OS EMPATAS
Um desgraçado de um multimilionário suíço resolveu investir em Portugal. Não fazia ideia, como é óbvio, do caldinho em que se estava a meter. Mas, honra lhe seja, resistiu. Durante 12 anos, pachorra das pachorras, andou para aí de Herodes para Pilatos, fez projectos, re-projectos, contra-projectos, comprou pareceres, mandou fazer estudos, tratou do ingentíssimo problema do impacto ambiental, moveu influências, pagou a advogados, pediu, baixou-se, levantou-se, zangou-se, desesperou, des-desesperou, bramiu, esperneou, charmou, implorou, zangou-se outra vez e outra vez se deve ter des-zangado.
O homem queria fazer um projecto num terreno que teve a desgraça de comprar, onde faria não sei quantas centenas de hectares de coberto natural numa zona há séculos completamente abandonada, criaria, diz, mais de mil empregos, uns campos de golfe, os indispensáveis apartamentos, hotéis, etc.
Finalmente, mercê do concept PIN, invenção do socrismo, certamente com a gloriosa intervenção do senhor Basílio, conseguiu ver a coisa aprovada ao mais alto nível, o do governo.
Esqueceu-se, grande nabo, de um pequeno pormenor. É que, nesta pobre terra, quem manda é a Quercus e o Geota, entidades mais ou menos divinas que se dedicam a ser contra tudo o que não goze do seu celestial imprimatur. Dizem as más-línguas, por certo inspiradas pelo demónio, que, se não se entregar a feitura dos estudos “ambientais” a determinados cidadãos, nada há que se faça neste país. Longe do Irritado pensar, ou dizer, tais e tão graves aleivosias. Facto, porém, é que as citadas organizações meteram a já clássica “providência cautelar”, e lá veio o juiz de serviço mandar o homenzinho parar as obras e meter a coisa na gaveta.
Indigna-se o primiro-ministro, o ministro do ambiente, e mais não sei que autoridades. Vão todos juntos, com o suíço, contestar a negregada decisão.
No meio disto tudo, o que importaria saber era se, ganhando o suíço a querela, quantos milhões irão as poderosíssimas organizações pré-citadas pagar ao fulano, não vá acontecer como com túnel do Marquês, e acabar tudo como os milhões de buraco causados à câmara de Lisboa pelo Fernandes, que anda para aí a assobiar para o ar como se não fosse nada com ele.
Caloteiros, bufos, denunciantes, sobretudo anónimos, empatas e invejosos é o que está a dar.
António Borges de Carvalho