MUCH ADO ABOUT NOTHING
O ME chegou a acordo com o tipo dos bigodes à Sadam. Exulta o primeiro ministro, os áulicos cantam loas pelas arcadas, os cortesãos dançam nas barbacãs do Largo do Rato, o senhor Alegre faz uma ode comemorativa. Há quem diga que até o buraco do ozono se encolheu perante tal feito. Grande vitória do governo e do “diálogo social” que, à rasquinha, promoveu.
Do outro lado, o tipo dos bigodes diz que o governo foi exemplarmente vencido pela rua, o senhor Jerónimo esganiça que a vitória é dele antes que o Meneses se adiante. O senhor Portas (Paulo) e o senhor Louça também dizem que ganharam. Ganharam todos.
Perdemos nós.
Perdemos meses a ver este filme, perdemos a vaga chance de ver os professores a ensinar e os meninos a aprender. Dá mais (euros, entenda-se) fazer barulho que ensinar. Q.E.D.
A famosa avaliação passa a ser só a “auto-avaliação” (senhor director, sou o melhor do mundo!), a assiduidade (só faltei porque a minha sogra estava constipada, que diabo!), o “cumprimento do serviço distribuído” (se não fiz serviço foi porque não mo distribuiram!) e a participação em “acções de formação contínua quando obrigatórias” (se só fui a uma foi porque as outras não eram obrigatórias!).
Veja-se o primor do acordo: dos critérios a utilizar na “avaliação”, nem um só se refere à qualidade do ensino, à preparação académica, à disciplina nas aulas, à prestação dos alunos. Ensinar para quê?
Mesmo assim, o homem dos bigodes não ficou satisfeito. Na mais que improvável hipótese de algum “docente” ter más notas (quem as poderá ter, com estes critérios?), o remédio é simples: a avaliação não conta. Fica para o ano que vem! No ano que vem, logo se vê. Talvez mais uma manifestaçãozinha acabe com a “ameaça”.
Para já, quem tiver a nota de “regular” (entenda-se, um tipo que disse mal de si próprio, que foi pouco assíduo, que não foi lá muito prestativo no serviço distribuído nem participou nalgumas acções de formação obrigatórias), verá o seu notável contributo para o ensino castigado com… a renovação do contrato! Os que obtiverem a classificação de “insuficiente”, pior que “regular”, não perdem o tempo de serviço, a não ser que, no ano que vem, continuem insuficientes, isto é, que os alunos sejam, durante pelo menos mais um ano, ensinados por um tipo “insuficiente”.
A coisa atinge os píncaros da loucura com a criação de uma “comissão paritária”, onde estará o governo e o tipo dos bigodes e seus amigos, os mais deles, diz-se, nomeados plo senhor Jerónimo. Tudo, mas, tudo, todos os documentos, estará à disposição dos comissários, aos quais é dado preparar as futuras negociações, prometidos para 2009. Tais negociações, como é óbvio, terão que resultar em mais umas abébias, sob pena de haver mais umas manifestações de desagravo por “ofensas à dignidade dos docentes”.
Não vem nos jornais qual é o horário de trabalho de tais personalidades. Mas, para que não se ofendam outra vez, é-lhes dado retirar dele “oito a dez horas semanais(!!!) “para preparação das aulas”(!!!).
Se acrescentarmos a isto que a espantosa “avaliação” incidirá, para já, sobre sete mil professores, ficando para depois – com certeza para depois dos trabalhos dos comissários – a que respeita aos outros cento e trinta mil, teremos o quadro, mais ou menos completo, da vera substância do grande triunfo de tanta gente.
A montanha pariu um rato. A “valente” ministra meteu o rabinho entre as pernas. As parangonas “reformistas” foram por água abaixo. O senhor Pinto de Sousa ganhou uns eleitores.
Vêm como toda a gente ganhou, menos o Zé?
António Borges de Carvalho