O MAIOR
De repente, os mais exigentes exegetas da política internacional descobriram as extraordinárias qualidades do senhor Barak Hussein Obama, primo afastado do Sadam pelo lado do Hussein, dizem viperinas línguas. É o maior, proclamam várias pitonisas, o mais inteligente, o que mais fala ao coração das gentes, o mais sábio, o mais, o mais, o mais. Uma senhora com lugar cativo no pay roll do “Expresso”, considera-o, vejam lá, “poético”. Onde chega a onda! Até o Ex-Presidente Soares se desdobra em elogios, ao ponto de descobrir o que ninguém ainda tinha descoberto: que o homem tem ideias. Multiplicam-se os artigos de fundo, uma panóplia de opiniões mais ou menos iguais, e todas obamamente encomiásticas. A cereja em cima do bolo foi anteontem colocada pelo impagável Pinto de Sousa (Sócrates), o qual, como não sabe inglês (a não ser inglês técnico…), repetiu, em português, o Yes, we can do senhor Hussein Obama. Olaré.
Há poucas semanas, toda esta malta, em uníssono, gritava bem alto o excelso nome e as inigualáveis qualidades da dona Hilária, a qual, além do mais, orgulhosamente, era uma mulher sem precisão de cotas, uma mulher com profundos conhecimentos dos corredores da Casa branca, do Senado, da política externa, dos problemas sociais, e até tinha umas pitadinhas de esquerdismo que só lhe ficavam bem.
De repente, o Obama começou a subir nas votações, e aí vai a maralha como um rebanho atrás do varapau. Viraram a casaqueta, e de que maneira, perante a hipótese de vitória do rapaz, preparados todos para gritar o vae victis final à sua estrela de ontem.
É esta a “massa crítica”, é este o “pensamento” das elites portuguesas.
Para o Irritado é mais ou menos indiferente: venha o Obama, venha a Hilária, venha o McCainn, venha quem vier que tenha o que é muito mais importante que o candidato mas que ninguém conhece nem se interessa por saber, isto é, alguém que traga consigo uma equipa de gente sabedora, sensata, credível, capaz de jogar o xadrez da política com visão de futuro, gente que ponha alguma ordem na vida internacional e que faça da América, outra vez, o motor económico do Ocidente e um farol de Liberdade. O resto são cantigas para entreter os pacóvios, são excitações de balzaquianas, arengas de reformados, oportunismos de plumitivos que querem, mais tarde, dizer que acertaram no prognóstico.
O lusitano provincianismo no seu pior.
António Borges de Carvalho