a prestimosa intervenção da polícia, lá ficariam os educadores horas sem fim, como os demais impedidos de aceder à cidade. Mas a Polícia é sábia, ou também é sábia. Batedores foram mobilizados, o trânsito aberto para os autocaros, os docentes, aos berros, passaram, enquanto o indescriminado povo era impedido de seguir caminho. Profundo sentido de justiça, o da polícia. Arriscando contrariar as ordens do poder, acto de grande bravura, a polícia soube distinguir o trigo do joio e proteger os professores, abandonando a canalha ensardinhada na via, entre porcos, vivos e cadáveres. Muito bem!
Os grandes ensinadores do povo acabaram por desfilar na avenida, como é sua profissional obrigação. Contra o governo, pois claro. Sempre foram contra o governo, este ou outro qualquer, à excepção dos do camarada Vasco, como é de timbre e acha o vampiro. A favor da escola pública, que é a que garante (ou garantia) o tachinho. A favor do bem amado patrão, o Estado, esse santo milagreiro e pagador que a troica quer encoilher.
A luta continua!
28.1.13
António Borges de Carvalho