O CRIME DO PADRE BASTOS
A começar pelo senhor Pinto de Sousa, passando pelo presidente Sampaio, e com milhares de aficionados, multiplicam-se as manifestações desportivas “de massas”, corridas, corridinhas, corridetas, a pé, de bicicleta, seja lá como for, que a “saúde” é que é bom e, dizem, depende de tais actividades.
Nada contra. Quem corre por gosto não cansa.
O pior é que manda o politicamente correcto que sejam postas à disposição dos tais aficionados instalações de utilidade pública, como estradas, ruas, pontes, etc. Aos aficionados não chegam os estádios, as matas, os descampados. Só correm no asfalto, que é mais cómodo.
A polícia, que, nos dias normais terá por missão regular a fluidez do tráfego nessas infra-estruturas, transforma-se em perseguidora de quem as quer utilizar, e em protectora dos corridistas. Os outros que se lixem. Que esperem. Que cheguem atrasados onde quer que vão. Nesses dias, tudo se inverte. Com enorme entusiasmo, refulgentes de alegria, os corridistas dão cabo da vida ao cidadão comum e são capazes de achar que, como o seu “saudável” exemplo, estão a prestar um serviço à comunidade.
Vem isto a propósito de um padre, de seu nome João Bastos, com oitenta e um anos de idade que, instado pela GNR a parar para que os corridistas pudessem divertir-se, não quis parar, nem parou, porque tinha os fiéis à espera dele para a missa.
O velhote meteu-se pela estrada, devagarinho, para não perturbar as correntes e ululantes massas. A GNR catrafilou-o. Anda cá malandro! A coisa acabou no tribunal, o velhote foi condenado a pagar 360 euros de multa, porque tinha perturbado os corridistas.
Nestes dias de privilégio corridista, está tudo de pernas para o ar: quem quer usar as infra-estruturas para o fim para que foram criadas, lixa-se. Quem as utiliza para se divertir à custa de quem delas precisa é um herói, merecedor dos maiores encómios e da devida protecção das autoridades.
Dir-se-á que se passa disto um pouco por todo o mundo. O que, para o Irritado, quer dizer que, em todo o mundo, a porcaria é a mesma.
20.11.08
António Borges de Carvalho