LUCAS PIRES
As caridosíssimas e inteligentíssimas almas do costume desdobram-se em elogios ao Doutor Francisco Lucas Pires, no décimo aniversário da sua morte.
Grande europeista, democrata de fina têmpera, professor emérito, grande homem…
Por estranha coincidência, a esmagadora maioria dos senhores em causa faz parte daqueles que passam a vida a invectivar os perniciosos efeitos desse autêntico demónio em figura de ideologia que se chama liberalismo ou, à moderna, neo-liberalismo, e a confessar o acendrado terror que tal coisa lhes inspira.
Esquecem, como é normal e sério, que foi o Doutor Lucas Pires o primeiro, e único, líder partidário que, desde o golpe de Abril, se atreveu a concorrer a eleições defendendo opções liberais. Passou-se isto em 1985. O CDS desceu 4 pontos, e teve 11%. O Doutor Lucas Pires demitiu-se (fez mal), sucedendo-lhe o Prof. Adriano Moreira, inimigo confesso e declarado das opções de Lucas Pires.
Depois da golpada eanista, via moção de censura dessa coisa que nos aconteceu e se chamou PRD, em novas eleições (1987), o ilustre professor teve o espantoso score de 4%, e não se demitiu. O CDS passou a saco de gatos, piristas, adrianistas, freitistas e não sei mais quê.
Seja-me permitido homenagear o Doutor Francisco Lucas Pires, acima de tudo pelo que fez e defendeu e não por ter feito e defendido o que as caridosíssimas e inteligantíssimas almas acham que, a benefício póstumo, lhes fica bem dizer agora.
António Borges de Carvalho