ADEUS PEDRO
Eu sei que o IRRITADO não merece falar de ti. Mas não resiste.
Foste o conservador mais “progressista” que conheci. A tua palavra chave era “fantástico”. Eras aberto à novidade, à descoberta, tinhas o dom de apreciar com optimismo o que de novo a vida nos oferece, qualidade rara e, para muitos, difícil de usar ou até de “engolir”. Era a tua forma, tão conseguida, de estar vivo. Tão “fantástico” para ti era Max Plank como as marchas do Santo António, Alfama como Boston, tudo o que vivesse e mexesse à tua volta, o antigo e o novo, a tua tolerância e a tua incansável admiração, o cinema como o futebol, o teatro como a música, os teus clubes, os teus amigos, a tua família, os que de ti precisavam. Para muitos, eras afirmativo em excesso, um “duro”, quase desapiedado quando impunhas opiniões ou defendias ideias. Mas o que é um gestor, senão isso mesmo? Indo um bocadinho mais longe, eras tu mesmo: fantástico. Podias, mesmo com custo, ceder. Nos teus princípios e valores, não.
Morrer é sempre injusto. No teu caso, foi muito muito pior que isso, um corte súbito com projectos que nunca conheceriam a velhice, porque tu nunca envelheceste. Envelhecer não fazia parte do teu estar na vida. A tua partida foi, para mim, talvez a mais difícil de compreender e tolerar. Não a aceito. Nem aceito já não poder conviver contigo. Fazes-me falta.
29.7.19