LIVROS PARA O POVO
Conheço uma emigrante, legal residente em Portugal há quase vinte anos, casada, com três filhos em idade escolar.
Confessou-me estar aflita com a compra dos livros escolares.
Esmiuçado o assunto, a coisa é assim:
Aluno do 9º ano - € 350
Aluno do 5º ano - € 170
Aluna do 1º ano - € 130
Total…………… € 650
Ajuda do Estado
Aluno do 9º ano - € 65
Aluno do 5º ano - € 42
Aluna do 1º ano - € 30
Despesa total - € 513
A rapariga ganha 700 euros, e muito feliz se pode considerar por isso. O marido ganha uns 900, sendo também considerado bem pago. Impostos fora, o rendimento do casal será de cerca de 1.480 euros. Renda da casa 600 euros. Ficam, para (tudo) o resto, 880 euros.
Como é que, de uma assentada, pode este casal gastar 513 euros em livros?
O IRRITADOé adepto da escola livre, não vendo, inclusivamente, nada que, ainda que com eventuais excepções e derrogações, se possa validamente opor ao princípio do ensino pago.
Não seria intolerável que assim fosse.
O que é intolerável é que os livros de um filho não sirvam para os que se seguem.
O que é intolerável é que as famílias andem a pagar as entretenhas de umas dezenas de loucos e de chupistas que se intitulam “pedagogos”, e de uns bandos de políticos cujo divertimento é mudar tudo o que encontram nas escolas quando chegam ao poder.
O que é intolerável é que uma família como a do exemplo acima, gaste, para que três filhos pequenos possam estudar, o mesmo que eu gastaria se fosse à livraria e comprasse 37 romances a um preço médio de 14 euros cada!
O que é intolerável é que haja uma rede de editores, de autores, de decisores, que ganham fortunas imensas à custa dessas famílias.
O que é intolerável é o preço, completamente absurdo em relação ao custo industrial, intelectual e de distribuição, que o mercado pratica sem que o governo mexa uma palha a tal respeito.
Tem o governo do senhor Pinto de Sousa criado para gastar o nosso dinheiro muitas e as mais das vezes inúteis e dispendiosas “entidades reguladoras”, “autoridades” disto e daquilo, “altos comissariados” para quem sabe o quê, “secretariados” nunca vistos. Talvez não fosse mau que alguém (não é preciso nenhuma entidade, nem autoridade, nem alto comissariado, nem nenhum secretário), alguém de saber e de bom senso, investigasse os custos das edições escolares e perseguisse a especulação.
Como sempre, o socialismo adopta os vícios que o capitalismo pode gerar, da mesma forma que jamais entendeu as suas inegáveis virtudes. Não é um problema de gestão, é uma questão de mentalidade. As mal-formações congénitas do socialismo inquinam tudo em que se metem.
António Borges de Carvalho