DA PRESTAÇÃO DO CENTENO
Tenho estado a ouvir alguns dos 3.899,74 comentários que, no espaço de umas três horas, já foram feitos sobre a parlapatice parlamentar hoje produzida a propósito do chamado Programa de Governo das três minorias (não conto com a do o PEV, porque acho o PEV não existe nem jamais existiu).
O exército dos comentadores, entrevistadores, pivôs, etc., anda à procura das “novidades” do debate, esfarrapando-se em diligências mentais para as descobrir. Para mim, que sou um ignaro espectador destas exibições, não houve novidade nenhuma ou, melhor dito, ninguém deu pela única novidade realmente importante: a prestação do Centeno.
Esta ave de arribação, laureada com altas “qualificações” e não menos grandíssima esperança de muita gente, foi um flop dos antigos. Espalhou-se ao comprido, sem apelo possível. É esta a grande novidade. Poder-se-ia dizer que isto é um elogio, na medida em que é natural que um principiante não tenha traquejo para se aguentar no Parlamento, sem prejuízo da solidez do seu pensamento. Mas não se trata de um problemna de traquejo, que seria o menos. É uma questão de “substrato”, de substância, de coerência, de firmeza de ideias, de lógica mental. De um mínimo de sabedoria, se quiserem. Defendendo-se com um sorriso alvar, quase diria mongolóide, não respondeu a uma só das questões que lhe foram postas. Zero! As evidentes contradições entre o seu “pensamento” e o programa do governo não lhe mereceram o mais pequeno esclarecimento, fugiu aos encartes como o profeta do toucinho.
Aqui temos um exemplo, aliás presente noutras novidades deste governócrates, do que é um “académico” que é só académico, isto é, que jamais esteve em contacto com a vida, que não conhece o mínimo da alma humana e que, por isso, acha que as reacções pessoais e sociais às “políticas” estão plasmadas em programas informáticos academicamente certíssimos.
Diz-se que deve a sua formação à universidade de Harvard, entidade rigorosamente privada, sem endowements do Estado, coisa que, na cabeça do homem, não deve fazer sentido, ou que nem sequer percebeu. Usando a sua lógica “positiva”, acha que, pois então, se o consumo aumentar, a economia progride, ou seja, o progresso económico e o emprego são fruto do consumo, não o consumo e o emprego consequência do crescimento económico. Acha que, mantendo ou aumentando as taxas aos agentes económicos, estes “compreendem” a douta intenção e se põem a investir à maluca.
É claro que as pessoas, as sociedades, as empresas, quem se quiser “defender”, borrifa nestas teorias. Se se sentem ameaçadas pelo imposto sucessório que o homem inventou, tratam de doar o património, de o dividir, de o expatriar. Se vêem as coisas a dar para o torto no IRC e têm poder para tal, mudam-se para o Luxemburgo ou para a Irlanda - desde o início da crise, a Irlanda já deu as boas vindas, fiscais e não só, a inúmeras organizações, representando muitos, mas muitos milhares de milhões de dólares, enquanto por cá ainda se discute as minhoquices dos vistos gold.
Enfim, o senhor Centeno, armado em ministro das finanças, navega no mundo onírico das receitas informáticas, à espera que a vida lhes obedeça. Um tipo desta qualidade jamais devia passar dos gabinetes de estudo. Um tipo desta qualidade jamais devia fazer parte de um governo. Mas parece que a vil “glória de mandar” é tão forte que nem dá por que quem manda é o Costa, e que o Costa se está nas tintas para as suas teorias: Centeno ou as vai adaptando à narrativa e à demagogia governamentais, ou é despejado. Mas ele, como não quer ser despejado, comerá o que for preciso, aplicará ou “desaplicará” os seus achados com o critério do poleiro.
Não é de admirar que a sua prestação parlamenar tenha sido tão pobre e tão “fugidia”.
2.12.15