ORDINARICES
Como deve calcular quem tem o péssimo hábito de me ler, não vou comprar o livro do doutor Cavaco. Não tenho razão nenhuma de especial para isso, só a falta de pachorra para o ler. Acresce que as passagens mais excitantes da coisa já andam por aí, o resto deve ser uma chatice.
Não tenho má impressão do homem. Sei de uma série de sacanices sem importância política de maior, não lhe perdoo o artigo da “moeda boa moeda má” que abriu caminho à golpada do Sampaio, não lhe perdoo a indigitação da geringonça sem se demitir no momento seguinte, bem como uma mão cheia de outras argoladas menores. De resto, acho que é um tipo em geral decente, socialmente inadaptado, institucional q.b., digno q.b.. Enganou-se na escolha de alguns amigos,mas o que lhe assacaram a tal respeito tinha pés de barro. Publicamente, cometeu o monumental erro de dizer que lhe faltava dinheiro lá em casa, o que foi uma espécie de suicídio na praça pública. A partir daí, tudo o que fizesse ou opinasse passou a ser mau e tal maldade foi elevada à potência n pela alcateia da esquerda, muito contente por ele ter andado com o Sócrates ao colo, mas não lhe perdoando que desse apoio ao Passos. O saldo, de qualquer maneira, é positivo, ao contrário do de qualquer dos seus antecessores.
Em relação a Cavaco, lembro o velho ditado que reza “depois de mim virá quem de mim bom fará”. Marcelo já se encarregou de demonstrar a justeza, no caso, da sabedoria popular.
Marcelo vai a todas, como se sabe, e em todas tem os subservientes media à espera, em todas faz declarações sobre tudo e mais alguma coisa, em todas distribui beijinhos e abraços, come umas rodelas de chouriço, bebe o que lhe meterem no copo, num gigantesco e indescritível “trabalho” de propaganda pessoal que, até ver, tem calado muito na alma dos apreciadores de selfies. A todas? Não! Há uma a que não foi: a do lançamento do livro do seu antecessor. Razões de “agenda”, dirá o palácio. A explicação do IRRITADO é outra: não pôs lá os pés, primeiro, porque é malcriado, segundo, porque não ia lá estar a sua gente, quer dizer, a gente da geringonça. A fim de não ser objecto de olhares menos entusiásticos, a fim de não calhar, ali, desatar aos beijinhos, o melhor foi não pôr lá os pés. Se há palco, ou é para ele ou não é para ninguém. Nada de confusões.
Em suma: uma imperdoável ordinarice.
17.2.17