O PORTUGUÊS NO LIXO
Diz uma velha anedota que Dom Afonso Henriques, para segurar a independência, chamou os académicos do Reino e encomendou-lhes a concepção de uma língua tal que, fronteiras adentro, todos percebessem o castelhano, e que, do lado de lá, ninguém a entendesse.
Não terá sido assim, mas a verdade é que o resultado foi o mesmo. Não há falante de português que não perceba, e não fale, senão castelhano, pelo menos portulhano. Os falantes de castelhano, por sua vez, não percebem patavina do que nós dizemos.
É evidente, e só não o vê quem não quiser, que o português está a ser alvo de inúmeros ataques, dos quais o acordo ortográfico não é o menor.
Português para quê? Pois se o inglês é a língua universal, se, nos Estados Unidos, há milhões de falantes de castelhano, o português fica, residualmente, como língua de alguns africanos e de meia dúzia de asiáticos (o Brasil vai deixar de contar, como se verá abaixo).
Estamos habituados a ouvir isto, ainda que, como é natural, nos desgoste ver as nossas autoridades a deixar correr o marfim ao mesmo tempo que propagandeiam em sentido contrário.
Isto para assinalar uma nova machadada na língua, vinda do lado de lá do Atlântico, pela mão do Presidente Luís Inácio da Silva. Não contente com o acordo ortográfico, que outra coisa não é senão uma segunda independência do Brasil, o senhor Lula vai introduzir o castelhano como língua obrigatória do ensino oficial. Ou seja, uma vez linguisticamente independente, o Brasil não perde tempo, e toma as medidas necessárias para acabar com o português, ainda que a longo prazo.
Se é mais que evidente que os brasileiros não precisam para nada de aprender castelhano uma vez que, melhor ou pior, já o entendem, a nova medida do senhor Lula outro significado não pode ter.
Talvez se pudesse compreender esta surpreendente atitude se houvesse reciprocidade, isto é, se, por acordos internacionais, os países castelhanófonos da América do Sul introduzissem o português no seu ensino com a mesma dignidade que o Brasil vai dar à língua deles. Como não há reciprocidade nenhuma, o objectivo do senhor Lula não pode ser senão o de menorizar a nossa língua, almejando a sua extinção como grande objectivo do século XXI.
Aqui temos, gritante, a primeira grande consequência dessa traição à… língua que é o acordo ortográfico.
A ver vamos a reacção, ou a falta dela, da CPLP, do Instituto Camões e de outras inutilidades que para aí vegetam.
15.10.08
António Borges de Carvalho