IRRITAÇÕES DOMINGUEIRAS
CAMBADA DE INCOMPETENTES
“Os professores são os bodes expiatórios da incompetência do governo”, disse um tipo qualquer, desses das manifestações. A contrária bem podia ser usada pelo senhor Pinto de Sousa: “ O governo é o bode expiatório da incompetência dos professores”.
E eu, que não sou nem governo nem professor diria: “somos todos vítimas da incompetência do governo e da incompetência dos professores”.
BIG BROTHER PARLAMENTAR
É evidente que não é bonito que os parlamentares percam o seu tempo a ver pornografia nos computadores que a sociedade põe, generosamente, à sua disposição. A não ser que seja (fosse) para fazer algum estudo sobre tal comércio e a sua influência na saúde mental e sexual da Nação.
Deve ser por isso que uma ignota funcionária, ao que parece poderosíssima (deve ser do PS) resolveu bloquear os ciber sítios onde se publicam as porcarias que os deputados vêm. O que levanta várias questões, qualquer delas muito mais grave que o facto de os senhores deputados terem entretenhas menos “ortodoxas”. Primeiro, para que a tal moralizante criatura saiba o que os deputados vêm, é preciso que tenha acesso ao que eles vêm, isto é, que seja utilizadora de um sistema informático que lhe permite saber para onde liga quem. Segundo, para que a dita funcionária bloqueie seja o que for, é preciso que para tal tenha poder. Quem lho deu? Com que legitimidade? Por alma de quem?
É evidente que quem pode fazer tal coisa, pode entrar no correio de cada um – o que é proibido pela Constituição – e saber dos segredos de cada um, pessoais ou políticos. Sem mandato judicial, sem que ninguém seja suspeito seja de que malfeitoria for.
Se, para os deputados, está em acção esta bigbrotherzinha do parlamento, imaginem o que o senhor Pinto de Sousa e o senhor Gama (inacreditável!) andam a fazer às nossas mensagens, aos nossos amigos, às nossas mulheres…
A fulana deveria, se houvesse lei e ordem, e Democracia, em vez de prepotência e pidismo e autoritarismo, ir parar à cadeia, para já em prisão preventiva e, mais tarde, ao degredo, quiçá na Bielo-Rússia, em Cuba ou similares sítios onde as suas práticas são perfeitamente aceites e louvadas.
Será que Portugal, por este andar, se está a tornar “similar”? A resposta é sim.
GRANDE CAVACO
Andaram para aí os costas, as rosetas, os fernandes e quejandos a gritar que a zona ribeirinha devia ficar sob a alçada da Câmara Municipal de Lisboa. Isto, apesar do evidente e profícuo trabalho que respectiva autoridade legítima tem vindo a fazer ao longo dos anos para pôr os alfacinhas a gozar as maravilhas do Tejo.
Aquela gente quer poder. O que já tem, e que transforma a câmara num burocraticíssimo inimigo público, não lhes chega.
Não, meus amigos, não se trata de fazer com que uma parte substancial dos proventos da APL sejam afectados a fins de qualificação das áreas não afectas ao serviço portuário propriamente dito, de acordo com planos para os quais a Câmara fosse consultada. Trata-se de poder. O poder de transferir para uma entidade arruinada as prerrogativas de poder que estão nas mãos de outra que, excepcionalmente neste pobre país, dispõe de meios financeiros, de tecnologia e de know how para fazer alguma coisa de jeito.
Imagine-se o que seria a zona ribeirinha de Lisboa a ser discutida pelo saco de gatos da CML, com o Fernandes a dar ordens ao Costa, com a Roseta a “consultar o povo”, com a Sociedade Recreativa do Pontapé no Cu a ter o direito de gritar e esbracejar sobre o assunto…
Bem fez SEPIIIRPPDAACS em mandar o decreto de volta. Espera-se que as manobras costo-socrafífias não lhe dêem a volta.
ORTOGRAFIAS
Aqui, no dicionário do meu computador, se escrever em inglês, é-me dado escolher entre o inglês do Reino Unido, o inglês da África do Sul, da Austrália, do Belize, do Canadá, das Caraíbas, dos EUA, das Filipinas, da Índia, da Indonésia, da Irlanda, da Jamaica, da Malásia, da Nova Zelândia, de Hong-Kong, de Singapura, de Trinidad e Tobago e do Zimbabué.
Os ingleses não estão nada preocupados com as variantes da sua língua praticados por esta enorme série de países, ainda que com variantes próprias da sua circunstância, das suas raízes históricas e da sua livre e própria evolução. Daí mal não vem, antes pelo contrário, para os ingleses ou para os outros.
Por cá, é ao contrário. Ou por saudade imperial, ou por inultrapassável estupidez, os nossos políticos e os nossos intelectuais têm a estulta pretensão de uniformizar a língua em vez de deixar que ela se enriqueça com os contributos de terceiros a nós ligados por razões históricas e linguísticas. Que mal haveria para esta chafarica se, nos dicionários informáticos, aparecesse português de Portugal, de Angola, do Brasil, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Moçambique, de São Tomé, de Timor, ou até de Goa e de Macau? Que mal haveria em dar, electronicamente, ao mundo, a ideia, tão mal espalhada, de que o português é falado em todos os continentes?
Lá ratificaram o acordo ortográfico. Contra os mais evidentes interesses da Nação, a bem da afirmação da nossa pequenez, em vez de da nossa grandeza, ou do que dela resta.
A coisa nada me afectará. Jamais utilizarei a “nova língua”. Escreverei como me ensinaram, ficarei fiel à lógica intrínseca que há na minha maneira de escrever a minha língua. Morrerei, certamente, antes que o flagelo do acordo ortográfico tenha produzido o seu monstro. Mas os meus netos, esses, herdarão do senhor Pinto de Sousa e de SEPIIIRPPDAACS uma confusão trafulha que inquinará a sua língua para todo o sempre se algum bom senso não vier a prevalecer daqui até à entrada em vigor da porcaria.
António Borges de Carvalho