A CAUSA DAS COISAS
O menos que se pode dizer da “análises”, mais ou menos socialistas, que por aí lemos sobre a crise financeira que começou nos Estados Unidos com a “quebra” da Freddie Mac e da Fannie May, é que relevam, ou de ignorante demagogia, ou de oportunismo sem escrúpulos.
Não acredito que muitos dos “analistas” que sobre o assunto se têm debruçado não saibam o que está na origem dos problemas. Sabem, mas como são politicamente engagés, têm que aproveitar a fácil oportunidade de condenar o “neo-liberalismo”, o liberalismo tout court, o senhor Bush, a economia ocidental, o mercado e, por consequência, os valores da democracia e da liberdade, económica e não só. Tais valores “como é óbvio”, são os culpados de tudo, a eles se somado os especuladores, o sistema bolsista, a falta de regulação e outros suspeitos do costume.
Ora a criação daquelas entidades, nascidas do New Deal de Roosevelt, correspondeu às preocupações sociais de que os anti-liberais dizem, ou usam, fazer bandeira, e não a quaisquer medidas liberais ou “neo-liberais”. Como, em época de crise, não era dado ao americano comum ter crédito, por falta de liquidez bancária, o governo federal criou os instrumentos sociais que as duas organizações “culpadas” representam. Em duas palavras, o governo comprou créditos aos bancos de forma a permitir-lhes ter uma intervenção mais “social”. É claro que, injectada liquidez, por um lado a economia reagiu favoravelmente, por outro os preços das casas (principal objecto dos créditos) subiram.
É simples. Não foram as medidas “liberalizantes” do senhor Bush quem causou a crise, mas as opções “socializantes” do senhor Roosevelt que atingiram o ponto de rotura. Retiradas do mercado as instituições mais ou menos públicas que sustentavam o que sustentável já não era, a cascata de dificuldades financeiras tornou-se imparável.
Não é por acaso que as medidas “estatizantes” que o senhor Bush propôs ao Congresso foram adoptadas com muito mais entusiasmo pela esquerda que pela direita. Em Portugal, tais medidas foram, quase unanimemente, consideradas como demonstração inequívoca do mau funcionamento do capitalismo liberal, que as tornou inevitáveis, e não como intervenção destinada a evitar as consequências sociais indesejáveis, ainda que a longo prazo, da intervenção do estado no sistema.
Depois… depois foi a gritaria contra a desregulação dos mercados, entregues à ganância e à ausência de escrúpulos dos operadores. Sendo evidente que a ganância e a falta de escrúpulos existem (onde não as há?), é-o também que, ao contrário do que dizem os “analistas”, não há país no mundo onde a regulação e a fiscalização sejam mais exigentes e eficazes que nos EUA.
Toda a gente o sabia, mas os “analistas” deixaram de o saber de um momento para o outro. O que está a dar está a dar, e é disso que vivem os “analistas” e a política socialista em Portugal.
28.09.08
António Borges de Carvalho