VIVA O CADAFI!
Não sei porque raio de carga de água há portugueses que, em matéria de segurança e defesa, se atrevem a não estar optimistas.
O Irritado, sempre atento ao que dizem os jornais, está pletórico de entusiasmo, sente-se absolutamente seguro, acha que, finalmente, mercê da genial política externa do senhor Pinto de Sousa, não há qualquer motivo para inquietações no que à nossa segurança diz respeito.
Na senda gloriosa da diversificação de relações de amizade com parceiros criteriosamente escolhidos – por exemplo, o camarada Chávez – o nosso governo acaba de subscrever um “memorando de entendimento” com o prestável senhor Cadafi, rapaz apreciado universalmente pelo seu brilhante currículo político e filosófico e pelo valioso contributo que tem dado à segurança internacional.
Por isso que, naturalmente, seja de louvar que o senhor Pinto de Sousa, dos vários campos à disposição, tenha escolhido o da segurança e defesa para se “entender” com o senhor Cadafi.
O ministério do senhor Papiniano, ou Aureliano, ou lá o que é, informou o povo: o Estado português subscreveu, com enviados do senhor Cadafi, um documento que vai enquadrar e estreitar as relações bilaterais “no âmbito de segurança e defesa”. “Troca de experiências sobre política de defesa” (por exemplo, abate de aviões civis), “operações de manutenção de paz” (por exemplo, eliminação de agentes perturbadores), “formação e ensino militar” (por exemplo, preparação da guerra santa), “armamento e equipamento militar” (por exemplo, fabrico de bombas de fragmentação), são alguns dos campos em que os dois países vão estreitar as suas relações e partilhar experiências.
Esta “importante etapa no relacionamento bilateral” vai ser implementada, como se diz agora, por uma “comissão mista”, que programará a “cooperação no domínio da Defesa”.
Assim, ó portugueses, é que se prepara o futuro! Para já, os enviados do senhor Cadafi vão inteirar-se, em visitas múltiplas, de tudo o que se faz em Portugal neste domínio, tanto do ponto de vista ideológico, como estratégico e industrial. O nosso país vai passar a vender armas que serão usadas em conflitos para a resolução dos quais, depois, se mandarão umas tropas de elite e uns polícias. É o que se chama gestão de recursos. De facto, se não houvesse conflitos, não se mandava tropa para o estrangeiro. Na falta deles, há que apoiar quem os provoca e arma, para a seguir poder demonstrar ao mundo a disponibilidade da Nação para defender a paz.
Estamos todos de parabéns. Pinto de Sousa vela por nós.
António Borges de Carvalho