ERROS DE PERCEPÇÃO
Eis, finalmente, o esclarecimento de que todos precisávamos, a verdade por que ansiávamos, a solução do problema, a transparência insofismavelmente restaurada, a meritória confiança que os nossos chefes merecem. Hossana!
Não, meus amigos, não vos deixeis enredar mais nas teias da maledicência. Ontem, com a conferência do chamado ministro das finanças, tudo ficou ainda mais claro do que estava.
Senão, vejamos:
- O chamado primeiro-ministro jamais veio à televisão dizer que a gestão da CGD era privada.
- O chamado secretário de Estado das finanças nunca declarou que os gestores da CGD não estavam submetidos ao estatuto dos gestores públicos.
- O chamado ministro das finanças em tempo algum disse que tais gestores já tinham vigilância que chegasse, do BdP, do BCE e de não sei quem mais, não precisando do Tribunal Constitucional para nada.
- O professor M. De Sousa nem por sombras apoiou a fantástica e tão transparente posição dos senhores acima referidos.
Se você interpretou as declarações de tantos e tão credíveis personalidades de outra forma, então cometeu erros de percepção, uns em cima dos outros. Você estava errado, deve reconhecê-lo, olhar para o espelho e penitenciar-se.
Aliás, quando aquelas estimáveis criaturas vieram dizer o contrário, não estavam a dizer o contrário do que tinham dito antes, nem a contradizer-se, nem a meter os pés pelas mãos. Estavam, meu caro, a esclarecê-lo, a instá-lo a perceber a verdade, a levá-lo a não cometer erros de percepção. Você é que resolveu insistir em tais erros, você é que não presta, é mal intencionado, insistiu e persistiu. Olhe para o espelho. Não persista mais, não insista mais, penitencie-se, peça desculpa, volte ao bom caminho.
Olhe a clareza com que o nosso chamado ministro se referiu, ontem, ao assunto, a humildade, a verdade cristalina das suas palavras. Sim, disse ele cinco vezes, os gestores da CGD estavam dispensados das obrigações dos gestores públicos. Não se lhes aplicava o respectivo estatuto. Mas, no que respeita à “declaração de rendimentos”*, onde estava escrito que estavam fora do sistema? Não estava! Aliás, o professor M. De Sousa já tinha dito o mesmo: ou estava preto no branco, devidamente assinado, ou não existia. O professor M. de Sousa foi claro, o chamado primeiro-ministro também, ainda que, certamente para outros efeitos. Dizia ele que “palavra dada é palavra honrada”, mas isso era antigamente, como é de ver, e compreender, a não ser que se continue nos braços dos erros de percepção de que falava, e bem, o chamado ministro.
Meu amigo, não seja vaidoso, impertinente, maldoso, respeite a verdade, deixe-se de erros de percepção, penitencie-se. Quem o avisa seu amigo é. É o caso do IRRITADO.
14.2.17
*Muito se fala em declaração de rendimentos. Aldrabice. Declaração de rendimentos todos fazemos, todos os anos, estão nas finanças, nada têm a ver com o Tribunal Constitucional. No caso, trata-se-ia de declaração de património.