Consultores
Um tal Dias, fulano que conheci há uns trinta anos, escreve, julgo que semanalmente, no extraordinário jornal que dá pelo nome de “Público”.
Em baixo, no fim dos artigos, o incauto leitor é informado sobre a profissão do articulista ou, se quiserem, sobre a qualidade em que escreve: consultor. Consultor jurídico? Consultor de engenharia civil? Consultor económico? Consultor fiscal? Consultor quê? Não é, ao leitor, dada a oportunidade de saber perante quem está, embora a inclusão da referência profissional queira inculcar na mente de cada um que o articulista, ou o jornal, e muito bem, querem “informar” o leitor sobre a formação, ou a profissão, de quem escreve. A palavra consultor tem, além de tudo mais, um sabor a isenção, a independência, trata-se de alguém a quem nos podemos dirigir à procura de um parecer técnico, parecer que nos será dado segundo critérios profissionais, com exclusão de quaisquer outros.
Acontece que o tal Dias é, há mais de trinta anos, uma espécie de chefe das relações públicas do Comité Central do PC. Não se lhe conhece outra actividade nem se sabe qual a sua profissão de origem, se é que a tinha. Mas sabe-se que, se a tinha, desde tenra idade a não exerce. Tudo leva a crer que, se o tal Dias alguma consultadoria pode oferecer, será em marxismo-leninismo, em ditadura do proletariado, em agit-prop, ou outras nobres e equivalentes matérias.
Que o tal Dias queira desinformar as pessoas intitulando-se consultor, pode compreeender-se. É, aliás, um tipo de “informação” que assenta como uma luva num porta-voz do PC.
Mas que o “Público” colabore, consciente e propositadamente, em tal e tão desavergonhada aldrabice, é impróprio de um jornal digno desse nome.
António Borges de Carvalho