DO POPULISMO SELECTIVO
A lata do nosso chamado primeiro-ministro deixou-me, hoje, mais uma vez, de boca aberta.
Saído de uma reunião qualquer, apareceu na televisão e, com democrática jactância, declarou-se preocupado com o populismo que alastra na Europa, os vilders, as lepenes e companhia, os perigos que representam, etc., blá blá blá. Daí, faz apelo aos “valores europeus que urge defender” e que por tal gente são combatidos. Muito bem.
Só que há uma “pequena” coisa que o orador se esquece de referir: é que é ele um dos mais lídimos adeptos de tal gente, uma vez que aliado, suportado e endeusado outros da mesma laia. Admitamos que não inclui, nos perigos de que fala, agremiações como o “Podemos” espanhol, os amantes do Tsipras e outros anti-europeístas como o PC nacional, o tenebroso BE e outras franjas ideológicas de que é parceiro. Substancialmente, que diferença fazem as tiradas nacionalistas, anti-europeias e protototalitárias da dona Marine das da dona Catarina, das outras esquerdoidas, das paragonas isolacionistas do Jerónimo ou da larga cópia de bestas políticas que o seguem? Nenhuma. Nem sequer são a outra face da mesma moeda. São a mesma moeda. Diferenças, só na terminologia. Ao que uns chamam “peuple”, outros chamam “trabalhadores”, ou “pessoas”. Mas o apelo, o sistema de pensamento, o pendor - ou intenção - é o mesmo, os alvos sociais são os mesmos, a mentalidade, a demagogia ou, numa palavra, o populismo, é exactamente igual.
Costa, na sua face para inglês ver, é um anti-populista, um pensador “liberal”. Na prática é o protector, pior, o seguidor fiel dos populismos portugueses. Haverá, não sei, mais populismos de direita, ou ditos como tal, do que de esquerda. Diferença essa que, no fundo e à superfície, é zero. Por outras palavras, Costa engana lá fora, mas não pratica cá dentro o que proclama.
Com a vantagem, é certo, de haver, a começar pelo Presidente da República, quem nele acredite.
Uma vantagem que o torna mais perigoso que os vilders e as marines.
13.3.17