JORNALISMO
Um bom exemplo do jornalismo que se pratica em Portugal é a manchete do “Sol” – que o Irritado, com carradas de razão, trata por Sólcratres. Diz a coisa que “Governo envolve Ferreira Leite nos submarinos”, segundo-se “aval da líder do PSD, como ministra das finanças, à compra de Paulo Portas vai custar 700 milhões no défice de 2010”.
Este paleio inculca no espírito de quem o lê a sensação de que a compra dos submarinos é um acto de banditismo, assim como se Ferreira Leite tivesse, ela mesmo, aprovado a compra de cinquenta virgens de quinze anos para divertimento dos dirigentes do CDS.
Ao longo do tempo, seguindo a boa técnica leninista, a propaganda socretina tem vindo a propalar a não necessidade dos submarinos, ao mesmo tempo que instila suspeições sobre o processo. O Sólcrates trata, prestimosamente, de continuar este serviço. Não só a tal compra foi um erro, como, lá bem no fundo (não se diz, mas parece subliminar), dona Manuela está envolvida num negócio de contornos menos claros. Pelo menos, e isso é evidente, o Sólcrates, dizendo para se sangrar em saúde, que a iniciativa é do governo, textualiza a evidente incompetência da senhora, que assumiu compromissos que vieram comprometer o futuro de todos nós.
A coisa é tão bem urdida que ninguém poderá dizer que o Sólcrates “caluniou” a senhora: lá para o fim da peça, o jornal confessa que dona Manuela reduziu drasticamente a despeza prevista, que a compra foi “começada” por via de lei do governo socialista de Guterres, e que o problema financeiro surgiu em 2006, por virtude de uma mudança de regras contabilísticas imposta por Bruxelas. É preciso ler até ao fim para perceber de quem é a culpa de se ir inscrever a despesa no orçamento de 2010. Para a generalidade dos leitores, que lê os títulos e pouco mais, o que fica é que o governo, com carradas de razão, vai atacar a senhora por causa dos submarinos.
Jornalismo?
Na página 4, lê-se este mimoso título; “Sócrates dá a volta à crise”. Um destaque científicamente calculado para nos dizer que o primeiro ministro resolveu o assunto, só faltando subtitular que, por cá, devido à maravilhosa inteligência do senhor Pinto de Sousa, já não há crise nenhuma.
Na página 5, nos que estão na mó de cima, lá vem o senhor Pinto de Sousa, que, “no momento de reagir, fê-lo mais uma vez com rapidez e retomando a iniciativa política”. Maravilhoso, o senhor Pinto de Sousa!
Na mesma página, nos que estão na mó de baixo, lá vem a dona Manuela, a qual, em vez de mandar bocas sobre a crise, anda preocupada com o Kosovo. Horrível criatura,a quem o Sólcrates não reconhece quaisquer méritos, nem sequer o de saber mais de finanças que quatrocentos pintosdesousa ao quadrado!
Jornalismo?
13.10.08
António Borges de Carvalho