Floresta de enganos
Muito boa gente, insuspeita de simpatias socialistas , isto é, de simpatia pelo PS, anda para aí a louvar a coragem, a determinação, a frontalidade do senhor Pinto de Sousa (Sócrates), que toma medidas que ninguém mais foi capaz de tomar, que combate os privilégios das corporações, que diminui a despeza e aumenta a receita, um homem como deve ser, que domina o défice e vai cumprir as metas a que se comprometeu, enfim, um coro de louvaminhas pouco comuns.
Permito-me discordar. Nunca tive medo de estar na contra-corrente, e aceitei sempre pagar o preço que isso custasse. Na fase da vida em que estou, ainda por cima, já não pago preço nenhum.
Assim, deixem-me discordar à vontade.
No que ao défice diz respeito, a única verdade provada é a seginte:
Portugal, antigo bom aluno da Europa (consulado Cavaco) pôs as contas do Estado dentro dos critérios do pacto de estabilidade (défice até aos 3% do PIB). Veio Guterres, começou a gastar dinheiro como um doido, e ultrapassou os 3%. Uma desgraça. Veio Barroso, aumentou o IVA de 17 para 19%, vendeu umas coisas, fez umas “gestões” contabilísticas, e o défice voltou aos carris. Veio Santana e, sem aumentar fosse que imposto fosse, fez umas transferências, e ficou-se pelos 2,9%. Poderão dizer o que quiserem, poderão anatemizar as receitas extraordinárias, poderão odiar o senhor (Santana) à vontade (a esquerda é o que é, a direita, para tiros no pé, tem uma pontaria invejável), poderão dizer que a situação das finanças públicas era insustentável, que vinham aí dias terríveis, mas a verdade continuará a sê-lo, quer queiram quer não. O défice ficou abaixo dos 3%, continhas certas, devidamente aprovadas pelos ilustríssimos tecnocratas da UE! O resto são fantasias, elocubrações teóricas, exercícios de futurologia, ou puras aldrabices.
Veio Pinto de Sousa (Sócrates), e tudo mudou. Começou por inventar um défice da 6,83% - pura ficção – para agora vir dizer que o vai baixar para 4,6. Nunca será demais dizer que o que Pinto de Sousa (Sócrates) vai fazer, se o conseguir, é aumentar o défice de 2005 (2,9%) para os tais 4,6 , isto é, em vez de o diminuir, vai aumentá-lo em 1,7%, ou seja, em relação ao pacto de estabilidade, o défice de 2006 vai ultrapassar os critérios em nada menos que 57%!!!
Para chegar a este brilhante resultado, e a mero título de exemplo, o que fez o senhor Pinto de Sousa (Sócrates)?
- Aumentou o IVA;
- Aumentou os impostos sobre os produtos petrolíferos;
- Aumentou, via manobras diversas, o IMI;
- Baixou as pensões;
- Acabou com as isenções fiscais;
- Aumentou o IRS;
- Fechou maternidades, serviços de urgência, escolas…
- Diminuiu o investimento público;
- Declarou que só pagará a quem deve, se pagar, quando muito bem lhe der na gana,
e,
apesar de tudo isto,
é discutível que tenha baixado as despezas do Estado, havendo sérias dúvidas sobre se não as terá aumentado, e muito!
Tudo somado, continuam as boas e felizes almas a dizer maravilhas, que atacou as corporações, que se atirou aos “previligiados”, que moralizou a vida pública, que promoveu a ciência e a tecnologia, etc., etc..
Até se diz, e o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) é o primeiro nos megafones, que a economia está a crescer por virtude das corajosas, inteligentes e bem sucedidas medidas por ele tomadas.
Há quem confesse que o miserável crescimento da economia portuguesa se deve, exclusivamente, ao aumento das exportações. Mas falta quem sublinhe que, se assim é, e é assim mesmo, o crescimento se deve exclusivamente ao aumento da provura, via cresciemento dos clientes externos, não ao nosso!
Vivemos numa floresta de enganos, num mar de aldrabice, de “lata”, e de propaganda.
Quando é que as boas almas começam a perceber isto? Quando é que, fora do campo dos partidos comunistas (há três no parlamento), que atacam as medidas o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) por serem de “direita” (???), aparecerá quem clame que o rei vai nu?
António Borges de Carvalho