HORAS
Toda a vida mudei a hora de Verão para Inverno e de Inverno para Verão. A coisa tem atravessado os tempos sem que ninguém lhe tocasse. Nem os mais fervorosos revolucionários de 74 se lembraram de dizer que se tratava de uma norma fascista, nem o Costa disse que a culpa era do Passos Coelho - o que constitui um inusitado facto histórico.
Não há, em Portugal, nada tão pacífico com a mudança da hora. Mas os tipos de Bruxelas parecem não ter nada mais importante para preencher as horas vagas, que são muitas. Pensaram, pensaram, e vai de propor que se acabe com a hora de Verão e a de Inverno, eventualmente, penso eu, por causa do aquecimento global: devem estar a preparar-se para abolir o Inverno.
Não aceitámos a marosca, honra seja àquilo a que por cá é conhecido por governo. Orgulhosos por, pela primeira vez, ver uma discordância nacional com os ditames de Bruxelas, bem podemos encher o peito de ar. E até temos conosco a Grécia e outro país qualquer, levando a crer que ninguém mais se preocupou com tão importante matéria.
Fiou fino. Nas televisões e nos jornais surgiram, saídos não se sabe donde, inúmeros especialistas: sonólogos (cientistas do sono), sestólogos (da sesta), sociólogos, eco-horaristas (de horário), metabolismólogos e de outras especialidades, a ensinar as massas sobre as consequências da importantíssima decisão. Como uns eram contra outros a favor, ficámos na mesma, tal como tudo ficará mais ou menos na mesma, com mudança de hora ou sem ela. Por mim, que não especialista de coisa nenhuma, deixem-se de teorias: que fique tudo como está, que até tem a sua piada.
Como vêm, pela primeira vez na História, concordo com a geringonça. Uma estreia!
31.10.18