SEXOMANIA
Assisti ontem ao que, sem sombra de dúvida, foi o mais repugnante programa de televisão da história.
Uma “estreia” no “serviço” público de televisão. A nossas expensas, fornecido pela RTP2.
Um sexagenária oxigenada e esgrouviada entrevistava três meninas e três meninos, qual delas mais a feia, qual deles o mais bronco. Uma das pequenas usava umas botas de plástico branco, com saltos de meio metro, que fariam a inveja do guarda-roupa de qualquer pornógrafo.
Todos os entrevistados davam claros sinais de iliteracia. A sexagenária, por seu lado, requebrava-se em gestos, muito fina, as mãozinhas a ondular, com o ar de quem está a falar das coisas mais sérias deste mundo, da forma mais séria deste mundo.
Qual era o tema? Sexo! Mas não era um sexo qualquer. Instados repetidamente pela sexagenária, os meninos e as meninas foram unânimes: a juventude deve começar no truca-truca o mais cedo possível, e de forma “democrática”, isto é, as meninas truca-trucam com quem quiserem, quando quiserem. Os meninos também. Ter amigas ou amigos para o efeito, todos ao mesmo tempo, é uma maravilha. Tanto faz que os amigos das meninas sejam meninas como meninos. Tanto faz que os amigos dos meninos sejam meninas como meninos. Os desejos são para satisfazer, desde que haja parceiro. Se não houver, não faz mal. A masturbação resolve o problema. Até há quem a prefira. A pornografia, considerada pelo mais moderado dos meninos (um esteta!), como coisa em que se deve apreciar sobretudo “a arte”, é óptima para quem precise, ou prefira, masturbar-se. Casamentos de homossexuais, como é evidente, também fizeram a unanimidade dos meninos e das meninas.
Nada de contraditório, que nisto de rebaldaria não há quem seja contra.
A sexagenária rebolava-se no “écran”, com indisfarçável gozo. Gozo “intelectual”, como é de ver.
Há questões que podem ser sérias e interessantes, se tratadas com alguma “altura”.
Mas o primitivismo, a ignorância, a ausência de dignidade, a total falta seja de que parâmetros for, a negação do contraditório, não devia poder ocupar tempo de antena, muito menos em “serviço” público. Enfim, uma demonstração da mais miserável miséria intelectual. O canal da Play Boy, ao pé daquilo, parece a Academia das Ciências.
Ou me engano muito, ou não há “autoridade” que se ocupe destas matérias, nem “provedor do telespectador” que se pronuncie.
24.11.08
António Borges de Carvalho