Entrar nos eixos
Boas notícias do “Eixo”. Parece que a dona Ângela entrou em fase de recuo. O “Eixo”, tão laboriosamente construído por esses dois luminares da política europeia que se chamam Chirac e Schroeder, entrou em crise. O senhor Schroeder já foi à vida. O senhor Chirac está quase a voltar a estar a contas com a Justiça. E a dona Ângela parece ter percebido que deixar-se embalar nos doces braços do senhor Putin não é coisa com futuro, sobretudo para quem não pode deixar de ter boa imagem no Báltico e na Polónia.
A Rússia, em matéria energética, dispõe já de várias facas e vários queijos. As garantias que dá de não interrupção do abastecimento ao Ocidente não terão nenhum significado se não houver, do outro lado, argumentos de tal maneira fortes que contenham indesejáveis manifestações de poder por parte dos putines. Infelizmente, tais argumentos não abundam. Bem pelo contrários, são os russos quem toma posição em indústrias estratégicas ocidentais, chegando ao ponto de já exigir posições na administração da EADS. Os efeitos do “Eixo”, reveladores de evidentes desiquilíbrios, começam a ser inquietantes.
Nunca foi bonito que os dois países mais poderosos da UE tenham “fundado”, à revelia de parceiros e aliados, alianças informais a leste, ainda por cima passando por cima do “leste próximo” cujos interesses e sensibilidades soberanamente ignoraram.
Não se pode acusar Moscovo de ter aproveitado as oportunidades que lhe foram oferecidas. Pode, e deve, é acusar-se quem lhe abriu portas sem cuidar das correntes de ar.
Enfim, saúde-se a tomada de consciência da dona Ângela. Espere-se pelo advento da dona Ségolène ou do senhor Sakozy. A ver se o “Eixo” entra nos eixos.
António Borges de Carvalho