BASTONADAS BASTONÁRIAS
As aleivosias do novo bastonário, seja qual for a perspectiva de cada um, merecem uma pequena reflexão.
O fulano alega que não quer, nem pode, apontar nomes, apenas acha seu dever chamar a atenção do respeitável público para os problemas da Justiça e da corrupção.
Muito bem. Assinale-se a nobre intenção. Vejamos agora como é que o distinto causídico cumpre as proclamadas intenções.
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Diz que não é sério um político na reforma assumir posições em empresas com quem, enquanto ministro, fez contratos. Muito bem. Não citou nomes. No entanto, por causa da história da ponte, não é preciso ser muito inteligente para perceber que o tipo se dirige, directamente, ao engº Joaquim Ferreira do Amaral, com exclusão de qualquer outro. Esquece-se, é evidente, de dizer que o dito senhor foi para presidente da Lusoponte doze anos depois de ter deixado o governo. Esquece-se, por outro lado, do seu camarada Pina Moura, que saíu da política depois de ter sido áulico de Guterres, ministro das finanças e deputado, directamente para uma empresa estrangeira, com a qual se tinha farto de negociar, embora não conste que tenha feito algum contrato.
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Fala de uma história de arranque de sobreiros. Não cita nomes, mas toda a gente fica a perceber que se trata de um projecto do BES em que, alegadamente, estariam duvidosamente envolvidos alguns políticos, já nomeados nos jornais, do CDS e do PSD. Outra intenção não podia ter o homem que não fosse apresentar esse caso. Já agora, convinha que os jornalistas “de investigação” se debruçassem sobre o assunto, a ver se não há algum cliente do senhor Màrinho metido na coisa.
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Revolta-se contra o funcionamento do Ministério Público e da polícia. Muito bem. Então, quem fica na berlinda? Ninguém? Extraordinário é ver como o atingido – o PGR – não só não se sente como ainda parece que vai chamar o douto causídico para “concretizar”!
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Em girândola final, afirma que o processo Casa Pia não teve outro objectivo senão o de “decapitar o PS”. O homem não faz a coisa por menos. Na sua esclarecida opinião nunca houve qualquer sombra de delito, nunca nenhum menino foi molestado por ninguém, ou, ainda melhor, se o foi, foi-o por tipos do PSD ou do CDS. Do PS, nem pensar! Gato escondido com o rabo de fora. Toda a gente ficou a perceber do que a casa gasta.
Se eu disser que houve um tipo que falsificou notas de quinhentos, não preciso de dizer que foi o Alves dos Reis, não é? Então onde está a intenção do senhor Màrinho em não citar pessoas, ou casos concretos? Cita, e cita sem deixar lugar a dúvidas. Portanto, mente quando diz o contrário. Ou seja, é um socialista de primeira água.
É evidente que o que o homem quer não é endireitar coisa nenhuma, tão só perseguir uns tipos que não grama, fazer política e pôr a Ordem dos Advogados ao serviço do seu sector de opinião. Está-se nas tintas para a corrupção, o crime, a sodomia com menores, e outras coisas que, habilidosamente, mas com o rabo de fora, diz condenar.
O português na sua versão mais rasca.
António Borges de Carvalho