MORRER NA PRAIA?
“Não queremos morrer na praia”, disse, cheio de basófia, o senhor de Belém.
Não sei onde foi amodernidade buscar esta expressão. Razão pela qual não faço ideia do que quer dizer. A terceira República trouxe à praça pública uma data de novas expressões, de um modo geral caracetrizadas pelo proto-analfabetismo que é timbre do ensino do portugês. Por exemplo “frente a” em vez de “em frente de”, “mesa em madeira” em vez de “mesa de madeira”, “eu pessoalmente parece-me que” em vez de “parece-me que”, “tomaram remédios para tratarem da doença” em vez de “tomaram remédios para tratar da coença”, e por aí fora, um mar de barbaridades.
Esta do “morrer na praia” tem a vantagem de não ser propriamente uma barbaridade. O problema está no que quer dizer. Será que o senhor de Belém não quer morrer na praia dos pescadores em Cascais, depois de revigorante banhoca? Será que considera que o “nobre povo” está a naufragar e que, se conseguir chegar à praia, prefere ir morrer (de fome?) lá em casa? Esta segunda hipótese seria contraditória, uma vez que o que o tal senhor quer, diz-se, é comunicar calma e fé no futuro. A frase não é compaginável com os afogamentos no naufrágio.
En fim, perceberá quem quiser, certamente haverá muita gente mais esperta que este escrevinhador.
17.4.20