PRÓS E PRÓS
Mais um brilhante exemplo da “isenção” que o governo do senhor Pinto de Sousa soube introduzir no “serviço” público de televisão.
O último “Prós e Contras” parecia um programa inventado pelo doutor Oliveira Salazar. Uma panóplia de ilustres senhores foi reunida para dar da Nação uma imagem de progresso, de estabilidade económica, de segurança financeira, de riqueza a rodos.
Um ministro do governo, um banqueiro adepto das soluções socialistas para a banca privada, três ilustres manda-chuvas empresariais cheios de caroço, compunham a bancada dos VIP’s. A assistência afinava pelo mesmo diapasão. Chefes de “multinacionais” lusitanas, dos chapéus texanos(!) aos barracões de lata, tudo era festa. Um desgraçado de um rapazola quis, a certa altura, dizer que não era bem assim. Dona Fátima, prontamente, pô-lo na prateleira. Querias, filho, dizer mal do governo? Não querias mais nada? Ele há cada um!
Uma vez, um ministro mais ou menos piadético disse que Portugal era um oásis. Durante anos andou a levar pancadaria e a ser ridicularizado por causa disso pela “comunicação social” e pela nacional bem-pensância. E, no entanto, nesse tempo o desemprego era um dos mais baixos da Europa, o crescimento era o dobro do de hoje, as contas do Estado não andavam mal… Chamar-lhe oásis era um exagero, com certeza. Mas tinha alguma razão de ser.
Hoje, que estamos no estado em que estamos, o desemprego nos píncaros, centenas de milhar de portugueses a emigrar outra vez, um défice inventado a ser falsamente reduzido, um crescimento ridículo, uma desbragada tirania fiscal, uma segurança quase inexistente, uma justiça em cacos, um ensino aos tombos, há um monte de craques que passa três horas na televisão do Estado a dizer que vivemos no melhor dos mundos, que isso do desemprego é sinal de progresso, que tanto faz crescer um por cento como três, e mais o que lhes veio à cabeça para convencer as pessoas da excelência do senhor Pinto de Sousa e dos seus sequazes.
E não há uma voz, um jornalista, um comentador, que se erga contra a governamentalização da RTP (e, já agora, da SIC, que vai pelo mesmo caminho), contra o optimismo aldrabófono de elites endinheiradas ansiosas por agradar ao governo, contra a manipulação descarada da realidade que pesa sobre todos nós.
Quem disse que havia em Portugal massa crítica, líderes de opinião, informação propriamente dita, isenção, uso criterioso do que resta da Liberdade?
António Borges de Carvalho