TRAMPA
Isto de ter de voltar à farsa da CGD é uma chatice, mas não há outro remédio.
Punhamos alguns pontos nalguns is, para saber onde está o gato.
- Querendo recuperar das diversas broncas que levaram a CGD à exaustão, o chamado governo arranjou umas catracas para financiar o buraco sem financiar o buraco, ou seja, para meter os custos da injecção de dinheiros em locais que não entrassem nas contas, fazendo assim calar, Bruxelas, ou com que os respectivos trutas fingissem não perceber. Uma claríssima operação contabilística, como se percebe. Oficialmente, o Estado, metendo dinheiro na CGD, não mete dinheiro na CGD, como é fácil de compreender para os adeptos da geringonça mas poderá escapar ao entendimento do cidadão comum, normalmente mal intencionado.
- Bom, demos isto de barato, ainda que caríssimo. Uma vez garantido o financiamento privado com dinheiro público, havia que dar à CGD um estatuto que, sendo público, fosse privado. Nesta ordem de ideias, estão a perceber, havia que encontrar gestores privados que, ainda que públicos, não deixassem de ser privados. Uma filosofia clara, incontestável, prudente e realista, como se está mesmo a ver.
- Nesta ordem de ideias, o inigulável Centeno, muito conhecido pelos rotundos e fatais fracassos de todas as suas teorias macro-económicas (sem excepção), decidiu contactar um craque privado para o banco público, com funções privado/públicas, ou publico/privadas, consoante os gostos de cada um. Conversaram, e compreenderam-se como Deus com os anjos. O craque privado, que passava a público sem deixar de ser privado, pôs as suas condições. Foram elas aceites e garantidas pelo inigualável Centeno, mais uma vez se verificando a luminar circunstância de a CGD passar a privada sem deixar de ser pública, ou vice-versa - mais uma vez a gosto. E lá fizeram um claríssimo contrato, tudo estabelecendo com a maior das transparências. Para que ficasse ainda mais claro, o chamado governo legislou: o novo homem, sendo público, tinha tratamento privado, ordenado excepcional e dispensa de andar a despir-se no Tribunal Constitucional, o que quer dizer em público, como é sabido.
- De posse dos compromissos do Centeno e da cobertura legal ndecessária, o craque, de acordo com o Centeno e com o chamado primeiro-ministro, convidou vinte e tal senhores e senhoras para o acolitarem. Vai daí, o BCE (uns ditadores por conta do Schäuble) lembraram ao chamado governo que a lei portuguesa não aceitava a coisa e que os nomeados que viessem a ficar tinham que ir para a educação de adultos, em Fontainebleau.
- Passada esta fase, crítica mas cheia de dignidade, como é evidente, as coisas acalmaram, até que o famoso craque resolveu meter-se em politiquices e pôr-se a desmentir políticos. Pé na argola, mas perdoável a um principiante.
- Depois, azedaram outra vez: a lei do chamado governo sobre o estatuto do craque era uma treta ilegal, isto é, esqueceu-se de abolir outra lei que postula ao contrário, ficando as duas em vigor, preto e branco no mesmo saco.
- Agora, como diria o velho dramaturgo, ser ou não ser o craque obrigado a despir-se, eis a questão. Ninguém sabe a resposta. Só se sabe que o chamado governo não faz, relapsamente, a menor ideia de que são as leis em vigor.
- Azedado o caldo ao ponto a que azedou, há duas soluções: a) o Domingues dobra a espinha e nunca mais terá prestígio - a CGD com ele - e b) o Domingues não dobra a espinha e dá com os pés à geringonça.
Declaração de interesses: o IRRITADO é adepto da solução b).
Uma última, tristíssima observação: é uma pena que o PSD e o CDS andem metidos, como andam, na trampa que a geringonça cagou.
2.11.16