DIZ-ME COM QUEM ANDAS...
Um eminente (não identificado) diplomata do entourage do senhor Pinto de Sousa, a propósito dos altos objectivos e da inteligentíssima amizade entre o seu chefe e o senhor Chávez, disse que “Portugal não tem amigos ou inimigos permanentes: só o interesse do Estado prevalece”.
Tudo pela Nação, nada contra a Nação, diria o doutor Oliveira Salazar. Quem não está com a revolução está contra a revolução, disse o clarividente líder comunista Vasco Gonçalves. O mesmo espírito, ainda que de forma mais elaborada, foi objecto das reflexões de Maquiavel, serviu de base à acção de Richelieu e Maeternik, inspirou Willy Brandt, esteve na origem da política externa de Chamberlain.
Assim se vê como a história se repete. O mesmo tipo de mentalidade explica as mais diversas opções. Umas vezes com resultados aceitáveis, outras não.
O “interesse do Estado” (chame-se-lhe Estado, Nação, República, Povo, Proletariado, Revolução) submeteu meia Europa às doçuras do nazismo, “legitimou” milhões de mortes, “legalizou” Honnecker e o seu bando, ia mergulhando Portugal numa das mais horrendas ditaduras que a história da humanidade regista.
A política externa portuguesa abandonou, com o senhor Pinto de Sousa, a dose de pragmatismo que se pode aplaudir, para se submeter àquilo a que o mesmo senhor, do alto da mais profunda ignorância, acha ser o tal “interesse do Estado”. L’État c’est moi”.
A brilhante filosofia desta gente leva a colocar os abastecimentos energéticos de um país nas mãos do menos fiável de todos os produtores de petróleo, Irão incluído. O “interesse do Estado” leva a alijar a confiança de muita gente que se suporia em nós confiar. E ainda há quem diga que o senhor Pinto de Sousa governa “à direita”.
Diz-me com quem andas…
António Borges de Carvalho
PS. Porque será que o senhor Pinto de Sousa, ao “analisar” o problema do petróleo, não pensou, por exemplo que, dependendo umas boas centenas de milhar de noruegueses do bacalhau que lhes compramos, e sendo a Noruega produtora de petróleo, talvez fosse do “interesse do Estado” explorar essa “janela de oportunidade”?
Não, o senhor Pinto de Sousa, como todos os seus antecessores do PS, acha que o governo do país é o governo dos empreiteiros e que governar o país é ter “na mão” meia dúzia de cavalheiros de indústria. Ao contrário do que por aí se diz, não é o “poder económico” quem domina o político, mas o poder político que domina o outro, “puxando” por uns e arruinando os demais.