NEO-SOCIALISMO
Segundo o governo:
- Lisboa tem 159 farmácias a mais;
- Porto, 49;
- Santarém, 8;
- Vila Real, 5;
- Há, no país, 224 farmácias que “podem” pedir transferência
de localização;
- Esta possibilidade é “dada” às farmácias que não têm o
“índice de capitação” indispensável para ter o direito à
existência no sítio onde existem;
- A “capitação”, por farmácia, é de 3.500 habitantes;
- Se só houver outra farmácia a mais de 2 quilómetros de
distância, a farmácia pode ficar onde está, mesmo que não
tenha a tal “capitação”;
- Só pode haver farmácias a mais de 350 metros umas das
outras, cumulativamentecom pelo menos 100 metros em
relação a centros de saúde ou, extensões de
saúde e hospitais.
Tudo isto se encontra devidamente legislado, justificando-o quem manda com o “modelo de liberalização (!!!) da propriedade” pomposamente anunciado há três anos pelo senhor Pinto de Sousa.
Assim:
Verificado que o cidadão tem uma farmácia numa povoação de baixa “capitação”, terá, em certos casos, a opção de mudar de Freixo de Espada à cinta para Boliqueime, segundo as ordens do governo. Em alternativa, terá que fechar a farmácia e ir vender chuchas para a porta da residência do primeiro-ministro;
Se o conselho onde tem a Farmácia tem os 3.500 habitantes a que a lei obriga, mas se 5 deles foram trabalhar para as obras em Vila Nueva del Fresno, e ficar só com 3.495, terá o tenebroso comerciante que fechar o estabelecimento ou ir ocupar uma vaga que o governo lhe oferece, eventualmente em casa do diabo. Se não houver vagas, lá vai o homem vender chuchas. O melhor, para prevenir a situação, é tirar já um curso de especialização em chuchas de alta tecnologia, oferecido por aquele feioso da ciência, com a colaboração com o MIT.
Por outro lado, se você quiser ter um estabelecimento farmaciológico numa grande cidade, terá que se certificar se não há outro a menos de 350 metros. Isto, mesmo que vivam, na área, 10 ou 20 mil habitantes. Está a ver? Todo o cuidado é pouco! A ANM (Autoridade Nacional do Medicamento), coisa inventada pelo cérebro privilegiado do senhor Pinto de Sousa, vela por si com uma eficácia que nem o Big Brother.
Isto, no que se refere aos donos das farmácias.
E nós?
Nós temos várias lternativas. Se vivermos numa grande cidade, o governo, generosamente, dá-nos a possibilidade virtual de, aos dias de semana, ter uma farmácia a menos de 350 metros de casa, isto se houver quem queira abrir uma farmácia nas redondezas. Se sairmos, meios moribundos, de um centro de saúde, a precisar urgentemente de rebuçados para a tosse, andaremos, no mínimo, 100 metros. E se vivermos numa aldeia qualquer, o governo, virtualmente, garante que, para comprar uma aspirina não teremos que andar mais de 1.999 metros.
Pensariam os incautos que liberalização seria, uma vez verificadas certas condições específicas, como em qualquer ramo de comércio, que quem quisesse abrir uma farmácia, pois que o fizesse. A concorrência só podia favorecer o consumidor.
Estúpidos!, diria o senhor Pinto de Sousa do seu dourado trono, liberalização é controlar tudo até ao mais pequeno pormenor. O Cordeiro da horrenda barba deve estar com dores de barriga de tanto rir.
António Borges de Carvalho