ESTAMOS FEITOS
Li hoje num jornal qualquer que os ordenados até seiscentos e tal euros vão ser aumentados em 0,4 por cento. Não sei se os felizes contemplados são empregados do Estado ou não, uma vez que o Estado que passámos a ter já decretou o fim de toda e qualquer liberdade contratual. Ainda há restos disso mas, step by step, lá chegaremos.
Não é isso o que me traz. Vejam o que segue.
Imaginem que o aumento anunciado era obra de Passos Coelho. A estas horas, batalhões ululantes da CGTP inundavam as ruas aos gritos contra mais esta ofensa ao povo trabalhador. A Catarina já tinha organizado trinta e duas conferências de imprensa para denunciar o torpe abuso. O Jerónimo berraria contra as políticas “de direita” que, mais uma vez, vinham evidenciar o mais radical desprezo pelas massas trabalhadoras. O Usurpador iria à Quadratura do Círculo vituperar a demagogia da coligação.
Outra. O camarada Centeno foi, há dias, cumprimentar o doutor Schäuble (Chobél ou Xuble, em RTPêguês).
Imaginem a dona Maria Luís a fazer o mesmo. Não, não tinha ido falar com ele, diria o coro do Usurpador. Pelo contrário, tinha ido prestar vassalagem ao imperialismo tudesco, submeter-se, de mão beijada, aos ditames da hedionda Merkel. As miúdas aos guinchos, o Arménio a fazer discursos no Rossio, o Usurpador a dizer “não à submissão, não aos diktats, não à austeridade!”.
E mais uma. O camarada Centeno, afivelando a sua indesmentível cara de parvo, vai fazer umas economias “para cumprir” o défice combinado com os credores, coisa que a coligação pôs em causa. As miúdas ficam todas contentes e desatam a aldrabar: o Centeno, coitadinho, vai ter que adiar pagamentos porque a coligação gastou as reservas de que fazia alarde. Não havia reservas nenhumas, os cofres cheios, etc., era tudo mentira. A malta ouve, e acredita. Ou seja, a propaganda do Usurpador, a cargo das miúdas, é desonesta mas funciona. Trocar alhos por bugalhos é fácil. Porquê? Primeiro, porque cumprir a meta do défice nunca esteve em causa; segundo, porque os tais cofres cheios (18 mil milhões) lá estão, sossegadinhos, e não têm nada a ver com o défice.
Estamos nisto. Se o governo do Usurpador e apaniguados continuar a austeridade, a austeridade deixará de se chamar austeridade. A ver vamos como se chamará. A Liberdade, aos poucos, irá desaparecendo, vítima de decretos, contratos colectivos, corporativismo galopante, censura (que já começou), ditadura parlamentar, etc.
Quando acordarmos estaremos no comboio do terceiro mundo, tudo disfarçado de democracia. Se o governo do Usurpador fizer o contrário, isto é, fizer a política dos apaniguados de uma forma menos disfarçada, acabará por cair, por falta de dinheiro.
Para já, irá pelo caminho das pedras, uma no cravo da “Europa”, outra na ferradura da obediência às miúdas.
Estamos feitos!
13.12.15