POLITIZAR O RENDEIRO
Não me lembro de algum dia ter tecido elogios ao senhor Rio. Se calhar fi-los, nos tempos em que ele dizia não gostar do Pinto da Costa. Mas juro que não me lembro.
Desta vez, porém, ainda que de forma canhestra, o homem tem alguma razão, quando diz que a prisão do Rendeiro foi efeito da campanha eleitoral. Talvez, à partida, não tenha sido. Duvido, mas não afirmo. Facto é que, se não foi de propósito, parece. Veja-se a bonança que foi para as hostes governamentais. O chefe da polícia, esquecendo-se de que as "autoridades" tinham deixado fugir o homem, passou dois dias nas TVs a gabar-se do seu histórico feito, em justa concorrência com a propaganda do covide e da bola. A “Judite” subiu aos píncaros da glória. A ministra da Justiça acorreu a, ditirâmbicamente, elogiar o seu subordinado, instrumento de eleição da política do governo, espada justiceira, “maravilha fatal da nossa idade”. O primeiro ministro deu largas à sua fatia: a Justiça a funcionar, o estado de direito (leia-se, o PS) no auge do seu bom e justo trabalho. Agradado e comovido, o senhor de Belém veio a correr apanhar o combóio das loas a tal estado (leia-se, ao governo). Os media serviram de coro e fanfarra. Um comício universal.
Se, por acaso, a prisão do Rendeiro (que podia ter sido feita muito antes) não foi manobra eleitoral, o seu aproveitamento ultrapassou largamente uns cartazes e umas sessões. Melhor e mais barato. Não foi, não é propaganda política em vésperas das eleições? Foi, e é.
O Rio quis dar um ar da sua graça. Fê-lo com os pés, como de costume. Mas, enfim, no fundo teve razão, quiçá não sobre o primeiro objectivo da operação, mas acertando na muche do que se lhe seguiu.
14.12.21