PROFISSIONAL IGNORÂNCIA
O SOLcrates publica uma interessante reportagem sobre uma próspera nova indústria que se dedica ao fabrico de trabalhos, estudos e relatórios, com o nobre fim de os vender a estudantes que não têm tempo, ou competência, para os fazer.
É o novo “ensino” no seu melhor. Quando se passava as cadeiras através de uma prova escrita e de uma prova oral no fim do ano, e havia avaliações intercalares através de pontos e de discussões, os relatórios e os trabalhos eram motivo de valorização, mas não se passava ou chumbava em função deles.
Agora é diferente. Uns trabalhinhos, que se compra em lojas especializadas ou que, para quem tiver pachorra, se arranja na Internet, são o core da avaliação. A existência destas facilidades deveria levar a que, mais do que antigamente, a avaliação fosse feita pessoalmente, professor e aluno cara a cara, sem hipóteses de aldrabices para além de umas cabulazitas ou de umas cunhas. Cais quê! Trabalhinhos, relatórios é que é bom.
Diria que esta vai à atenção do poder, se o poder tivesse atenção a alguma coisa outra que não fosse a propaganda.
Ainda a este respeito, é interessante ler o anúncio de uma das tais fábricas de produtos intelectuais. Reza assim:
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Investigam-se Temas
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Elaboram-se Trabalhos
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Orientam-se Apresentações de Trabalhos
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Elaboram-se Curriculum Vitae
Nas quatro entradas, quatro vezes o predicado concorda com o complemento directo, não com o sujeito. Numa delas, dá-se um pontapé no cu do Latim.
A isto chamam “Apoio ao ensino superior”.
Imagine-se a qualidade dos produtos que a coisa comercializa.
António Borges de Carvalho