CHINESICES
Grande esperança enche o peito dos portugueses. Qual Infante Dom Henrique, o grande, o inigualável, o fidelíssimo socrélfio que dá pelo nome de Basílio, declara-se “de braços abertos” aos investidores chineses que dizem andar a escolher o local mais barato para fazer uma fábrica de automóveis. Na corrida, para além de Portugal, estão outros progressivos países europeus, tais como a Roménia e a Bulgária.
Para quem as voltas da vida levaram a presenciar o que são investimentos chineses, a coisa tem aspectos aterradores: o senhor Basílio receberá “de braços abertos” uns dois ou três mil chineses, daqueles que nunca morrem, recrutados nas prisões do celeste império, a prática dos seus chefes fará com que fiquem fechados numa cidade apropriada, pô-los-á a trabalhar cem horas por semana e pagar-lhes-á uma fortuna que será consumida em alojamento e alimentação, sobrando dois euros por mês e por cabeça para poupança. O senhor Basílio ficará satisfeitíssimo, o senhor das finanças, cujo nome me escapa, dar-lhes-á isenções fiscais ad aeternum, o tipo da economia organizará um cocktail e dará uma entrevista ao SOLcrates, e o nosso primeiro olhar-se-á ao espelho, como faz a toda a hora, e dirá: espelho meu, espelho meu, diz-me se há alguém mais esperto do que eu.
Enfim, pode ser que não seja assim. De qualquer maneira acho que, nesta matéria, devemos desejar os maiores êxitos aos romenos e aos búlgaros.
António Borges de Carvalho