AS HOSTES AGITAM-SE
Andava a geringonça tão satisfeita consigo, tão sossegada pela compreeensão dos media, tão animada com as ditirâmbicas loas do Senhor Presidente da República, tão contentinha com as reversões, a ver-se ao espelho com o fim (antes de tempo!) do Banif e o cuspir das culpas próprias na cara dos outros... e não é que, sem mais nem menos, Passos Coelho lhe ferra na fuça com uma comissão parlamentar de inquérito sobre a história da CGD?
Não querem lá ver a lata desta gente? Quando tudo estava a ser negociado, aprontado, ajustado com a burocracia de Bruxelas, quando até já se tinha preparado o pagode para lá meter, não os 2 mil milhões que se pensava, não os 4 que se dizia, mas, quem sabe, uns 5 mil milhõezinhos? Não se trata da defesa do banco do Estado, de nós todos, do fabuloso banco das pequenas e médias empresas e dos calhordas da caderneta, do banco das inteligentíssimas incursões cirúrgicas na economia real – como no caso do magnífico negócio do Vale do Lobo, entre outros do mesmo gabarito? Não se trata de preservar essa jóia, essa prima fonte de estabilidade financeira, de moderação de um sistema bancário que, como se sabe, é pasto de gente oriunda dessa coisa indecente e imoral a que chamam propriedade privada?
Ainda por cima, esse bando de neoliberais que anda para aí, espertalhão, quer um inquirição sobre os últimos quinze anos, isto é, não põe os seus de fora, não podemos acusá-los de só querer atacar os nossos. Tiraram-nos o pio! Canalhas!
Nesta conformidade, as geringôncicas autoridades entraram num muito justificado frenesim.
O camarada Jerónimo arreganhou o dente e disse que, para a Caixa, tudo. O que eles querem é privatizá-la, roubá-la ao povo!
A camarada Catarina, a espumar, vampiresca, grita por uma auditoria forense: isto só vai com crimes, com sangue! Ela sabe bem que, se o sangue for do PS, a Bloca cresce. Aproveita para assim demonstrar o seu acendrado amor pelo chefe Costa.
O camarada Centeno, à hora do futebol por causa das moscas, chama a imprensa para dizer cobras e lagartos da oposição e para não dar respostas sobre coisas sérias, género os seis meses (todos da geringonça) que leva a economia a minguar, o investimento a desaparecer, o desemprego a subir e outras minudências afins.
Em cima do bolo, vem, do etéreo assento onde o puseram, o camarada Ferro, pôr a mais alta cereja: pede um “parecer” à PGR para avaliar da legalidade da comissão de inquérito. A Lei e os regulamentos da AR não lhe chegam. Ou nunca os leu, ou leu e não percebeu, ou agarra-se ao que pode. O seu elevado QI leva-o a pensar que a convocação da comissão de inquérito levanta suspeitas criminais dignas de apreciação pelos procuradores do Estado.
ET. (24.6.16) Recuo de última hora: a geringonça, assustadíssima, pede uma auditoria independente. Não se sabe se a sério se a brincar: o drácula de serviço, vulgo Galamba, já veio dizer que isso de auditorias independentes não é possível. Lá saberá porquê.
Assim vai a trapalhice. A luta continua*.
23.6.16
*Declaração de interesses
Como saberá quem o lê, o IRRITADO, ao contrário de todos os partidos políticos, é contra a mera existência da CGD como banco do Estado. Acha devia ser rifada e a respectica “catedral” aproveitada para alargar a praça de touros do Campo Pequeno. Bom é que se sublinhe que as suas opiniões estão inquinadas por esta posição de princípio.