PROPAGANDISTAS
Do leque de propagandistas (pessoas que dizem maravilhas em todas as ocasiões, mentindo ou ocultando a verdade conforme convém) do senhor Pinto de Sousa, destacam-se, a grande distância dos demais:
- Os senhores S. Pereira e S. Silva no governo;
- O senhor Vitalino, no Parlamento;
- O senhor Vital, na imprensa.
O quadrilátero, como é sua profissional função, desdobra-se, a propósito ou a despropósito, segundo as conveniências do momento, em declarações laudatórias para o chefe e demolidoras para os demais.
Não contente com a profusão de recriminações de que a dona Manuela foi vítima no SOLcrates em especial e noutros veículos em particular, o insigne professor Vital publica, no jornal privado chamado “Público”, uma vigorosa diatribe, cujo principal objectivo é demonstrar que, ao contrário do que diz a senhora (“não há dinheiro para nada”), há dinheiro para tudo.
Quem ler com atenção o douto artigo fica com a impressão, ou com a certeza, de que se poderia construir em Portugal o Empire State Building para albergar a ASAE, uma linha de comboio rápido entre a Porcalhota e Jerez de la Frontera, para posterior ligação a Minsk, mais uns quarenta e sete estádios de cento e vinte mil lugares para os campeonatos escolares de berlinde, uma ponte entre Coimbra e Ponta Delgada, isto para citar empreendimentos relativamente modestos, como será, certamente opinião do ilustre académico.
O raciocínio é brilhante. Talvez seja, até, um "raciociônio".
(lembro-me de, nos idos de oitenta, ouvir o professor, à altura bolchevista, invectivar um deputado do governo com as doutas palavras: “Vossa Excelência não raciociona! Vossa Excelência não raciociona!”)
O raciociônio em apreço consiste em dizer que tudo é possível, que há dinheiro para tudo, e que só por “mistificação” e “demagogia irresponsável” se pode afirmar que não o há.
Porquê? Porque, meus senhores, o dinheiro vem de privados, e será pago pelos utentes das obras de propaganda do governo. Ou seja, não sendo dinheiro do orçamento, as contas continuarão equilibradas e não há problema nenhum. A gloriosa panaceia das PPP (parcerias público-privadas) a tudo proverá sem ser preciso aumentar o défice.
Não será preciso ir procurar ao famoso caso das SCUT’s para perceber a aldrabice que isto envolve. Os privados fazem as estradas, o estado – nós – paga a factura e os colossais juros respectivos. Ou então, os privados fazem as auto-estradas tendo presente um determinado cálculo de tráfego, da responsabilidade do Estado. Os utentes pagam as portagens. Se forem poucos, o Estado – nós - paga o resto.
Não se lembra o magno propagandista que, mesmo para projectos eventualmente rentáveis, os tais privados se vão financiar, e, não, como é evidente, gastar do seu bolso. Ora, como não há, nos bancos portugueses, dinheiro que chegue, o financiamento tem que vir de fora. A dívida externa, que já é maior que o PIB, aumentará brutalmente, e sem cobertura possível. Quem pagará? Voltaremos a ficar nas mãos do FMI, como nos gloriosos tempos do Bloco Central? Ou, como bom país do terceiro mundo, pediremos de joelhos, primeiro o reescalonamento, depois o perdão da dívida?
É evidente que haverá investimentos e investimentos. Por exemplo, quando um investidor se propõe construir uma central nuclear sem despesas para o Estado, trata-se de um investimento que “não está na agenda”. Mas, se proposta vier de algum protegido do senhor Pinto de Sousa, a coisa fiará mais fino. É o que se passa com o desvario eólico, a tenebrosa loucura do bio-combustível, etc.
Não se contesta que as hídricas sejam necessárias. Mas será necessário continuar a deitar para o lixo os milhões enterrados pelo PS em Foz-Coa, e ir gastar outro tanto no Sabor?
O propagandista, a este respeito, nada diz. O que lhe interessa não é incutir alguma lógica, ou mera racionalidade, na escolha e nos limites do investimento a que chama público, mas diz que é privado(!).
Interessa-lhe tão só incensar o senhor Pinto de Sousa e lançar o seu anátema sobre a dona Manuela, nem que seja através de “raciociônios”.
A “raciocionalidade” é que está a dar!
António Borges de Carvalho