EXCLUSIVAMENTE INÚTEIS
A Bloca de Esquerda insiste: os senhores deputados terão, obrigatoriamente, que ser “exclusivos”. Trocado por miúdos, quer dizer que deverão, enquanto em funções, abandonar toda e qualquer actividade profissional, sob pena de perda de mandato. Além disso, uma vez não reeleitos, durante cinco anos nada de voltar a trabalhar na profissão anterior.
Uma observação de carácter geral. Trata-se de mais uma inversão dos princípios gerais do Direito, isto é, os ditos senhores não precisam de suspeitos seja do que for, são suspeitos porque são suspeitos, faz parte da função. Parte-se do princípio, e pronto, aplica-se a pena e, sem inquérito nem contaditório, corta-se o mal pela raiz. Lindo.
Vistas as coisas em prospectiva, imagine-se as consequências: o que resta de gente socialmente válida, útil, profissionalmente bem sucedida, acaba-se de um dia para o outro. Quem tem uma boa vida profissional cá fora jamais se sujeitaria a ganhar, em exclusivo, o ordenado de deputado, ainda menos a ficar de pernas cortadas uma data de anos depois de deixar de o ser.
Vistas as coisas no plano das conveniências, ou da realidade sociológica, teríamos alargado a todos o exemplar e já existente esplendor da Bloca: grupos parlamentares de meninas e meninos para quem o ordenado da assembleia é superior ao que jamais receberiam cá fora, sem outro préstimo demonstrado que não seja o de ter umas noções marxismo recauchutado e sem outras aptidões que não sejam as da produção de bocas e bitaites, isto sem contar com uma sabedoria catedrática em matérias sexuais politicamente correctas e biologicamente oblíquas.
Uma vez reduzido o parlamento a um conjunto de inúteis e de energúmenos ideológicos, aí teríamos a base ideal para a formação das vanguardas necessárias à aceitação da gloriosa ruína sobre a qual se erguerá a “verdadeira sociedade socialista”.
Ainda lá não chegámos, mas a senda está cada vez mais aberta e mais promissora.
22.4.16