MEDIDAS PARA PROTEGER O POVO
A fim de não seguir o exemplo dos Estados Unidos, e possuído de extremosos sentimentos em relação aos portugueses mais tesos, o senhor Santos resolveu prolongar o prazo de pagamentos dos empréstimos devidos por compra de casa por mais uns vinte anitos. Cinquenta, ao todo. Se coisa correr mal, não tarda passe para os cem.
Grande medida!
Se você comprar um andarzeco aos trinta anos, acabará de o pagar aos oitenta! O mais provável é que venham a ser os seus herdeiros a ficar com um andar todo podre, que não lhes interessa nada, cheio de prestações para pagar. Os seus herdeiros, como você, sua besta, vão ficar ali, amarradinhos à casota, a pagar e a não bufar, estrangulados pela tesura a que a estabilidade de emprego os condenou. Viva o Pinto de Sousa!
Consta que o senhor Salgueiro, mui sábio presidente da associação de bancos, vai dar um banquete comemorativo, precedido de um Te Deum de acção de graças. Vai ser um fartar vilanagem, em juros e alcavalas.
Resumindo: o senhor Santos, em vez de pegar no NRAU que os seus camaradas inventaram e de o deitar para o lixo, em vez de relançar, mediante actualizações rápidas e automáticas, o mercado de arrendamento, em vez de criar linhas de crédito para a recuperação dos prédios com cujas rendas o Estado se abotoou durante um século, resolve agravar a vida das pessoas, manter os yields abusivos – por defeito e por excesso - do mercado de aluguer, continuar no inacreditável absurdo em que vegetamos e que nem no quinto mundo, nem nos manicómios, nem na mais primitiva sanzala existe.
Alternativas para as pessoas, nem pensar, que isto do socialismo tem que se lhe diga.
Depois, venham cá dizer que o senhor Pinto de Sousa governa à direita. O tanas. Governa à esquerda, e à mais estúpida das esquerdas.
António Borges de Carvalho