INTROMISSÃO EM CORRESPONDÊNCIA ALHEIA
Um hacker, contratado pelo IRRITADO, encontrou na net a mensagem que abaixo transcrevemos.
Sua Excelência Sec. Geral, Exmº Senhor Gurria
OCDE
Lisboa, 12.2.19
Caro amigo
Tenho presente a proposta de relatório da sua estimada organização sobre a situação em Portugal.
Devo, antes de mais, confessar que não me parece justo, nem normal, que o chefe dos relatores da OCDE seja um tal Álvaro, indivíduo comprometido com o governo anterior e, por conseguinte, um neoliberal a que os meus associados comunistas chamarão fascista. Não irei tão longe, mas a figura em causa não deixa, por isso, de ser duvidosa.
Como VExa bem sabe, Portugal é um país socialista onde, naturalmente, os álvaros não são bemquistos. Os limites da nossa democracia são os do lado direito do PS, ainda que o meu amigo Rui Rio e o seu sequaz Rangel queiram passar-se para o lado de cá. Não passarão.
Pedindo desculpa por estas considerações introdutórias, venho sugerir algumas alterações ao relatório proposto pela OCDE. É que há matérias por demais delicadas que esse tal Álvaro nele incluiu. Como VExa bem sabe, não é conveniente citar os problemas levantados pela triste situação em que se encontra o meu ilustre camarada Sócrates, ínclito primeiro-ministro dos governos em que tive a honra de participar. Não posso dizê-lo publicamente, mas trata-se de uma perseguição movida pelos restos da direita portuguesa a que o poder judicial foi sensível, sabe-se lá porquê. Assim, as considerações sobre o estado da justiça em Portugal estão certas quanto ao seu mau funcionamento, mas têm fundamentos errados, uma vez que, ao contrário do que o relatório refere, não é líquido que haja por cá corrupção. Há-de VExa concordar que não se pode confundir corrupção com as cabalas que por aí se inventam contra nós. Portugal, a democracia e o PS são uma e a mesma coisa. A corrupção é um resquício do poder da direita, há muito derrotado pela moral republicana que o PS corporiza. Não é por issso aceitável que a justiça ataque o meu partido, o meu governo e, com eles, a coligação de esquerda, forças que são a condição basilar e sine qua non da existência da democracia, ou seja, do socialismo. Está a perceber? Trata-se de uma imposição de consciência a que VExa não deixará de corresponder, emendando o relatório em boa conformidade.
Permita-me igualmente protestar, com a veemência que o caso merece, contra a inclusão do tal Álvaro na apresentação do relatório em Lisboa. Tarta-se de personna non grata para o meu governo, como VExa compreenderá. Solicito ainda que, como é diplomaticamente correcto, a exclusão deste indesejável indivíduo seja assumida por VExa, a fim de evitar as cabalas que, a tal respeito, não deixarão de ser fabricadas pela direita reaccionária.
Sem mais, sou, de VExa, atento venerador e obrigado
António Corta