HÁ GENERAIS
Tenho aqui um recortezinho da primeira página do “Expresso” de hoje, que reza assim: “Marcelo quis evitar a demissão do CEME... mas Carlos Jerónimo recusou reconsiderar”.
Lido com olhos de ler: Marcelo quis evitar mais uma chatice ao seu amigo Costa. Sabia (sabe) que o chamado ministro de defesa, um ignorante desbocado, nunca mais terá, porque não merece, qualquer sombra de autoridade junto da tropa.
Lá no fundo, o savoir faire que o caracteriza deve tê-lo feito pensar que, pelos vistos, o fulano meterá rapidamente a pata outra vez na poça e, nessa altura, será mais fácil pô-lo na rua. Não já. Podia ferir a geringonça, pôr a Bloca de Esquerda aos gritos, abanar a “estabilidade” do querido Costa. Isso é que não! Sou o chefe da coligação, que até a Marisa Matias aplaude de pé, toda frenética, e vou deixar que venha um militar pôr a minha querida organização em causa? Nem pensar!
Imagine-se o que foi (se o houve) o diálogo com o General demissionário. Num esconso do palácio, Marcelo dá-lhe afectuosamente o braço. O General encolhe-se todo, mas aguenta.
- Meu caro, estas coisas são uma maçada, não calcula como o compreendo... mas, que diabo, nisto da política...
- O Senhor Presidente desculpará, mas não é suposto pronunciar-me em assuntos políticos. Trata-se de uma questão de dignidade e de disciplina, não de política!
- Calma, Senhor General, calma, a sua dignidade está acima de qualquer apreciação. Mas, enfim, o serviço das Forças Armadas, não é, também tem a ver com a estabilidade política. Pôr tal estabilidade em causa... não é, enfim, um valor mais alto?... espero que reconsidere...
- Desculpar-me-á Vossa Excelência, mas não reconsidero desconsiderações nem deixarei que fique em causa a cadeia de comando, nem que a estabilidade das Forças Armadas seja ofendida por um ministro que não tem a mais remota noção da sua função, nem um mínimo de respeito pelas pessoas que estão sob a sua acção política, não sob o seu comando disciplinar. Não o queria nem para faxina das retretes!
- Ora ora, General, deixe-se de pruridos, não exagere, não ferva em pouca água! Isto é mais simples do que parece. Deixe-se ficar! Vai ver que, mais cedo do que possa pensar, será compensado, as cantarinhas da nora não param...
O General afasta-se, põe-se em sentido, bate a pala, e diz:
- Vossa Excelência dá licença que me retire?
- Ouça...
- Já ouvi o que tinha a ouvir. Boa tarde.
Na prática, poderá não ter sido assim. Mas, substancialmente, não foi outra coisa.
16.4.16