DIPLOINTRIGALHADAS
Não sei quem é o tal embaixador que foi despejado de chefe das secretas antes de ser chefe das secretas, tipo pescada, que antes de o ser já o era. Mas o caso é interessante e, pelo que é dado saber ao indígena, merece umas consideraçõesinhas (ou zinhas?).
A coisa é mais ou menos assim; o homem era chefe de uma missão em Timor na altura do referendo, coisa que deu pancadaria da grossa. Aquilo aquecia a cada hora que passava, tornando-se quente demais para uma missão civil, desarmada e desprotegida. O homem, responsável que era por uma protecção que não tinha meios para assegurar, pediu que o mandassem de volta com a sua gente, deixando por lá um diplomata menor, protegido por três elementos do Grupo de Operações Especiais da polícia, os conhecidos GOE. Aumentada a tensão, parece que insistiu na necessidade da evacuação. A folhas tantas o MNE concordou e a malta veio embora.
Anos passados, o chamado primeiro-ministro resolveu mandá-lo vir de Estocolmo (ou Oslo?), a fim de tomar conta das secretas. Como já escrevi, tal nomeação não é coisa que, vinda de quem vem, possa motivar a minha simpatia pelo homem. O que não me impede de achar que, no caso vertente, ele foi massacrado por uma das mais desagradáveis criaturas que vicejam neste jardim, a dona Gomes, senhora de instintos policiais e persecutórios da mais rebuscada natureza, capaz de cilindrar sem dó nem piedade quem não estiver nas suas boas graças.
Ódios corporativos são, sempre foram, um hábito nacional, sobretudo em meios académicos, hospitalares, diplomáticos e outros, geralmente públicos. Daí a, praticamente, acusar o homem de traição à pátria, para gente do calibre da dona Gomes, vai um passinho. É uma evidência que, para quem se dê ao trabalho de ver certas coisas, as motivações da indivídua sejam claras. Devia ter em arquivo um assunto, este ou outro qualquer, para dar cabo do homem. Apareceu a ocasião, aplicou a pastilha, ao ponto de até o chamado primeiro-ministro se ter encolhido.
Acontece que, como hoje li escrito pelo próprio, o senhor Manuel Duarte, dito Manuel Alegre, é nem mais nem menos que pai do diplomata menor que estava para ser “condenado” a ficar em Timor com os GOEs enquanto o resto da malta voltava a casa. O que muito acrescenta, em matéria de ódios em conserva, à hipótese que venho adiantando.
Conheço não poucas histórias do género, algumas oriundas da diplomacia, onde poucos não são os casos de “queima” de colegas, ou para benefício próprio ou por simples gozo ou burocrática vingança. Ao mesmo tempo, é de ver, que se encobre o que, por grave que seja, não dá jeito ou não é “correcto” revelar.
C’est la vie.
8.6.17