UMA PROFISSIONAL EMBLEMÁTICA
Ontem, caso raro, passei pelo concurso da RTP. Com tanto azar que bati logo, sabem em quê? Numa professora. Sabem de quê? De português. A fulana, toda pespineta, rebolava-se em piadas e dichotes.
O pior foi quando lhe perguntaram o que queria dizer “tartamudear”. A rapariga entupiu. A pergunta era por demais difícil, rebuscada, traiçoeira. Ajeitou os intelectualíssimos e profissionalíssimos óculos, pensou, pensou, e não foi lá. Decidiu eliminar duas das respostas que lhe eram propostas. Depois, ficou perante este terrível dilema: tartamudear quererá dizer gaguejar, ou fazer bifes tártaros? A mulher estrebuchou. Como boa professora de português, fez alguns brilhantes raciocínios sobre a etimologia das palavras, tendo chegado à conclusão que, segundo os seus profundos conhecimentos filológicos, fazer bifes tártaros deveria ser tartarizar, e não tartamudear. Mesmo assim, continuou hesitante. Só depois de o não-sei-quantos a aconselhar várias vezes a não gaguejar é que chegou à conclusão de que gaguejar seria a resposta certa. A medo, lá a escolheu. Toda a gente viu o alívio da “docente” quando lhe disseram que a resposta estava certa. Até ao último segundo, coitada, teve as suas fundadas dúvidas.
Ou muito me engano, ou a distinta criatura andou a protestar contra a “avaliação”. Deve ser daquelas que andam todas contentinhas por, depois do acordo entre o xarroco dos bigodes e a ministra que tínhamos, a coisa ter ficado em águas de bacalhau. Fez-se Justiça!
Por mim, apaguei a televisão, não fora ficar ainda mais esclarecido sobre a qualidade da classe “docente”.
António Borges de Carvalho