A III REPÚBLICA ACABOU
Há quem tenha o desejo, talvez ilusório ou irrealizável, de viver num país onde as instituições são respeitáveis porque partem de ideias e normas respeitávies e são representadas por pessoas respeitáveis. As pessoas são, como em tudo nesta vida, a mais importante das condições de respeitabilidade. Acima de tudo as que com elas se comprometeram, que as afirmaram, que de tal se acham ou são referência, como é o caso de Mário Soares e de muitos outros, no que à III República se refere.
Ora a III República nasceu em Novembro de 1975, quando as mesnadas da extrema esquerda, da tropa e do PC foram derrotadas. Verdade histórica que ninguém poderá negar. É certo que o caminho foi aberto pelo golpe militar de 25 de Abril de 1974, mas não o é menos que a esperança de liberdade aí surgida foi rapidamente negada pelo PC e pelas chamadas “forças populares”, ou seja, pelos arruaceiros ao serviço do seu financiador, o PCUS. Do tempo que passou entre os dois vinte cincos, Mário Soares e o seu partido foram heróis, com muitos outros e com o povo não alistado nas tropas de Moscovo ou dos maluquinhos dos maoismos e quejandos.
Destes, ainda hoje temos vestígios. Um PC troglodita, um BE radical, “fracturante”, palavroso e nefelibata, e uns resquícios mais ou menos taralhocos como o MRPP e a senhora grávida armada em coisa, entre outros.
Soube hoje que a nova maioria de esquerda (parlamentar, que é a que há) decretou que o 25 de Novembro é uma data sem importância, que não merece comemoração. O PS é a parte mais importante de tal “maioria”. O PS, nas mãos de Costa e dos seus salafrários, nega a parte nobre do seu passado. O PS nega Mário Soares, o Mário Soares democrata, nega os que com ele lutaram pela liberdade, nega uma enorme tradição de moderação e honra democrática. Mário Soares, esse Mário Soares, já não existe, vencido, ou pela idade, ou pelos monumentais defeitos pessoais de que, malgré tout, sempre foi dando provas. Ao negar o 25 de Novembro, o PS, pervertido pelo Costa, mostra-nos o que está a mudar. O que está a mudar é o que havia de mais digno na III República.
Podemos ir mais longe. Como é que pessoas tidas por seriíssimas, como Eanes ou Jaime Gama, não se erguem contra isto? Verdade é que perversão da democracia portuguesa vai bem mais fundo do que até a nova “maioria” faria prever. Os valores já o não são, as convicções passaram a papel higiénico, a democracia esgota-se em “legitimidades” ad-hoc.
Não sei onde iremos parar. Mas sei que, quando pararmos, muito sofrimento, muito atraso, muita ruína ficará poelo caminho.
Uma coisa é certa: a III República, nascida em 25 de Novembro de 1975, já morreu.
23.11.15