ENSANDECEU!
O notável jornalista e arquitecto que preside aos destinos do jornal SOLcrates, em sede do editorial “Política a Sério”, insurge-se contra o destaque que tem sido dado às cigarradas do senhor Pinto de Sousa. Diz ele:
A polémica gerada pelo cigarro fumado por Sócrates num avião ilustra bem o estado do país. Um tema destes fazer manchetes na imprensa dita “séria” cobre-nos de ridículo.
Incomodados por esta diatribe, demos uma voltinha rápida pela edição do SOLcrates em que ela foi publicada.
Eis o resultado: a importantíssima coluna do importantíssimo director-adjunto do SOLcrates, senhor Lima, é dedicada aos cigarros do senhor Pinto de Sousa; um “cartoon” do senhor Cid também; o senhor Sousa dedica um destaque ao assunto, sob a epígrafe “Bem Prega Frei Tomás”; o artigo do senhor Silva titula, a cinco colunas, “Sócrates e os Malefícios do Tabaco”. E mais não vimos, o que não quer dizer que mais não houvesse.
Estas verificações apontam para conclusões diversas:
a) O arquitecto não manda nada na coisa;
b) O SOLcrates não é “sério”;
c) O SOLcrates está no mesmo estado que o país;
d) O SOLcrates está coberto de ridículo;
e) O arquitecto anda na Lua.
Em alternativa, teremos de convir em hipótese muito mais inquietante: o arquitecto não está bom da cabeça!
Desgraçadamente, esta última suspeita parece ser a que mais se coaduna com a verdade. Senão vejamos:
Diz o grande plumitivo da nossa praça que Guterres e Barroso herdaram o poder de Cavaco e de Guterres, porque estes estavam “esgotados“. Conceda-se, sem acordo, mas com compreensão. Depois, diz que “Sócrates herdou o poder que Santana exauriu”. Exauriu quer dizer ”esgotou completamente”, “dissipou completamente”, ou “depauperou”. Passados três anos depois da defenestração de Santana Lopes, o arquitecto ainda não percebeu quem não se “depaupera” o poder em quatro meses sem que haja uma hecatombe qualquer, que não houve, ou um golpe militar, que ainda menos. O homem ainda não percebeu que, mesmo que Santana fosse mau, nada, na acção do seu governo, foi mau, ou teve, sequer, tempo para o ser. O mínimo de respeito pela nossa história recente só pode levar a concluir que Santana foi “corrido” por exclusiva vontade de um homem que esperou pacientemente que a esquerda (o PS e o PC) se organizassem, para, ajudado pelos arquitectos da imprensa e pelos senhores Sousa, Cavaco e quejandos, lhe dar a machadada final através de um claríssimo e evidentíssimo golpe de estado constitucional. Por outro lado, a não ser que estejamos cegos, ou loucos, se olharmos, ministro a ministro, o que era o governo Santana Lopes, teremos, quase sem excepção, um leque de pessoas que deixam a anos-luz, em matéria de competência, seriedade e curriculum, o conjunto de cidadãos que formam o governo do senhor Pinto de Sousa. A moeda boa foi expulsa pela má.
Diz ainda o senhor Saraiva que o PSD “se arrisca a cair numa deriva populista”, com certeza na hipótese de Santana Lopes ser eleito, já que a sua candidatura é, na opinião de Saraiva “uma brincadeira”.
Em que consiste o populismo? Populismo é o estilo de actuação política que se exprime em promessas agradáveis de ouvir mas inculcadoras de esperanças vãs que não se tem qualquer intenção de, ou meios para honrar.
Quais foram as promessas deste tipo feitas por Santana Lopes? Zero. Santana Lopes falou verdade às pessoas. O senhor Pinto de Sousa, grande protegido do arquitecto, outra coisa não fez, e não faz, todos os dias, que esgrimir, ou projectos malucos, ou puras mentiras. A lista seria interminável, se a quiséssemos fazer. Mas não vale a pena. Só não a conhecem os cegos ou os tontos, arquitecto Saraiva incluído.
É possível compreender, o que não significa aceitar, os ódios serrubecos e as invejas primárias, secundárias e terciárias, que Santana suscitou e suscita.
Não se compreende, de todo, porque há-de o director de um jornal, durante os últimos quatro anos, com Santana no poder e fora dele, dedicar-se a demolir uma pessoa que lhe não fez mal nenhum, nem ao jornal, nem ao país. Isto, enquanto protege, descaradamente, as aldrabices ultra-populistas do senhor Pinto de Sousa.
Le coeur a des raisons que la raison ne connait pas. Não será o caso. Caso é que parece que o homem ensandeceu.
António Borges de Carvalho