HERÓIS
Há longo tempo, andam as mais altas instâncias cá da terra, media incluídos, a gabar, endeusar e tecer ditirâmbicas considerações sobre os altíssimos serviços prestado a todos nós pelos profissionais da saúde.
Não me permito duvidar da sinceridade de tais opiniões. Só que, em relação às classes elogiadas, a coisa não deveria ser tão generalizada. É que, em relação a 2019, as faltas ao trabalho, segundo o Portal da Transparência do SNS, aumentaram 21,6%, cifrando-se, em 2021, no astronómico número de 5.100.000 (cinco milhões e cem mil) dias de trabalho não prestado, ainda que pago. Estranhamente, parece que o aumento da intensidade do trabalho no SNS, por causa da epidemia, em vez de diminuir as faltas, as aumentou. É claro que as razões para tal absentismo são, sobretudo e segundo os próprios, a doença, o apoio aos filhos os acidentes e as doenças profissionais. Tudo certinho. Mas...
Não tenho, nem sei se há quem tenha, elementos para comentar ou tecer profundas considerações sobre o assunto, mas parece-me que carece de demonstração a chuva de elogios que tombou sobre a heroicidade generalizada dos funcionários públicos envolvidos na luta pela nossa saúde.
Sei que, no Portugal socialista, o colectivo se sobrepõe sempre ao individual, justificando as generalizações. Mas, no caso, talvez fosse mais sensato premiar e distinguir quem trabalha, e trabalha bem, em vez de endeusar o colectivo criando uma nova classe de heróis.
10.1.22