TRAPALHICES
O notável advogado/hoteleiro/neo-socialista, etc., J.M. Júdice, em mais uma demonstração do seu colossal jogo de ancas, tomou a original solução de se demitir antes de tomar posse do fabuloso cargo de manda-chuva da zona ribeirinha de Lisboa. Uma boa notícia para os alfacinhas.
A monumental quão ridícula pastelada em que a CML e o governo se meteram, atropelando-se mutuamente, apresentando projectos e fazendo declarações contraditórios, guerreando-se surdamente, dá, à malta que gosta de Lisboa, um formidável gozo.
Tudo tem a sua lógica. A realização do(s) projecto(s) para a zona ribeirinha de Lisboa é, na mente privilegiada dos neo-socialistas e de SEPIIIRPPDAACS, digna forma de comemorar os cem anos do 5 de Outubro. Que melhor comemoração da desgraçada efeméride do que entrar em pessegadas, demissões, contradições, guerrilhas, dissenções e zangas de comadres?
Os tempos mudaram, a coisa já não dá para uns assassinatos, umas bombas, umas cargas da polícia, uns sindicalistas para o degredo, umas golpadas de quartel, o que impede que a implantação da República seja comemorada em moldes mais compatíveis com a origem, a prática e as consequências do movimento de 1910.
Em termos “europeus”, seria uma chatice. Por isso, ponha-se o Júdice a zangar-se com o Costa, o Costa à cacetada, moral e verbal, ao Pinto de Sousa, SEPIIIRPPDAACS a desdizê-lo, o Salgado a projectar contra o governo, o Fernandes a estrebuchar entre as exigências do Louça e as maledicências do Costa.
Baralhe-se e dê-se de novo.
A República tem, pelo menos para já, as comemorações que merece.
António Borges de Carvalho
PS. Em demonstração da mais invejável inteligência, a CML apresentou, entre outros mimos, o projecto de uma praia artificial… no Poço do Bispo! Ondas artificiais, areia de plástico, piscina flutuante, etc. e tal. Não é lindo? Como, à volta da cidade, não há praias, nem ondas, nem mar – tal e qual como em Madrid ou Paris – há que dar aos lisboetas a possibilidade de se banhar nas salsas águas do seu rio. Uns milhõezitos para as construtoras, outros para a energia necessária à movimentação das ondas, outros ainda para uma sociedade gestora da coisa, mais o fundo de maneio, bons ordenados, etc., que melhor, mais necessária, mais luminosa ideia seria possível parir ao Costa? É que, para o poder neo-socialista, Lisboa escreve-se com um efe e com um zê, tal e qual como banana.